sexta-feira, 18 de julho de 2008

Carta de Capri: Os Romanov

Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
(Nota: este texto chegou através de um telégrafo de´"époque", especialmente utilizado pelo Czar Nicolau II, para saber as novas da Frente, na terrível I Guerra Mundial, e é da autoria de Arrebenta, no seu exílio de Capreia. Será a sua última contribuição neste espaço)
Dedicado a uma família do Séc. XX, os Romanov, abatidos à queima-roupa, após um prolongado sequestro, no longínquo ano de 1918
Há certos aniversários que me desagradam. Gosto de jantares de convívio, de pessoas que se reencontram, para trocarem umas quantas mentiras e umas quantas verdades, entre elas, e, acima de tudo, para celebrarem estar vivas. Este é um aniversário de gente que já está morta. De gente que foi morta, portanto, é a dura celebração de uma data aziaga, e faço-a a contragosto, tão-só por que tem mesmo de ser feita.
A história é facilmente resumível: havia um senhor, Judeu, chamado Lenine, que, comodamente sentado na Suíça, resolveu experimentar, numa terra que tinha um pé no Séc. XX e o outro na Idade Média, pôr em prática uma série de ideias de um tipo que batia na mulher, e vivia à custa dela, chamado Karl Marx, e que nem era estúpido no que dizia, mas, como muitas coisas na História da Humanidade, mais valera que nunca tivesse nascido. Quando perguntaram a Lenine por que não tinha aplicado na Suíça o seu projecto, consta que deu a cínica resposta de "para quê estragar um país tão bonito?..." O que ele fez acabou, mais coisa menos coisa, por estragar a Europa inteira, e duas vezes num mesmo século, a um tal ponto de nihilismo, que, não fosse e a velha Albion e a tão detestada América, talvez não pudéssemos estar a escrever uma única linha do que por aqui fazemos.
A Revolução Francesa, um jogo entre invejosos, sonhadores e maçónicos, acabou por culminar num julgamento "à la mode", onde resolveram atirar para a guilhotina, uma coisa bastante arcaica, perante os métodos de Guantanamo e os prazeres turcos, iranianos e chineses, e, mercê de um julgamento em forma de farsa, um Rei que era um pacato Burguês e uma mulher que só errou no século em que nasceu: fosse hoje viva, e seria a alegria de todas as capas das revistas cor-de-rosa, e teria ganho fortunas, em vez de ter dilapidado as fracas reservas do Tesouro Francês.
O que sucede em 1918 é infinitamente mais sinistro: é um acto premeditado, da Idade Contemporânea, do tempo da Luz Eléctrica, dos Carros, dos Telégrafos, do Cinema, e exercido, sem julgamento, sobre uma famíla inteira, chamada Romanov. Consta que perdeu o Povo, quando, no célebre episódio de São Petersburgo, mandou, por medo, disparar contra a multidão. O mesmo fez uma figura infinitamente mais medíocre, entre nós, quando se assustou com uma ponte, e a coisa era tão miserável que os espingardados de ontem, o reelegeram depois. Povos e povos, mentes e mentes, agachamentos e agachamentos.
Lembro-me nas minha infância, de folhear alguns livros proíbidos, onde aprendi a conhecer, em todos os pormenores fisionómicos, as caras dessa malograda família. Muitas vezes as interroguei, como esfinges, mas as fotografias de outrora são exactamente isso, esfíngicas, e irremediavelmente mudas. Não por acaso, escolhi a de hoje, a da pose impenetrável de um grupo de gente bonita.
A História da Rússia é uma sucessão ininterrupta de crimes, nos quais se insere, às mil maravilhas, todo o rosário de desventuras da Famíla Romanov, mas eu vou abreviar, e vamos já voltar à noite do crime, que é uma banalidade que todos os dias hoje ouvimos na televisão: um bando de sicários, encarregados da negra tarefa, acordou uma família do Séc. XX, encostou-a a uma parede, e disparou, sem piedade. Entre eles, estavam vários jovens, um dos quais se chamava Alexei, e era doente crónico. Depois de cumprida a macabra tarefa, enterraram os corpos onde calhou, e vieram bramar para a História que a Tirania estava extinta.
Não estava: este acto foi apenas uma das Bucetas de Pandora de todo o Séc. XX: o pior estava ainda para vir, e ganhou corpo nos fácies de alguns dos maiores criminosos que o século passado produziu. Por pudor, não porei os seus nomes aqui.
Resta acrescentar que um dos mortos, o mais ilustre, se chamava Nicolau, e tinha a função, por direito divino, de ser Czar de Todas as Rússias. Desde então, as terras que governou tornaram-se no património do Czar de Todas as Mafias. Pelo meio, estão milhões e milhões de mortos, que não poderemos esquecer, e este é o sentido único, e subliminar, deste texto.
Que a Paz possa finalmente pairar sobre as suas e as nossas almas.

7 comentários:

Nuno Castelo-Branco disse...

Pois é, foi apenas o acto inaugural para o assassinato de 80 milhões. No entanto, o trapinho vermelho ao pescoço tudo parece santificar. Aqui fizeram o mesmo, 10 anos antes e nem por isso, o parlamento aceitou votar uma moção de condenação do acto. Ficámos elucidados: segundo a de-putação nacional, é legítimo matar o chefe do Estado em plena rua, conspirar para derrubar um regime democrático e fabricar bombas para liquidar opositores partidários. Ainda bem que ficámos avisados...

hkt disse...

Talvez, o czar possa agora ter a sua pequena vitória, sobre a história. Vale o que vale mas, ele está muito perto de ser escolhido como o "grande Herói russo" num programa que a TV russa está a realizar. A vitória sobre Lenin parece-me adquirida, resta o outro carniceiro de nome Estaline.

Anónimo disse...

É o que acontece quando se instaura a suposta democracia que segundo eles só pode existir com uma república.

Cidadão do Mundo disse...

Ena tantos reaccionários FAXOS por aqui......calma que os comunas não comem criancinhas...ignorantes fascistas !!!!

Vá façam lá a vossa censura seus porcos !!!!

Opus Dei disse...

Aqui nunca houve censura: só tarados a comentar.
Mas os tarados podem ir comentando: faz parte da cidadania e da censura do Mundo :-)

estóico disse...

Os Romanov eram uns monarcas muito conscienciosos e amados pelo povo, sim senhor. O czar de todas as Russias mandou o exército russo atacar os alemães, em 1914. No meio da maior penúria de abastecimentos, da fome, na frente e nas cidades, da falta de munições e do caos na logística, num país sumamente atrasado e muito longe da potência que é hoje, o que é que queriam que acontecesse? Que os soldados continuassem, felizes e contentes, a dar vivas à monarquia, enquanto caíam como tordos, ante a incúria e a cegueira do regime? Isso seria uma impossibilidade histórica. Em Novembro de 1917, Lenine e Trotsky nada teriam conseguido sem a participação entusiástica dos soldados e oficiais de baixa patente do exército do czar, bem como das populações urbanas. Aqui, como na Rev. Francesa, não há conspirações malévolas a mover as coisas, mas apenas forças sociais e económicas que atingem um ponto de ruptura.

Na geologia, a tensão entre duas placas tectónicas leva à acumulação de energia que depois se liberta de repente, originando um terramoto e/ou um tsunami. Pois, na sociedade, o fenómeno é semelhante.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.