"Quando todas as possibilidades de tomar pedagógica a catástrofe tenham sido esgotadas e compreendidas no seu inevitável fracasso, ficam cortados os caminhos a esse reflexo, que faz história, da fuga para a frente. As forças, que produzem a catástrofe e, ao mesmo tempo, se querem pôr a salvo dela, acumulam-se de repente em si próprias. Não é o «salve-se quem puder!», mas o «conhece a situação!», que passa a ser o lema da época. Cria-se, assim, uma situação, em que a consciência pânica poderia transformar-se numa cultura. Antes disso, tudo se fica por um estilo Biedermeier com foguetões. Só o pânico vivido até ao fim liberta das ilusões didácticas; ele é a ponte para uma consciência que, até da catástrofe, já nada mais espera e, sobretudo, nenhumas revelações em matéria de crítica da civilização. A cultura pânica começa onde acaba a mobilização, enquanto fuga permanente para a frente. Por isso, a «história» de uma cultura pânica passar-se-ia num fim crónico da história; nela, os motivos cinéticos, que fizeram história até ao presente, seriam domados por uma cultura explícita, cujo esforço consistiria em impedir a irrupção de novos impulsos que fizessem história, em virtude do seu exacto conhecimento pós-histórico acerca da catástrofe resultante da mobilização histórica. Dessa maneira, uma forma de consciência até aqui esotérica, que na gíria espiritualista se chama iluminação, passaria a ser um assunto público. Numa civilização pânico-extática, populações inteiras praticariam o acto que, anteriormente, apenas era executado por alguns indivíduos isolados: o salto da consciência para o fim dos tempos, no meio do tempo, e a saída do sujeito para fora da causalidade da fuga e da esperança. Assim, a cultura pos-histórica do pânico seria a única alternativa à civilização da mobilização histórica que, mesmo agora, ja não tem historia à sua frente, mas apenas uma contagem decrescente".
Slöterdijk, P. (2002 [1989]). A Mobilização Infinita. Para uma crítica da cinética política. Lisboa: Relógio d'Água, pp. 85-86, (Orig.: Eurotaoismus - Zur Kritik der Politischen Kinetik, Surkamp Verlag Frankfurt am Main, 1989)
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