Das coisas que me parece serem mais tristes e perversas em Portugal é estarmos constantemente a querer esconder o Sol com a peneira. Vem na sequência de se ter noticiado que uns polícias estariam a trabalhar para detectives privados, algo que, como é noticiado era do conhecimento de todos, apenas foi, agora, noticiado; ao que parece por motivo de uma denúncia motivada pela inveja de não conseguirem todos fazer o mesmo.
Algumas questões se levantam… desde logo os serviços gratificados… pergunto não serão, em si, já a negação do próprio dever policial? Não serão, desde logo, aceitar que para haver segurança tem que haver dinheiro para pagar a protecção policial que deveria ser paga pelo Estado? Pois claro que sim, qual é a diferença de ser um banco ou um supermercado a pagar ou um detective particular? São várias, em primeiro lugar, e mais grave, o Estado não come nada, pagassem eles boas maquias em impostos a ver se já não era tudo legalizado e fomentado… em segundo, é melhor pago, menos chato e perigoso e não se tem que esperar pelo fim do mês para ver as garras das finanças a devorarem o trabalho de árduas horas… Mas há ainda outra questão não menos grave, se um homem ao fim de oito horas de serviço for fazer mais seis, legais ou não, estará a trabalhar mais do que deve, não podendo, pelo menos ao fim de uns tempos, responder da forma mais eficaz às solicitações que uma profissão difícil e desgastante tem, nem poderá dar o devido apoio à família, nem descansar, etc., etc.
Poder-se-á ser levado a pensar que é um problema dos polícias… Não é, é um problema de um país, em que os salários são tão miseráveis que estas práticas são, não só necessárias, como a própria tutela já conta com elas, o que as legitima… O professor ganha mal? Mas pode dar umas explicações, o amanuense camarário ganha mal? Mas o pato bravo dá-lhe uns trocos para as coisas andarem mais depressa lá dentro, o fiscal ganha mal, mas o mesmo pato bravo completa-lhe o salário para que ele feche os olhos aqui e ali, o jardineiro da câmara ganha mal? Mas depois trata de uns jardinzitos particulares, o empregado de mesa ganha mal? Mas tem as gorjetas e dá umas facaditas no patrão quando este se distrai, o médico atende mal na caixa ou no hospital porque ganha mal? Mas tem o consultório, etc., etc., etc. Todos nós sabemos como as coisas são e ninguém parece ralar-se muito com isso… o pior é que quanto mais se sobe na hierarquia pior é a corrupção e maiores são as verbas a despender… um presidente de câmara, um deputado, um secretário de estado ou um ministro ganham mal? Mas eles não parecem queixar-se, nem viver mal…
Portugal é assim, todos o sabemos. Um país de corruptos e corruptores com salários miseráveis, mas que ‘se vai safando,’ com o velho chavão: isso arranja-se eu falo lá com um gajo… Só que enquanto isto durar e não derem a todos a possibilidade de terem uma vida digna, fruto do seu trabalho, Portugal será um país a fingir, doente e sem qualquer esperança de futuro, encurralado na própria estrutura que criou.
Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
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