sábado, 10 de maio de 2008

Patamares das Verdades Inconvenientes


Parece-me importante começar hoje por clarificar alguns aspectos laterais, tendo em conta a natureza das minhas anteriores publicações. Seria importante, antes de mais nada, que todos os colaboradores e leitores do Braganza Mothers tivessem em conta um facto relevante: nada, mas absolutamente nada, do que tenho escrito ultimamente, pode ou deve ser interpretado como uma crítica pessoal a esta ou àquela pessoa, ao seu modo de vida ou às suas escolhas pessoais. Se, por acaso, alguém se sentiu atingido pelos meus discursos frontais sobre os consumistas estilos de vida dos nossos tempos, bem que pode esquecer por completo essa perspectiva, porque não estou aqui para criticar ninguém pessoalmente. A minha posição não é moralista, não é anti-materialista, não é anti-consumista, não é anti-hedonista. E se, por algum momento, julgou que as minhas palavras soavam à repetição de discursos de cariz religioso (moralista) sobre os estilos de vida de cada qual, está muito enganado porque não é esse o propósito que orienta estas publicações.

Se por acaso sentiu que era o “alvo” das minhas palavras, bem que pode sair desse patamar e prestar uma maior atenção a questões menos mesquinhas e um pouco mais elevadas. Apesar dos meus discursos interpelarem cada um dos meus leitores com perguntas sobre as suas opções pessoais, o objectivo concreto de semelhante interpelação destinava-se exclusivamente à necessidade de cada um de nós perceber que, para além das questões que tanto nos preocupam diariamente, há outras, escondidas por detrás delas, bem maiores, bem mais graves, bem mais merecedoras da nossa atenção e do nosso empenho.

Se sentiu que as minhas palavras lhe eram dirigidas, como uma crítica pessoal, bem que pode esquecer essa perspectiva. Digamos que o lugar onde escrevo estas palavras não se situa na varanda do seu vizinho mas sim na Estação Espacial Internacional. Estou-me a borrifar para as escolhas de cada um e para a vida que cada um leva. O meu problema tem a ver com as opções da Humanidade no seu todo e não com o que cada um faz ou deixa de fazer. Tem a ver com as consequências da multiplicação desmesurada do consumo num contexto real de quadruplicação da população mundial no período de um século (1950-2050) e não com a crítica a esta ou àquela pessoa.

Não se tratava, pois, de criticar o seu estilo pessoal de vida mas si de o levar a reflectir sobre factos que, provavelmente, nunca questionou. Eu não tenho nada contra o facto de você (quem quer que seja você) querer discutir moda, as actuais eleições no PSD (ou amanhã as de qualquer outro partido), as eleições nos EUA, as diatribes de Sócrates, o défice orçamental, o Papa, a ministra da educação, o mundo do futebol, os McCann, a Casa Pia, ou até outros assuntos de natureza mais esotérica como as teorias da conspiração, os Bilderbergs ou os Priorados de Sião. Cada um é livre de escrever o que quiser sobre os assuntos que muito bem entender. No entanto, pessoalmente, quando vejo as pessoas discutir e preocupar-se com certos assuntos da actualidade (às vezes de forma particularmente intensa), só me parece que se assemelham ao casal que discute acesamente qual a estação de rádio que devem sintonizar, enquanto conduzem um carro a 200 Km/hora em direcção a um precipício. E, quanto mais se aproximam do abismo, mais discutem o acessório e menos se preocupam com o essencial.

É óbvio que você pode dizer que eu estou completamente errado. Que não há nenhum problema decorrente do esgotamento próximo do petróleo. Que isso do Aquecimento Global são lérias. Que é indiferente este Planeta ser habitado por mil milhões de habitantes ou por 100 mil milhões. Ou ainda que é indiferente este Planeta ter 600 milhões ou 6000 milhões de habitantes com padrões de consumo elevados. Você até se pode convencer que não estamos perante ameaças gravíssimas. Eu diria que, quem assim pensa, só se quer enganar a si próprio. Prefere enterrar a cabeça na areia, fingir que o problema não existe, que não é grave e que não exige muito de todos nós. A atitude de negação das actuais ameaças sobre a Humanidade é, tão só, apenas um sinal de irresponsabilidade, de miopia e de autismo.

Num dos meus anteriores textos, um anónimo perguntava-me se eu tinha a certeza sobre tudo o que estava a antecipar. Eu já disse que certezas não tenho, não posso ter e nem as quero ter. E muito menos desejo que as minhas incertezas se confirmem. Mas reparem bem que, quando alguém se interroga quanto às minhas certezas, apenas parece desejar respirar de alívio quando eu respondo que não as tenho: “Ufa, que alívio! Afinal de contas o Paulo Pedroso não tem a certeza. Já posso dormir descansado porque isso quer dizer que as catástrofes que ele prevê já não vão ocorrer”. Parece-lhe mesmo as minhas incertezas são garantia de que não se aproximam tempos terríveis? Acha mesmo que as minhas incertezas são razão suficiente para você ficar com a certeza absoluta de que não existem ameaças à escala mundial? Ou seja, perguntam-me se eu tenho a certeza de que se aproxima o horror mas não se interrogam quanto à vossa certeza de que ele não se aproxima?!!!

E não confundam o mensageiro das más notícias com as más notícias. Não se comportem infantil e arbitrariamente como os reis que mandavam degolar os mensageiros das notícias desagradáveis. Penso que as próximas décadas poderão ser muito complicadas para a Humanidade. Mas, por favor, suba uns patamares, ponha a fasquia um pouco mais alta e deixe de pensar que eu desejo esses tempos e essa realidade. E ainda menos que estou ao serviço de entidades “demoníacas” porque leituras dessas são para aqueles que preferem uma realidade simples, com todos os itens bem classificados e metidos em gavetas estanques.

Acha que os seis milhões de judeus exterminados pela besta nazi teriam ficado, impávidos e serenos no mesmo sítio, se soubessem em 1938 o que iria ocorrer nos campos de concentração nos anos seguintes? Se alguém os tivesse avisado, antes de 1939, quantos teriam acreditado que a Alemanha seria capaz de semelhante barbárie? Provavelmente, muitos deles teriam recusado a ideia de que Hitler fosse capaz de semelhante solução. “Não – diriam – Hitler odeia os judeus mas não pode ser tão monstruoso ao ponto de assassinar dessa forma famílias inteiras. Não, nos tempos que correm, genocídio semelhante é impensável. Exterminar assim milhões de pessoas? É impossível!” E continuariam, muitos deles, convencidos de que não se aproximavam tempos terríveis. Mas, se tivessem tido a oportunidade de ver para além da cortina de fumo do dia-a-dia, quantos deles não teriam largado tudo e por todas as formas não tentariam escapar a tempo às garras do nazismo? Se, em vez de se preocuparem com o preço da batata e em vez de se concentrarem com a vida do clube local de futebol, tivessem vislumbrado o sentido mais profundo e terrível da marcha da História, quantos não teriam alterado radicalmente o destino das suas vidas e da dos seus familiares?

Ao longo da História da Humanidade, já se ergueram e já desabaram imensos reinos, impérios, religiões e civilizações. Pelo caminho, milhões de seres humanos foram passados a “fio de espada” pelo rumo do devir Histórico. Quantos desses milhões terão desejado enfrentar as mudanças e, principalmente, as consequências dessas mudanças? Quantos terão sido capazes de antecipar as ameaças que se aproximavam? E quantos puderam fazer alguma coisa? Enquanto apontavam o dedo acusador a qualquer coisa à frente do nariz, não vislumbravam as verdadeiras causas que se escondiam por detrás da fumaça e que explicavam a natureza, o tipo e a intensidade das mudanças. E você, vai continuar a focar os objectos que se encontram à sua frente ou vai definitivamente focar o horizonte?

Os textos que tenho publicado não reflectem preocupações de agora. Já me venho interrogando, há muitos anos, sobre as consequências para a Humanidade do fim dos recursos energéticos fósseis, dos efeitos do aquecimento global e do aumento desproporcionado da população. Confesso que, durante muitos anos, depositei grandes esperanças quanto à capacidade da Ciência dar resposta a estas questões. No que diz respeito à questão energética, por exemplo, desejava profundamente que a Física Nuclear fosse capaz de alcançar a produção rentável de energia através da fusão nuclear. Os especialistas diziam, há uma década atrás, que talvez fosse possível alcançar esse objectivo em meados do Século XXI. Hoje, dizem-nos que, na melhor das hipóteses, só nos finais do Século XXI e, não são sequer capazes de assegurar o seu sucesso. Se a Fusão Nuclear, economicamente rentável, fosse alcançada, grande parte do problema energético da Humanidade estaria resolvido, embora não deixássemos de nos deparar com os problemas decorrentes do Aquecimento Global ou do sobrepovoamento planetário.

A propósito de Aquecimento Global, quantos dos meus leitores foram ao cinema ver o documentário “Uma Verdade Inconveniente” de Al Gore? Isso de ir ao cinema é só para entreter? Gastar 5€ por um bilhete de cinema para ver um documentário é coisa que não lhe passa pela cabeça? Pois, se viu, espero que tenha aprendido alguma coisa. Se não, ainda está a tempo de alugar o DVD no clube de vídeo. E, se tiver filhos ou netos, deve ir a correr alugar esse documentário.

Apesar de nunca ter escrito nada de especial sobre estes assuntos, as questões ambientais constituem uma preocupação pessoal importante desde há muito tempo. Os sinais de que se aproximam tempos conturbados são, para mim, cada vez mais visíveis e tornam-se progressivamente mais nítidos. Você pode escudar-se, dizendo que isto é pânico, insegurança, discurso teleológico, apologia do apocalipse, catastrofismo, negativismo, enfim, pode negar à vontade. Eu deixo-o apenas com uma pergunta: tem a certeza que estas ameaças não são reais? Esta é uma pergunta que eu posso responder facilmente: não posso adivinhar o futuro mas, SIM, tenho a certeza de que estas ameaças são bem reais. Só não tenho a certeza quanto à capacidade da Humanidade para as compreender, para as discutir, para as enfrentar e, principalmente, para as superar. O primeiro passo para as superar depende de como as enfrentamos. O primeiro passo para as enfrentar depende de como as discutimos. O primeiro passo para discutir estas ameaças depende se somos capazes ou não de as compreender em toda a sua dimensão, poder e magnitude.

Já agora, nunca ouviu dizer que, “quem te avisa, teu amigo é”?

22 comentários:

Anónimo disse...

Paulo Pedroso: o único problema dos seus textos é não haver neles o mínimo vestígio de justiça. Fazia-lhe muito mais falta referir John Rawls do que Al Gore. E como já lhe disse anteriormente, o que você tem escrito podia ser publicado em qualquer jornal ou revista do sistema, para gáudio dos editores e de quem (muito bem) lhes paga. Você esquece que a Greenpeace, a WWF, a Globe International, o IUCN, e as nossas Quercus e Geotas não são mais do que agentes ao serviço de Bilderberg (as nossas ONG nem disso se calhar sabem, pois julgam que a massita cai do céu...), visando reduzir a população inútil do planeta (cerca de 90%) mas matando-o por amos à humanidade e ao planeta. Andar no fio da navalha é o seu desafio, e desgosta-me que o Paulo Pedroso não consiga falar, por exemplo, das tremendas desigualdades ambientais existentes no planeta... Um dia você vai ver que andou a pagar para conservar as "zonas protegidas" e os "santuários da natureza" onde os paulos teixeiras pintos & sucessores vão ter (alguns na realidade já têm e outros sempre tiveram) os seus soberbos palácios. Devia também falar desse senhor semideus, o Al Gore, cuja factura anual de electricidade anual chegava para abastecer a cidade de Bissau por um mês, no mínimo. Desculpe pois que lhe diga, mas você que parece ser inteligente não tem o direito de desconhecer isto de que falo, e muito menos o direito de tentar fazer de mim burro.

Bom fim-de-semana.

Paulo Pedroso disse...

A demagogia, de facto, não tem limites!!!

Então agora quer comparar a factura energética ANUAL de Al Gore com os consumos mensais de Bissau? E porque não compara a SUA própria factura energética ANUAL com a factura energética semanal de um bairro de Bissau?

Está muito interessado em apontar o dedo a Al Gore? E não se ponha com conclusões precipitadas que eu não estou a defender o Al Gore e muito menos a fazer a apologia de semelhantes desigualdades.

Estou, isso sim, a apontar-lhe a si o facto de reparar no cisco no olhos dos outros e não ver a trave no seu próprio olho. Já se esqueceu que, nas minhas anteriores publicações, eu perguntei quem estava disposto a reduzir os seus patamares de consumo, em nome da igualdade à escala planetária?

Você aponta o dedo à factura energética de Al Gore mas quer-nos fazer crer o quê? Que a factura dele corresponde à média dos EUA? Acha que a sua factura energética é idêntica à factura energética de Belmiro de Azevedo ou à factura energética do Palácio de S. Bento?

Deixe-se de demagogias baratas!

Quando iniciei estas minhas publicações comecei por apresentar um ou dois textos de carácter introdutório onde referi que iria aflorar questões complexas sob os pontos de vista ético e axiológico. Se, até agora, lhe parece que não há, nos meus textos, "nenhum vestígio de justiça" é porque não posso falar de todas as questões em simultâneo.

É de uma perfeita idiotia e de uma tremenda ignorância pensar que é possível viver no Planeta Terra com tudo destruído excepto uns "santuários" destinados a garantir a sobrevivência de alguns. Referir semelhante barbaridade é desconhecer por completo o funcionamento da Biosfera, do Clima Terrestre e a complexidade do dinamismo ambiental mundial. E não, não estou a falar de Gaia!

Para terminar, deixo-o com a conclusão óbvia que é possível retirar das suas últimas palavras: se você conclui, a partir das minhas palavras, que estou a fazer a apologia do extermínio da Humanidade, que eu desejo o genocídio de milhares de milhões de seres humanos, que eu estou a escrever contra os crescimento económico das Economias Emergentes, então, meu caro, não sou eu que faço de si burro. É você que faz de si próprio muito burro. Deixe-se de leituras superficiais e leve o seu barquinho para o alto mar. As coisas são mais complexas do que essas respostas simples que você encontrou sobre Bilderberg e sei lá eu quantas mais teorias da conspiração.

As ameaças estão aí, quer você goste delas (se calhas julga que eu gosto delas, não?), quer não. Falar de Justiça é muito lindo enquanto não são os seus direitos a ser atingidos. Você quer justiça mas não através da redução da bitola consumista do mundo desenvolvido, do qual você faz parte, mas sim levando a sua bitola consumista a todo o mundo. Já que diz estar preocupado com a justiça, diga-me que justiça prevê você para os povos do Mundo quando se acabar o petróleo, dentro de 4 décadas? Tem por aí soluções na manga? Será que a Coreia do Norte "inventou" uma nova fonte energética nestas últimas décadas de "orgulhosamente sós"?

O tipo de irresponsabilidade que você continua a defender é aquele que lhe entregará em mãos a encomenda que você não quer receber. Se, e quando isso suceder (e eu espero que não suceda), não se esqueça de continuar a apontar o dedo sem ter percebido nada de nada.

PS: Também é verdade que a solução mais óbvia, por parte de Bilderberg, é avisar previamente a população da aproximação de um extermínio à escala mundial. Normalmente é o que fazem todos os assassinos!!! Enviam uma carta registada com aviso de recepção à vítima, indicando o modo, o local e o momento em que serão assassinados.

Anónimo disse...

A Arte do Ventriloquismo!

Anónimo disse...

Como ex-retornado te asseguro, paulito:
Nos bons tempos do colonialismo a minha peidola dava energia a um quartier inteiro de palhotas, lá no cabuletê di benguela.

Paulo Pedroso disse...

Imagino que sim, Mugabe!

A tua peidola devia entusiasmar bairros inteiros. Os patrões já sabiam que, com a tua peidola à disposição, os trabalhadores tornavam-se mais rentáveis.

e-ko disse...

É EVIDENTE QUE SE ALGUÉM PRETENDE DETER A VERDADE SOBRE COMO REDUZIR O AQUECIMENTO GLOBAL TEM DE TER UM MÍNIMO DE COERÊNCIA NAS SUAS OPÇÕES DE VIDA E DE MODO DE CONSUMO PARA NÃO VIR, MAIS TARDE OU MAIS CEDO, ALVO DE GRANDE CHACOTA...

COMO SE DIZ, BEM PREGA FREI TOMAZ... E NÃO SÓ OS CONSUMOS DE ENERGIA DO NOBEL AL GORE DEVEM SER CRITICADOS - O QUE A MAIORIA DOS AMERICANOS GASTA NÃO DEVE SER UMA REFERÊNCIA PARA O DESCULPAR - COMO DEVE, AINDA, SER DENUNCIADO OUTRO ASPECTO QUE A ENORME MAIORIA DESCONHECE... A MAIOR RESPONSABILIDADE QUANTO AO EVENTUAL PROBLEMA DO AQUECIMENTO GLOBAL VEM DA PRODUÇÃO DE CARNE PARA UMA POPULAÇÃO QUE NÃO PRETENDE REDUZIR ESSE CONSUMO MESMO QUE DO PONTO DE VISTA DA SAÚDE ISSO FOSSE IMPRESCINDÍVEL... O QUE AL GORE NUNCA ABORDOU NAS SUAS INTERVENÇÕES... E PORQUÊ? SIM, PORQUÊ?... MUITO SIMPLESMENTE PORQUE PERTENCE A UMA FAMÍLIA DE ABASTADÍSSIMOS CRIADORES DE GADO... QUE A SUA CARREIRA POLÍTA SE DEVE A ESTE SECTOR DE ACTIVIDADE!!!!

Anónimo disse...

Caro Paulo Pedroso,

"que justiça prevê você para os povos do Mundo quando se acabar o petróleo, dentro de 4 décadas?"

Até lá a indústria automóvel, por exemplo, há-de poôr a circular por exemplo os carros eléctricos que tirou do mercado para ajudar os amiguinhos das petrolíferas...



Tem por aí soluções na manga?

Façam como eu: ando a pé, vivo numa aldeia, crio galinhas e semeio batatas. E não estou a brincarr Sigo o conselho do poeta António Aleixo:

Quem trabalha e come
Não come o pão de ninguém.
Mas quem come e não trabalha
Come sempre o pão de alguém.

António Aleix

Tento não comer o pão de ninguém.


Será que a Coreia do Norte "inventou" uma nova fonte energética nestas últimas décadas de "orgulhosamente sós"?

Paulo Pedroso disse...

Cara E-ko,

Lamento, mas não é de todo verdade que o maior problema sobre o "EVENTUAL" (!!!???) Aquecimento Global tenha a ver com a produção de carne.

O Aquecimento Global está a resultar da conjugação de muitos factores relacionados com a actividade humana, como o uso massivo de transportes pessoais e colectivos, como a produção industrial massiva para alimentar os elevados níveis de consumo, com a produção de energia a partir de fontes emissoras de gases de efeitos de estufa.

A produção de carne é apenas mais uma actividade humana. Será responsável de uma pequeníssima ínfima parte dos gases de efeito de estufa.

Por acaso sabe a que ritmo têm sido construídas centrais de produção de electricidade a partir do carvão?

Nunca reparou nos dados técnicos dos veículos automóveis as indicações sobre a quantidade de Dióxido de Carbono que emitem? É só multiplicar os efeitos pelos milhares de milhões de veículos automóveis que circulam no mundo inteiro e ver os dados.

Já no passado coloquei a questão: os níveis de qualidade de vida existentes na União Europeia não são muito inferiores aos dos EUA. Quando apontam o dedo aos elevados consumos dos EUA e os comparam com as "Bissaus" desse mundo fora, porque razão não fazem contas comparando os consumos energéticos da União Europeia?

E depois, quando chegarem à conclusão que as desigualdades são quase tão assustadoras como as que gostam de evidenciar entre os EUA e o resto do Mundo, vão ser coerentes e vão defender a redução dos patamares consumistas na União Europeia?

Estou mesmo a ver estes europeus a dizer que sim, que têm de reduzir a sua factura energética, em nome da igualdade mundial, estes mesmos europeus que passam a vida a reclamar por mais direitos, mais salários, mais férias, mais turismo, mais de tudo um pouco.

E para que é que querem mais de tudo um pouco? Para consumir, obviamente, que o dinheirinho não se fez para enfiar no colchão. Por isso, toca de consumir. Vamos todos consumir.

E, claro, como os europeus não querem reduzir os seus patamares de qualidade de vida, os seus níveis de vida (aliás, não sejamos hipócritas, aspiram ardentemente por ter os mesmos patamares de qualidade de vida dos Norte-Americanos), a solução é aumentar o consumo de energia, de bens e de serviços para todos.

Sim, é claro que a energia é uma coisa inesgotável. É só esticar o braço e apanhar um pouquinho de energia.

Basta consultar um astrólogo para sabermos que andam por aí energias "positivas" e energias "negativas". É só deitar a mão ao ar e enfiar no depósito do automóvel.

Não, eu não gosto das diferenças existentes a nível mundial. Mas, comparar a factura energética anual de Al Gore com o consumo mensal de uma pequena cidade do 3º Mundo é demagógico.

Será que o consumo energético anual do Palácio de Belém não é também ele superior ao consumo energético mensal de Bissau?

Paulo Pedroso disse...

Caro Anónimo,

Pois, lamentavelmente, eu não estou a analisar o seu caso pessoal. Estou-me a borrifar para as soluções individuais quando elas estão longe de ser o padrão. O problema mantém-se, quer você viva numa metrópole, quer você viva no fim do mundo. O que interessa, para esta questão, é o padrão da Humanidade.

E, neste momento, não só a população mundial está a crescer desmesuradamente, como está a tornar-se cada vez mais citadina. Até agora ainda não falei desse problema (lá está, não posso falar de tudo em simultâneo), mas um dos problemas mais graves a enfrentar, nas próximas décadas, decorre precisamente do crescimento das populações urbanas (que consomem enormes quantidades de energia na construção de habitações e infraestruturas, para além da satisfação das necessidades logísticas de alimentação e consumo de bens e de energia).

E, se você anda a pé, ainda bem. Lamentavelmente eu não estou preocupado com as pessoas que andam a pé. Estou a pensar no que vai suceder quando se esgotarem os recursos energéticos fósseis com o petróleo em primeiro lugar.

Ainda bem que acredita em soluções milagrosas. As fontes produtoras de energia eléctrica da actualidade já estão a rebentar pelas costuras para satisfazer as necessidades actuais de consumo doméstico e industrial. Quando o planeta tiver, daqui a algumas décadas, mais uns quantos milhares de milhões de seres humanos com elevados patamares de consumo, a electricidade vai cair do céu?

O sr. não percebeu o gráfico que apresentei sobre o consumo energético? Cerca de 80% das ACTUAIS necessidades energéticas da humanidade são garantidas por energias não renováveis (fósseis).

Quando se esgotarem as energias fósseis você vai construir uma barragem em cada regato, vai instalar uma ventoínha em cada planalto e vai ter um painel solar em cada quintal?

E, mesmo que o faça, está mesmo convencido que tudo isso irá ser capaz de satisfazer as necessidades de consumo elevado não de mil milhões de pessoas, mas sim de 4 mil milhões?

Uma coisa é você ter tecnologia para deslocar um carro a electricidade. Outra, muito diferente, é você conseguir electricidade para alimentar o carro.

Informe-se mais e leia mais. Olhe que a electricidade não cai do céu.

PS: já se esqueceu que os fertilizantes que garantem os actuais elevados níveis de produção cerealífera mundial, são feitos a partir de fontes energéticas fósseis?

Anónimo disse...

Paulo Pedroso,

Os seus "gráficos", já lho disse, são "macro".

E que soluções tem você para o problema, que não passem pela Hecatombe humana?

Você aceita a Hecatombe? Então se eu ando a pé, reciclo, consumos produtos ecologicamente sadios, o qyue é que me resta fazer? Morrer, não é...pois é.

e-ko disse...

"Par leurs pets et leurs rots, les vaches contribuent davantage au réchauffement climatique que l'ensemble des autos et des camions. L'élevage de ces bovins constitue même l'un des plus grands fléaux environnementaux de la planète, selon l'Organisation mondiale pour l'agriculture et l'alimentation (FAO).

La digestion de ces bêtes laisse en effet s'échapper un important gaz à effet de serre (GES), le méthane. Or ce gaz, beaucoup plus toxique que le CO2, figure au troisième rang des principaux responsables des changements climatiques.

«L'élevage est un des premiers responsables des problèmes d'environnement mondiaux aujourd'hui et il faudrait y remédier rapidement», selon Henning Steinfeld, porte-parole de la FAO et coauteur du rapport.

L'agence de l'ONU montre du doigt notre appétit grandissant pour la viande et les produits laitiers pour expliquer que l'élevage émet, à lui seul, 18 % de tous les gaz à effet de serre (37 % du méthane lié aux activités humaines). Le transport représenterait un peu plus de 12 % des émissions de GES, selon diverses sources.

Or le bétail cause non seulement le réchauffement climatique, mais aussi une grave dégradation des terres et des eaux. À l'heure actuelle, le quart des surfaces émergées de la terre sont occupées par les pâturages (20 % sont victimes de surexploitation). Pis encore, le tiers des terres arables ne sont utilisées que pour nourrir le bétail.

Pas surprenant, les animaux laitiers et de boucherie constituent aujourd'hui le cinquième de toute la biomasse animale terrestre, selon la FAO.

Dans un contexte où l'on s'attend à ce que la consommation de viande et de lait double d'ici 2050, la FAO tire la sonnette d'alarme. «Le secteur du bétail est aujourd'hui l'un des deux ou trois plus grands responsables des pires problèmes environnementaux de la planète. () L'impact est si grand qu'il faut y remédier de façon urgente», note-t-elle dans ce rapport de plus de 400 pages.

Dans son rapport, l'agence ne blâme aucun pays en particulier, même si le nom des plus importants exportateurs, dont le Canada, revient souvent. Les éleveurs de bovins du pays ont atteint un record l'an dernier lorsque le nombre de leurs bêtes a dépassé les 17 millions. Il a depuis baissé légèrement en raison de l'ouverture de la frontière américaine.



Que faire?



Pour réduire l'ampleur du problème, l'Organisation fait une liste de recommandations qui s'adressent autant aux consommateurs qu'aux agriculteurs et aux gouvernements. En gros, la FAO estime que l'impact environnemental de l'élevage du bétail doit être réduit au moins de la moitié, ne serait-ce que pour éviter que le problème s'aggrave.

Les auteurs suggèrent également une réduction de la consommation de viande, laquelle est appelée à passer de 229 à 465 millions de tonnes d'ici la moitié du siècle si rien n'est fait. Cette recommandation vise principalement les pays occidentaux (un Américain consomme en moyenne 123 kg de viande comparativement à 5 kg pour un Indien).

«Les impacts de l'élevage pourraient être fortement diminués si la consommation excessive de produits animaux parmi les pays riches baissait», soutient-on.

On suggère aussi de modifier l'alimentation des animaux pour réduire la fermentation qui crée le méthane, de construire des usines de biogaz pour recycler le fumier et de s'attaquer au problème de la contamination de l'eau.

Il faut savoir que 8 % de l'utilisation humaine de l'eau sert en fait le bétail. Cette eau est principalement destinée à l'irrigation des cultures servant à l'alimentation des bêtes.

En plus d'avoir une grande influence dans la disponibilité de l'eau, ce secteur agricole est une grande source de polluants de cette ressource. Citant les chiffres américains (en l'absence de statistiques mondiales), la FAO déplore que l'élevage soit responsable de 37 % de l'utilisation de pesticides et de 50 % de celle d'antibiotiques, des produits qui se retrouvent en grande quantité dans l'eau.

À ce titre, l'Organisation recommande aux gouvernements d'appliquer le principe du pollueur-payeur et de rendre financièrement responsables de ce problème les propriétaires de troupeaux. Elle suggère aussi d'augmenter le coût des ressources (terre, eau, etc.), lequel ne traduirait pas actuellement leur limitation.

L'empreinte écologique du bétail

- 18 % de tous les gaz à effet de serre
- 37 % du méthane lié aux activités humaines
- 26 % des surfaces émergées de la terre
- 33 % des terres arables
- 8 % de l'eau utilisée par l'homme

La consommation de viande est appelée à doubler d'ici 2050."

daqui: http://www.cyberpresse.ca/article/20061207/CPSCIENCES/612070732/5032/CPACTUALITES

para informação noutras línguas, é só pesquisar no google... mas em português só sites e artigos brasileiros... assim se explica algum desconhecimento sobre o assunto...

http://www.conpet.gov.br/comofazer/comofazer_int.php?segmento=&id_comofazer_serie=95

Nuno Castelo-Branco disse...

Pois é, Paulo, ficamos esmagados pela sua longa argumentação que para mim, parece ser imbatível. Só não vê o que se está a passar quem não quer e os sinais são de tal forma alarmantes e globais, que poucas ou nenhumas hipóteses temos de os contrariar, se as autoridades nada fizerem, mesmo que de forma coerciva. Ninguém recicla! Vivo num prédio de 8 andares em pleno centro de Lisboa - ao marquês - e sou o único que se dá ao trabalho de levar o "lixo" reciclável aos contentores próprios. O único! O desperdício atinge as raias do ridículo e as empresas do ramo alimentar são responsáveis pelo desbaratar de preciosos recursos. Por exemplo, compramos um pacote de Nestum, cujos flocos se encontram dentro de um plástico, por sua vez acondicionado dentro de um pacote de cartão. Multiplique isso por biliões de pacotes em todo o mundo... É um exemplo ridículo, não? No entanto, é sintomático de uma situação insustentável.
Tudo aquilo que tem dito é pouco e só peca por falta de audiência. Há quantos anos anda o Telles a falar aos peixinhos? Ainda esta semana esteve em Lisboa Carlos XVI e teve exactamente o discurso que já ouvi ao Carlos Windsor e ao Telles. Será que ficamos só NÓS, uma espécie de D. Quixotes do século XX-XXI?

Unknown disse...

Eu, por exemplo, engulo os preservativos todos daqueles que querem usar. Andam numa maré de poupança... Qualquer dia, tenho um nó na cloaca :-)

Anónimo disse...

Pedroso és um boçal anjolas com a presunção de que és inteligente hehehe

katrina a gotika disse...

Sim, aproximam-se tempos terríveis.
Paulo Pedroso escusa de maçar-se. A única razão porque não foi investido mais em energias alternativas foi porque convém vender petróleo. Enquanto houve petróleo para vender a bom preço as coisas não vão mudar.
Depois sim, mudarão.

Agora quanto às vacas. O meu francês está muito mau mas acho que ainda descobri que:
"La digestion de ces bêtes laisse en effet s'échapper un important gaz à effet de serre (GES), le méthane. Or ce gaz, beaucoup plus toxique que le CO2, figure au troisième rang des principaux responsables des changements climatiques."
... os gases das vacas ou de quem as come são os responsáveis pelo aquecimento global? Isto depois da Revolução Industrial e de todas aquelas chaminés a deitarem fumo durante dois séculos? Foi isto que eu li?... É que não se pode acreditar em tudo o que se lê na internet.

e-ko disse...

claro que não se pode acreditar em tudo o que se lê na internet e, diria que não só na internet mas, também nos orgãos de comunicação social que também veiculam as teses de grupos ou lobbys que, com o aval de alguns científicos (cientistas) que delas dependem (ah, pois, também esses andam atrás do mesmo e mesmo nesses não se pode acreditar sem podermos verificar!) do ponto de vista financeiro... esta questão do aquecimento global é muito mais complexa que o que nos dizem Al Gore e quem suporta as teses que defende... sobretudo quando se sabe que o prémio nobel da paz recebe por cada conferência que faz pelo mundo 150.000 dólares e que mente por omissão ao não mencionar que a produção de gado para carne e leite é um factor muito importante para o aquecimento global (como já disse, a sua família está no sector e a esse sector deve a sua carreira política) mas também para o aumento de afectação de terras aráveis ao secteur agropecuário para a produção de forragens e aí temos a informação do artigo canadiano em francês, que não necessita um grande conhecimento da língua para que se perceba, mas que vou traduzir:

"L'empreinte écologique du bétail

- 18 % de tous les gaz à effet de serre
- 37 % du méthane lié aux activités humaines
- 26 % des surfaces émergées de la terre
- 33 % des terres arables
- 8 % de l'eau utilisée par l'homme

La consommation de viande est appelée à doubler d'ici 2050."

a pegada ecológica do gado:

- 18% de todos os gases com efeito de estufa;
- 37% das emissões de metano de todas as actividades humanas;
- 26% na ocupação de todas terras emergentes;
- 33% das terras aráveis;
- 8% da água utilizada pelos humanos;

O consumo de carne verá o seu consumo subir para o dobro até 2050.


tentar desvalorizar este aspecto só pode ser o resultado da desinformação de que somos alvo e nestas questões antes de nos lançarmos de corpo perdido na defesa das teses que se vão tornando mais visíveis devemos analisar todas as outras; como no caso das teses do aquecimento global... mas voltarei sobre a questão que merece uma informação mais ampla para além de todas as ideias preconcebidas!

Paulo Pedroso disse...

Vamos por partes que passei 24 horas sem visitar estes belos prados! :-))

Cara E-Ko,

Eu sei muito bem o que queria dizer sobre a questão do gado bovino. Não apresentou nenhuma novidade. O que eu disse, e mantenho, é que não é a produção animal A principal responsável pelo Aquecimento Global.

Vamos a ver se nos entendemos: o metano exerce um efeito de estufa 5 vezes maior do que o dióxido de carbono. Por isso é que é apontado como um dos principais gases de efeito de estufa. No entanto, as emissões globais de metano, comparadas com as emissões globais de dióxido de carbono, são perfeitamente ínfimas. Não estou a dizer que não são importantes para o acumular do efeito de estufa. Estou a dizer que as quantidades de metano libertadas para a atmosfera são uma quase insignificantes quando comparadas com as emissões de dióxido de carbono. É essencialmente ao dióxido de carbono (produção de energia, produção industrial, consumo de energias fósseis - carvão, petróleo e gás natural) que se devem os efeitos de estufa. Gases como o metano só vêm intensificar e piorar esses efeitos, já que cada molécula de metano exerce um efeito de estufa 5 vezes superior ao de cada molécula de dióxido de carbono.

Há outros gases de efeito de estufa mas, de facto, o maior de todos eles, aquele que está efectivamente a provocar alterações climáticas significativas, é o dióxido de carbono. Por isso, lamento, mas continuo a dizer que não é verdade que o aquecimento global se deva, EM PRIMEIRO LUGAR, à produção animal.

Eu diria mesmo mais: o Aquecimento Global deve-se essencialmente, E EM PRIMEIRO LUGAR, ao consumo animal. Só que, neste caso, refiro-me, como me tenho referido nos meus anteriores posts, ao consumo do Animal Humano. Não apenas do consumo de carne e de produtos lácteos, mas sim ao consumo de tudo: dos alimentos ao vestuário, do mobiliário aos electrodomésticos, dos meios de transporte aos recursos energéticos, etc.

Resumindo, essa história do metano das vaquinhas, já eu sabia há muito tempo. Mas, para não ficarmos todos no desconhecimento convém perceber, de facto, a verdadeira origem das coisas.

:-))

e-ko disse...

Paulo,

devemos ter feito os nossos comentários ao mesmo tempo e não pudeste ler o meu antes de fazeres o teu;

é assim, não contesto que as actividades humanas são um problema para o equilíbrio cada vez mais precário do planeta em que vivemos e, também eu conhecia a questão do metano do gado mas não conhecia os estudos da FAO e os números evidenciados no meu comentário anterior... mas tens que reconhecer que esses números são mais do que alarmantes, e repito:

a pegada ecológica do gado:

- 18% de todos os gases com efeito de estufa;
- 37% das emissões de metano de todas as actividades humanas;
- 26% na ocupação de todas terras emergentes;
- 33% das terras aráveis;
- 8% da água utilizada pelos humanos;


encontra-se mais informação independente, como para a questão dos OGM, sobre estas assuntos, em francês do que em inglês; posso, se quiseres enviar-te algumas coisas sobre tudo isto, só tens de enviar-me um mail para pedir; não vou pôr-me a enviar-te referências sem mas pedires.

Paulo Pedroso disse...

Caro Anónimo (10 Maio - 17:26)

Só reparei na sua interpelação depois de ter escrito a resposta à colega E-KO, por isso desculpe a falta de precedência. :-))

Bem, eu sei muito bem que os meus gráficos são "Macro". Mas, desculpe que lhe diga, não estamos a falar do Planeta Terra por inteiro, da população mundial por inteiro, dos efeitos da actividade humana sobre o clima e das consequências de uma população crescentemente voraz?

Tal como lhe disse anteriormente, não é o seu caso particular, ou o caso particular de uma qualquer comunidade indígena no Amazonas, que impedem que estas ameças estejam presentes. Elas estão presentes à escala mundial decorrentes dos efeitos acumulados da actividade de milhares de milhões de seres humanos.

O impacto de um ser humano, apenas um ser humano, que viva numa grande metrópole, não é significativamente diferente do impacto de um ser humano, apenas um ser humano, que viva no fim do mundo.

O que conta, isso sim, é o resultado agregado de milhares de milhões de indivíduos. Dos seus estilos de vida, dos níveis de consumo que têm, etc.

E não, eu não estou, de maneira nenhuma, a criticar o seu modo de vida. Antes pelo contrário. Pessoalmente valorizo bastante, aplaudo e aprecio as suas opções pessoais de viver perto da natureza, de garantir o seu sustento com o que a terra produz ao pé de si, de se deslocar a pé. Tudo isso é nobre, responsável e valorizável, principalmente num mundo como o nosso onde tudo parece querer correr à velocidade da luz e consumir de tudo um pouco.

Você coloca-me uma questão muito importante: se eu tenho alguma solução alternativa, para além da hecatombe. E, para além disto, ainda me pergunta se eu aceito a hecatombe.

Pois, lamento, mas eu não estou aí. Não, eu não aceito a hecatombe e ainda menos a desejo. Se tenho soluções? Não sei se as tenho.

Mas repare bem que, neste momento, estou seriamente preocupado com a necessidade de alertar as pessoas, de passar a mensagem que nos metemos todos numa encrencada monumental com esta dependência dos combustíveis fósseis num quadro de aumento populacional desmesurado.

Eu não estou a apresentar soluções... Pelo menos por enquanto. Até porque, se quer que lhe diga, as soluções não podem surgir da varinha mágica de uma pessoa. As soluções só podem surgir, EFECTIVAMENTE, quando a maior parte das pessoas tomar consciência da existência destas ameaças (que nem sequer são as únicas - repare que ainda não falei de muitas coisas como o terrorismo, o militarismo, os desafios e as dificuldades que os Estados vão ter de enfrentar, etc. - lá está, não posso falar de tudo de uma só vez, não é?).

Pergunta você seu eu aceito a hecatombe ou se tenho soluções para além dela. Você já reparou que eu escrevo sobre a existência destas ameaças e muitos dos meus leitores abrem a boca de espanto, como se isto fosse uma novidade?

NÃO, eu não aceito a hecatombe. E estou longe de achar que é essa a única solução. Mas, se não fizermos primeiro um trabalho de divulgação, se abrirmos os olhos às pessoas, elas vão andar por aí, entretidas com as suas "pequenas" questões quotidianas, a exigir tudo e mais alguma coisa e a barafustar por tudo e mais alguma coisa, sem perceber o que realmente está a acontecer.

Você mesmo (porque presumo que seja o mesmo anónimo - já agora, porque não assume um nick qualquer?) disse que estava à espera do carro eléctrico quando se esgotasse o petróleo. O que você parece desconher, assim como a maior parte das pessoas, é o facto da energia não ser uma coisa que está ali à-mão-de-colher.

A maior parte das pessoas ATÉ parece que sabe que o petróleo está a esgotar-se a olhos vistos, mas parece completamente despreocupada com isso. Sei lá, quando acabar, alguém há-de inventar uma solução. Você falou do carro eléctrico como se a electricidade fosse uma coisa abundante que se apanha no meio de um arbusto.

O problema é mesmo esse: pessoas que estão convencidas que a energia não tem de ser produzida e que essa produção não tem um custo elevadíssimo quando as capacidades de produção são bastante inferiores às necessidades de consumo. E é isso mesmo que suvederá quando o petróleo de esgotar, e ainda mais quando se esgotar o gás natural e o carvão.

Nessa altura, as energias eólica, nuclear, geotérmica, solar, hídrica, etc, não serão capazes de responder às necessidades de milhares de milhões de pessoas.

Por isso, neste momento, não estou preocupado em "aceitar" ou "advogar" a hecatombe. É que a hecatombe pode vir a ser uma das alternativas infelizes. Mas, se a queremos efectivamente evitar, temos primeiro de fazer entender às pessoas os verdadeiros riscos e as verdadeiras ameaças que enfrentam.

De outra forma, vai continuar tudo distraído... Até ao dia em que a hecatombe lhes bata à porta. E, tal como tenho dito, nesse dia, não faltaraão aqueles que continuarão distraídos a apontar o dedo numa qualquer direcção, sem terem percebido nada de nada. Ainda hoje, as alminhas de muitos milhões de vítimas achas que os deuses os abandonaram quando as suas civilizações foram engolidas pelo devir da História.

Que a incapacidade dessas alminhas, para perceber efectivamente o que se estava a passar, não seja a nossa, é o que eu espero!

:-))

Paulo Pedroso disse...

Caro Nuno,

Lamentavelmente, parece que há muita gente que ainda quer fechar os olhos à realidade dos factos. Há mesmo quem os queira ignorar propositadamente, apenas e só porque perceber a realidade implicaria um importante questionamento ético, axiológico e ideológico.

Mas parece-me que é esse mesmo o desafio que teremos de enfrentar.

E tens toda a razão quando dizes que um dos problemas mais graves decorre do desperdício.

Um dos paradoxos mais aberrantes deste nosso mundo tem a ver com os muitos desperdícios de que somos responsáveis. Consideramo-nos a mais inteligente das espécies e, no entanto, desperdiçamos, de uma forma terrível, matérias-primas, mercadorias, bens, ecossistemas, o planeta e, principalmente, vidas humanas.

E é por isso que eu digo que, por este andar, isto vai tudo a caminho da hecatombe de que falava o Anónimo. Quando ninguém quer abrir os olhos e todos querem enterrar a cabeça num brinquedo qualquer, dificilmente poderemos evitar a hecatombe.

:-))

Paulo Pedroso disse...

Karíssima Lola,

Sabe de quem é a culpa, sabe?

A culpa é toda sua! Sim, toda sua!

Porque você é uma prostivaca monumental e passa a vida a arrotar doses massivas de metano depois da sua boca atender os seus intermináveis clientes.

:-))

Paulo Pedroso disse...

Cara Gotika,

Eu, a si, devo-lhe uma palavra muito especial e um pedido de desculpa muito sincero.

Tenho lido as suas interpelações nos meus textos anteriores e nunca lhe tenho respondido. Não me leve a mal e acredite que não foi com intenção de a ignorar.

Os meus textos não são de carácter moralista ou dedicados à crítica da vida de esta ou daquela pessoa. Estou seriamente preocupado com a confluência de uma série de acontecimentos e julgo necessário fazer um alerta urgente sobre essas ameaças.

Também espero que, quando o petróleo se esgotar, outras soluções sejam encontrdas. Mas, será que podemos continuar simplesmente a acreditar que uma qualquer "solução milagrosa" vai surgir do nada? Será que, nesta altura do campeonato, ela não deveria ser já evidente aos olhos de todos? Não deveríamos já estar a trabalhar, à escala mundial, na criação de uma economia baseada em soluções alternativas?

E, sim, se procurar literatura sobre o assunto, verá que as vaquinhas são responsáveis pela emissão de gases de efeito de estufa mas não são as principais responsáveis como muita gente nos quer fazer crer.

:-))