sábado, 3 de maio de 2008

O mundo vai continuar a mudar com a televisão

Em 1980, existiam apenas 5 aparelhos de televisão, por cada mil habitantes da China, ou seja, deviam existir um pouco menos de 5 milhões de aparelhos para uma população total de 999 milhões. Em 2004, já existiam 350 televisões por cada mil habitantes da China. No período de um quarto de século, a China passou de pouco menos de 5 milhões de televisores para 458 milhões!!!
Recordam-se quando, numa das minhas anteriores publicações, falei sobre a pirâmide de necessidades de Maslow? De certeza que ninguém vai comprar uma televisão quando as suas necessidades mais básicas estão por satisfazer. Ora, se os Ocidentais querem ter mais (rendimentos mais elevados, mais e melhores casas, mais e melhores carros, mais e melhor turismo, mais e melhor alimentação, mais e melhor de tudo um pouco), não sei porque razão os restantes povos do mundo não podem aspirar à satisfação das mesmas necessidades!? Nós não somos mais do que eles, certo? Quando um português sente fome, não tem sensações diferentes das de um chinês na mesma circunstância. E quando um português saliva desalmadamente porque deseja um BMW, não sente nada de diferente de um chinês que quer o mesmo.
O problema mesmo é quando apanhamos pela frente pessoas, como o ditador do Zimbabué, que gostam muito de contas de dividir mas que se esqueceram de ir às aulas no dia em que a professora primária deu essas matérias. De facto, há imensa gente de Esquerda que passa a vida a atirar pedras contra a Globalização. Mas tem sido a Globalização que tem aumentado significativamente os rendimentos de centenas de milhões de pessoas no Mundo inteiro. Dizem os combatentes da Esquerda mais profunda, que a Globalização explora os povos do mundo. No entanto, em nada se distinguem dos neo-liberais no que diz respeito ao uso dos limitados recursos do Planeta Terra. Enquanto o neo-liberalismo explora até à medula os recursos do Planeta, a mais sinistra das Esquerdas continua a proclamar que devemos elevar os patamares de consumo para todos os habitantes da Terra, sem se importarem minimamente se a divisão está a ser feita por mil, por um milhão ou por cem mil milhões. Uns e outros, à Direita e à Esquerda, querem usar este planeta como se ele fosse descartável.
Pois, NÃO É!
Há mais inveja no sangue do Homem do que hemoglobina. Tudo, em nós, funciona com base no que os outros têm. Se os outros têm, eu também quero! Ainda muito recentemente, estive ao telefone com um amigo que me contou como um conhecido nosso criou um pequeno negócio e já se andava a passear num Porsche. E, dizia o meu amigo ao telemóvel: "Porra, Paulo, já viste? Até aquele tipo já anda num carrão??!!" Não há nada de errado nesta pergunta, pois não? Você nunca estabeleceu padrões (mesmo que inconscientemente) sobre o estatuto de muita gente com base no veículo que conduzia? A imagem, a percepção que fazemos da condição social de uma pessoa, passa por questões como a marca, modelo e tipo de carro(s) que possui, a casa que habita, as marcas que veste e calça, enfim toda uma panóplia de materialidades.
Se você puder comprar um carro de alta cilindrada de uma marca de prestígio, prefere gastar o seu dinheiro num veículo de média ou pequena cilindrada de uma marca corrente? De certeza que há pessoas assim, mas a maioria, podendo comprar um BMW série 5 não compra um Peugeot 307. Se aquele seu vizinho, que você detesta, aparecesse com um carro novo, topo de gama, você não ficava todo roídinho de inveja, mesmo que não o confessasse?
Todos desejamos um mundo mais igualitário, mas temos de perceber que, com os recursos finitos do Planeta, ou somos, no máximo dos máximos, 2 mil milhões e talvez possamos andar todos em Peugeots 206, ou somos 9 mil milhões e teremos todos de andar de carroça.
E você, preferia ter um BMW na garagem ou 1000 BWVs na estante?

2 comentários:

Anónimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=Q2CkojafE0E

katrina a gotika disse...

"Há mais inveja no sangue do Homem do que hemoglobina. Tudo, em nós, funciona com base no que os outros têm. Se os outros têm, eu também quero! "

Esta é uma visão demasiado portuguesa que envenena a restante lucidez do artigo. De facto não, nem todos os povos do mundo são assim invejosos. Nem nos norte-americanos, com um conceito de comunidade que não nos passa pela cabeça, e muito menos os asiáticos com um espírito de sacrifício de que nem me atrevo a esboçar os contornos, tal é a minha ignorância.

Viver mais devagar, "slow food", regresso às origens, são ideias que já andam por aí. Acho que estou a ver finalmente onde o Paulo Pedroso quer chegar. (Estou?)
É claro que não se pode pedir a um português que não inveje o Porshe do vizinho (pelo menos enquanto não se alterar o paradigma cultural, o que leva séculos) mas temos que levar em conta essa pequenez e ao que ela reduziu o povo comparada com a expansão de outras sociedades que referi. Tentar ver a globalização por uma perspectiva portuguesa, pior ainda, liberal e bloquista portuguesa, além de olhar para o umbigo, é não ver mais do que a inveja do tal Porshe. É que aqui não há mais nada para ver.
Também posso dar um exemplo. Já tive um tipo a tentar interessar-me no facto de ter o telemóvel mais caro do mercado (ou seria da marca)? Não funciona com todos os portugueses. Ainda há quem tenha juízo.