quinta-feira, 1 de maio de 2008

Sentimentos de culpa vs. Ignorância

Anónimo disse: "O que é estranho neste texto, para além da obcessão malthusiana, é que ele podia perfeitamente ter sido escrito por Paulo Teixeira Pinto. Estará o Paulo Pedroso por acaso ao serviço de algum maquiavelismo social-darwinista? Esquece que nunca houve na Terra tantos paraísos naturais e ecológicos sob estreitíssima protecção nacional e internacional? Porque omite os progessos realizados nas últimas décadas ao nível da "engenharia climática"? Porque razão me hei-de sentir terrivelmente culpado de existir ao ler aos seus textos?"
(1 de Maio de 2008 02:13)
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Caro Anónimo,

Não sei porque razão acha que este texto poderia ter sido escrito por Paulo Teixeira Pinto. O que não deixa de ser estranho, isso sim, é essa acusação. Porque, ao fazê-la, você só está a redireccionar o incómodo que o meu texto lhe causa para alguém que representa certos grupos , certas classes e certas visões do mundo. No fundo, você continua a apontar o dedo e a ver a realidade metida em lógicas maniqueístas.

Pois olhe, não só não estou ao serviço de nenhum objectivo maquiavelista social-darwinista, e, desculpe que lhe diga, é ridículo pensar nesses termos, como estou, tão só a alertar as pessoas para os riscos que a sociedade moderna corre, como resultado dos excessos que nos temos permitido (excessos de liberdade de acção, que têm conduzido o planeta ao limite, excessos de igualdade económica, que têm levado o consumo a níveis estratosféricos, excessos de reprodução humana, que vão conduzir o planeta a tensões sociais, económicas, políticas, culturais e civilizacionais gravíssimas).

Era melhor ficar descansadinho e não dizer nada, não era? Continuar, como se nada se estivesse a passar. Além do mais, muito do que eu estou a dizer, já foi dito por autores consagrados e investigadores prestigiados.

A questão central deste novo discurso malthusiano não reside na possível falta de alimentos para uma população crescentemente voraz e exigente. Esse também é um problema importantíssimo e vai-nos causar muitas dores de cabeça nas próximas décadas. Mas, se quer saber, o grande problema que teremos de enfrentar e cujas consequências serão gravíssimas, tem a ver com o esgotamento do petróleo convencional.

Aconselho-o vivamente a ler apenas 4 livros:
- Uma verdade inconveniente (Al Gore)
- O Fim do Petróleo (James Howard Kunstler)
- Os Limites do Crescimento (Dennis Meadows)
- Seis Graus ( Mark Lynas)

Presumo que nenhum dos referidos autores partilha os valores e os princípios de Paulo Teixeira Pinto. Meter neste tipo de conversa a referência a esse senhor é apenas mais um sinal de que temos de nos preocupar a sério, tal é a mirabolante lógica que preside ao raciocínio humano dos nossos dias. Formatos há muitos!

Os imensos paraísos naturais e ecológicos só estão sob protecção porque o Homem arrasa tudo o resto. Se não destruíssemos avassaladoramente os ecossistemas deste planeta não teríamos necessidade de criar santuários. Mas, não me diga que você está à espera de garantir os recursos necessários à sobrevivência humana a partir do que restar nesses santuários? Sabe a que ritmo foi desflorestada a Europa? Sabe que área florestal tinha a Europa há tão só 1 século ou mesmo meio século? E sabe que estamos a destruir florestas tropicais a um ritmo assustador, tudo para satisfazer as nossas necessidades alimentares e providenciar matéria-prima para uma série de coisas como mobiliário ou papel?

Não me diga que, quando atingirmos o limite dos limites, acha que tudo irá correr bem porque nunca existiram tantos santuários ecológicos sob protecção?

E ainda refere os grandes progressos, das últimas décadas, ao nível da "engenharia climática". Mas quais progressos? Por acaso o Homem tem a capacidade mínima de controlar o clima mundial? Estamos, isso sim, a desregulá-lo a uma escala sem precedentes. Ainda não ouviu falar do aquecimento global? Entrou por um ouvido e saiu pelo outro? Ainda acha que está por provar que o aquecimento global é, efectivamente, o resultado da actividade humana? Já é consensual, entre a comunidade científica, que o aquecimento global é o resultado da actividade humana sobre este planeta. O clima, tal como o conhecemos, está em risco de colapsar a qualquer momento, podendo ultrapassar-se o limite a partir do qual deixaremos de reconhecer o clima planetário, devido à instabilidade, à desregulação, ao desequilíbrio e à intensidade de certos fenómenos.

Estiquemos um pouco mais a corda e poderemos ser os responsáveis pela interrupção da designada Corrente do Golfo, no Oceano Atlântico. E, se isso suceder (e olhe que já estivemos muito mais longe desse momento), pode dizer adeus ao clima tal como o conhece. Já imaginou a Inglaterra, a França ou a Espanha com Invernos semelhantes aos dos dos Estados Unidos ou do Canadá? Já imaginou a desertificação crescente, a diminuição dos recursos aquíferos, o derretimento das calotes polares, o aumento significativo dos níveis dos oceanos, o desaparecimento dos glaciares que garantem a sobrevivência a centenas e centenas de milhões de pessoas? E ainda o aumento contínuo das emissões de gases com efeitos de estufa, que provocam um aumento das temperaturas globais, intensificando as pressões humanas sobre os ecossistemas já de si frágeis. E o aumento impressionante de catástrofes naturais, como tornados, tempestades e furacões, que nunca tivemos registo de tantas como as observadas nos últimos anos (não só em quantidade mas, sobretudo, em intensidade e potência)? E agora, repare bem, até Portugal já tem os seus tornaditos!!! E os livros científicos que asseguravam que no Atlântico Sul não ocorriam furacões? Pois, parece que, recentemente, os livros tiveram de ser reescritos.

E tudo isto, devemos ignorá-lo, só para que você, assim como todos os outros consumidores-dependentes deste planeta, não se sintam mal. Vamos, então, continuar a ignorar os sinais e as evidências. Vamos continuar a consumir desenfreadamente e irresponsavelmente. Vamos continuar a assobiar para o lado e a enterrar a cabeça na areia, porque dá uma dor de cabeça terrível só por ter de pensar que, afinal de contas, não podemos continuar a esticar a corda. Vamos todos fingir que nada disto se passa e que está tudo bem.

É claro que poupamos uma dor de cabeça hoje. Mas o Homem vai continuar a querer mais e sempre mais. E, quando for visível aos olhos de todos, que somos demasiados para querer tudo o que está à disposição, nessa altura nem um milhão de toneladas de aspirina chegarão para lhe curar as dores de cabeça.

Por isso, deixe-se estar confortavelmente instalado no seu sofá, e faça o mesmo que muitos fizeram a Churchill: tape os ouvidos, para não se sentir mal, para não ser chamado à responsabilidade, para não ter o trabalho de fazer alguma coisa, para ver se continua a dormir, embalado na maravilhosa canção que é a nossa realidade.

Conhecer e compreender os riscos que temos de enfrentar é apenas o primeiro passo que todos temos de dar. Não é para que se sinta culpado. É para que deixe de ignorar a realidade, para que não diga que desconhece as causas dos problemas ou as consequências da actividade e das opções humanas. Porque só saberemos o que fazer se não formos ignorantes. As soluções só podem surgir quando conhecemos os problemas. Se vivermos na ilusão de que tudo está bem, se preferirmos enterrar a cabeça na areia, seremos apanhados pela mudança e não teremos compreendido nada. E, quando dermos o últimos suspiro, ainda estaremos a apontar o dedo a um qualquer Paulo Teixeira Pinto.

9 comentários:

Anónimo disse...

Caro Paulo Pedroso,

Vejo que estimulei a suaa escorrência sobre estes assuntos ambientais, os quais vejo que domina na perfeição ou seja, de acordo com a lógica Bilderberguiana vigente. Aconselha-me aliás a ler alguns trabalhos de referência, por sinal todos eles patrocinados pelo Clube de Roma, excepto o último de Al Gore que teve o alto patronínio de Bilderberg.

Não vou perder muito tempo até porque vejo que você está bem informado. Faço-lhe apenas esta pergunta: está você seguro de tudo aquilo que diz? Conhece por acaso as "tecnologias climáticas" de que falo? Acha que desde 1945 era só "tecnologias para o povo" e nada de muito mais avançado e excêntrico para os possidentes? Acha que depois de irem à lua a coisa ficava por ums passeios espaciais para pôr satélites em órbita? Meu caro Paulo Pedroso, não sendo você uma transfiguração do PTP, talvez fosse altura de pensar nisso. Você já viu o que fazia se tivesse 30% do urânio mundial em sua posse, e 30% do ouro e da platina? Já viu que a única coisa que atrapalha ao novo feudalismo é haver tanto "lixo humano", tanta divisão da propriedade? Já viu a chatice que é não poder gozar tranquilamente dos seus paraísos e tesouros naturais, estrategicamente conservados com o seu dinheiro e com o meu? Vamos Paulo, talvez você consiga pensar um pouco nisto e ajustar a sua opinião à Realidade!

metatheorique disse...

Caro Paulo,
E que tal colocar as referências completas dessas 4 obras para tentarmos encontrá-las e ver isso mais em pormenor?

Anónimo disse...

Depois de responder ao seu texti, reparei nos vários excertos de Slöterdijk que aqui foram postos muito oportunamente pelo metatheorique. Leia com atenção, meu caro Paulo o que diz por exemplo Slöterdijk em tres ocasiões:

1. Aquilo que, hoje, aparece como crise do universalismo iluminista é, de facto, a transição do estádio das alegorias genéricas humanistas para o de uma ecologia dura de inteligências locais;

2. Provavelmente, a maioria silenciosa mantém-se sempre fora do possível raio de acção dos grandes desastres. A isso acresce, na Modernidade, que os contemporâneos há muito que suportam outra vez a sua época como um acontecer fatídico, que não é susceptível de se atribuir a nenhuma vontade racional;

3. "Algumas perguntas são, agora, inevitáveis. A civilização alternativa precisa, pois, da catástrofe? Está, como às vezes se suspeita, secretamente de acordo com as catástrofes? Tem de estar dependente da calamidade, porque só esta cria um ambiente, no qual as ideias alternativas podem encontrar grande aceitação? É indispensável a catástrofe para que se inicie uma outra evolução, tal como pode ser indispensável uma mestra que acaba por convencer mesmo os ânimos mais renitentes da bondade das suas lições? Os homens precisam, finalmente, da catástrofe, porque têm de ser educados e só podem ser educados desde que passem pela escola do pior? Não estão, por consequência, as esperanças reais dos movimentos alternativos ligadas a cálculos de ensino pela catástrofe — tanto quanto é verdade que somente o ensino prático do que é mau pode iniciar uma viragem para o que é melhor?"

Paulo Pedroso disse...

Caro Anónimo,

Não sei se leu os meus textos anteriores sobre esta matéria. Se leu, já sabe que não estou a prever o futuro. Eu não estou a dizer, E MUITO MENOS A DESEJAR, que tudo isto suceda.

Estou a pegar em factos concretos (relacionados com a demografia humana, com a globalização, com a intensificação da exploração dos recursos do planeta, com a depleção dos recursos energéticos fósseis, a começar pelo mais importante de todos, o petróleo, com os efeitos e as consequências do aquecimento global, com as lógicas de raciocínio não-cosmopolitas que ainda vigoram, em todo o seu esplendor, em toda a parte, com o desconhecimento por parte da maior parte das pessoas das consequências do impacto humano no planeta, etc, etc, etc.), para alertar todos os leitores quanto aos riscos que corremos.

Você sabe que, se conduzir a 200 km/hora corre um risco muito superior ao de conduzir a 30 Km/hora. Sabe, e por isso, você sabe o que faz quando decide se deve conduzir a 30 ou a 200. Você até pode conduzir a 200 e sobreviver. Mas, a probabilidade de você ter um acidente e morrer é muito maior do que a probabilidade de você ter um acidente e morrer se conduzir a 30 km/hora, certo?

Se eu estou certo que tudo isto vai suceder? Não é nesse patamar que eu me encontro. Não se trata de afirmar que tudo isto vai suceder, de certeza absoluta. Mas, assim como eu não possso afirmar que tudo isto se vai passar de certeza absoluta, você, nem ninguém, pode afirmar que, DE CERTEZA ABSOLUTA, que não se vai passar nada disto.

Trata-se de saber se existe ou não a probabilidade de suceder. E se essa probabilidade for reduzida, nem por isso devemos deixar de a equacionar e de a compreender, em toda a sua extensão, porque o que está em causa é demasiado. E, se a probabilidade de isso suceder for moderada ou até elevada, devemos preocupar-nos ainda mais e estar mais atentos.

Não se trata de fazer a apologia do apocalipse. Não se confunda! Quando eu escrevo nos meus textos o TAG "Apocalipse", pode crer que ele significa tudo menos o que a Opus Dei defende, advoga ou acredita. Eu sou ateu, detesto todo o tipo de misticismo ou superstições. Por isso, quando falo na possibilidade de um apocalipse, não o faço em nome das teses dos Paulos Teixeiras Pintos. Não tenho nada, mas absolutamente nada, a ver com esses senhores.

Se eu estou seguro de tudo quanto digo? Que venha o primeiro que possa responder afirmativamente a essa sua pergunta, incluindo você próprio. Eu prefiro responder-lhe, como o velho e sábio Sócrates, dizendo-lhe que "Só sei que nada sei". Tenho muito a aprender e, felizmente, acho que sigo uma atitude de abertura relativamente à aquisição de mais conhecimento.

Depois, já disse que estou longe de desejar que tudo isto se concretize. Sucede que conheço, como presumo que você também conheça, a natureza humana. Acreditar na bondade humana é muito lindo, principalmente nos tempos de bonança. Mas, quando os tempos não são de bonança, é o egoísmo que costuma vir à superfície.

Para terminar, já que não sei a que tecnologias climáticas se refere, diga-nos, por favor. Até porque, pode crer, por muito que isso lhe pareça estranho, eu sempre fui um optimista e sempre acreditei na Ciência.

:-))

Paulo Pedroso disse...

Caro Metatheorique,

Sugiro que introduza os títulos e os nomes dos autores no motor de pesquisa do google e faça uma selecção de algumas das páginas.

O livro de Al Gore é, provavelmente, o mais simples de todos eles porque é uma versão literária do documentário homónimo que, já agora, também aconselho vivamente. Esta obra do ex-vice-presidentes dos EUA centra-se na questão do Aquecimento Global e dos seus efeitos sobre o clima, sobre o ambiente, assim como os seus impactos sobre a Economia e as sociedades humanas.

O mais importante dos 4 livros é o de Meadows (presumo que anda esgotado, mas há imensas referências sobre ele na Internet e deve ser possível de encontrar nas bibliotecas) - Os Limites do Crescimento. Este livro já tem algumas décadas de existência e integra muita da lógica do designado Clube de Roma.

O livro de Mark Lynas (Seis Graus) é apenas um dos muitos que poderia referir sobre as consequências e os impactos do aquecimento global. O autor apresenta, de forma muito clara, os riscos que enfrentamos.

Finalmente, O Fim do Petróleo, de Kunstler, é uma obra que aconselho MUITO VIVAMENTE a todos quantos queiram compreender as consequências da depleção dessa matéria-prima. Também há muitas referências na internet em torno desta obra. Leiam atentamente!

Referi essas 4 obras mas acho que todos nós devemos estar atentos ao que se passa. Tudo quanto possa ser lido sobre estas matérias (aquecimento global, depleção do petróleo, aumento demográfico, elevação dos padrões de consumo, etc.) não é demasiado para compreender os riscos que a nossa sociedade corre.

Estou longe de querer ser alarmista, catastrofista ou pessimista. Sempre fui optimista!

Mas, como diz Al Gore no seu "Uma Verdade Inconveniente", citando Mark Twain: "NÃO É O QUE NÃO SABEMOS QUE NOS CRIA PROBLEMAS. É AQUILO DE QUE TEMOS A CERTEZA E QUE AFINAL NÃO É ASSIM".

Ora, eu não tenho a certeza de que se aproximam tempos catastróficos. Mas aposto que não falta por aí gente que tem a certeza (e nem quer pensar no assunto) de que eles não se aproximam.

:-))

Paulo Pedroso disse...

Já agora, aconselho também a leitura de:

- "Petróleo: Qual Crise?" de José Caleia Rodrigues
- "A Geopolítica do Petróleo" do mesmo autor
- "Geopolíticas do Petróleo" de Philippe Sébille-Lopez

E, se tiverem tempo, analisem os dados publicados nos relatórios de Desenvolvimento Humano do PNUD, comparando demografia, níveis de rendimento, níveis de dependência energética, etc.

Anónimo disse...

Meu caro Paulo Pedroso: repare como nesses relatórios tudo é "macro", e nunca se fala por exemplo da distribuição dos bens e benefícios ambisntais! Não acha isso no mínimo estranho?

metatheorique disse...

thanks...

Anónimo disse...

Este Pedroso, anda com muita tusa para demonstrar ue é muito inteligente e que é um visionario.
Donde lhe vêm estas motivações?
Será agente de quêm?

Já que é muito inteligênte, diga-me se souber , quantas toneladas de comida dariam por época os terrenos avolta dos rios efradres e Tigre que os Paises ditos Ocidentais têm bombardeado incessantemente ?

Você sabe quantos hectares em Portugal de

área agricula estão abandonados ?