Já que “gostam” tanto do Paulo Teixeira Pinto e do Opus Dei, e até há quem pense que eu ando ao serviço deles, coisa que eu só faria se fosse o maior masoquista da História da Humanidade, vamos a um pequeno exemplo ilustrativo sobre questões de Igualdade.
Imaginemos que o Paulo Teixeira Pinto tem uma família numerosa, daquelas cuja apologia o Opus Dei tanto faz. Bem, o Paulo Teixeira Pinto tem 10 filhos, mas eles encontram-se em diferentes estádios de Desenvolvimento Humano: o filho mais velho é aluno universitário; depois seguem-se 2 filhos a estudar no 3º Ciclo do Ensino Básico; finalmente, os restantes 7 filhos, estudam no 1º Ciclo do Ensino Básico.
Ora, o Paulo Teixeira Pinto, como "bom" patriarca que é, decidiu pagar aos seus filhos uma mesada correspondente ao nível de Desenvolvimento Humano em que cada um se encontra, tendo em conta as necessidades e as exigências sociais, económicas e culturais que cada patamar exige. Assim, o estudante universitário, que já possui um elevado grau de autonomia na gestão do seu tempo e das suas actividades, além de ter elevados padrões de necessidades a satisfazer (livros e material académico, transportes, alimentação, vestuário, concertos, teatro, cinema, discos, encontro sociais, etc.), recebe uma mesada de 500 €. Os 2 filhos que estudam no 3º CEB, possuem uma autonomia reduzida quanto à gestão do seu tempo e das suas actividades e têm padrões de consumo significativamente menos exigentes (podem ir ao cinema uma vez por semana, podem comprar alguns livros, discos, jogos para o computador, mas não muito mais que isto), pelo que a sua mesada é de 100 €. Finalmente, os 7 filhos que estudam no 1º CEB, recebem uma mesada de 10 €, para umas pastilhas elásticas ou para uns cromos. O patriarca Paulo Teixeira Pinto tem, portanto, um orçamento para mesadas no valor de 770 € (1 X 500 € + 2 X 100 € + 7 X 10 €).
Ora, sucede que os filhos mais novos, começaram a frequentar a catequese e ouviram falar que um tipo chamado Jesus Cristo pregou qualquer coisa parecida com igualdade e fraternidade. Vai daí, decidem convocar uma assembleia geral para exigir igualdade quanto ao valor das mesadas, que isto de uns a ter muito e outros a ter quase nada é uma vergonha. E o patriarca, compreendendo que o valor da igualdade é um valor supremo, virou-se para a assembleia de filhotes e disse: “Ok! Eu vou promover a igualdade. A partir de agora, cada um de vocês passa a receber 77€.”
Mal tinha proferido estas palavras, os gritos de júbilo dos 7 infantes depressa se fizeram ouvir. Mas logo de seguida foram abafados pelo clamor indignado dos 3 mais velhos, em especial do filho em avançado estado de Desenvolvimento Humano. Diziam eles: “Não senhor! Mas que história é esta? Não estamos contra o princípio da igualdade, mas não podemos permitir que toquem nos nossos direitos dessa forma. É uma injustiça!”.
E o patriarca, cheio de bondade, fez novamente as contas, e, em nome da igualdade, passou a dar a cada um dos seus filhos, uma mesada de 500 €, passando, assim, a ter um orçamento mensal de 5 mil Euros!
Bem, é óbvio que o exemplo é um tanto ou quanto absurdo mas serve para ilustrar o problema da igualdade. Quando dizemos que queremos um mundo mais igualitário, queremos estabelecer a igualdade em que patamar? Pode parecer que a questão não faz sentido, mas pode ter a certeza que faz muito sentido quando estamos a falar de milhares de milhões de seres humanos. E não se esqueça de um pequeno pormenor: neste exemplo, é você quem veste a pele do filho universitário.
Para melhor ilustrar o problema, vamos tomar como referência o nível médio de vida (rendimentos e níveis de consumo) de duas regiões do planeta (EUA e Europa). Os EUA têm, como todos sabemos, um dos níveis mais elevados de rendimento e de qualidade de vida. Em termos médios, podemos considerar que os patamares existenciais usufruídos pelos Estado-Unidenses são bastante bons. Aposto, aliás, que você não se importava nada de aceder aos níveis de rendimento médio dos EUA, assim como aos níveis médios de vida (consumo) aí existentes. De certeza que você deseja ter níveis de rendimento mais elevados e de certeza que não é para enfiar notas de 500 € debaixo do colchão. Os EUA têm aproximadamente 300 milhões de habitantes, o que corresponde a cerca de 4.6% da população mundial. No entanto, a população dos EUA é responsável pelo consumo de 25% do petróleo produzido anualmente em todo o planeta. Ora bem, se você acha mesmo que o princípio da igualdade deve ser implementado, custe o que custar, vamos fazer de conta que, com uma varinha mágica, conseguimos pôr os restantes 6.2 mil milhões de alminhas do planeta a viver exactamente com o nível médio de rendimento dos EUA, e, já que os rendimentos existem para garantir patamares de qualidade de vida, que toda essa gente passa a consumir recursos exactamente como faz hoje o norte-americano médio.
Ou seja, faça as contas, se 4.6% da população mundial consomem presentemente 25% da produção petrolífera (e eu nem sequer estou a falar da produção de electricidade, de gás natural, de carvão, de aço, de alimentos, de vestuário, etc.), teríamos, em nome da Santa Igualdade, de multiplicar por 5.5 a actual produção de petróleo, de forma a garantir a todos os habitantes do planeta os mesmos patamares de consumo dos norte-americanos. Ora, tendo em conta que os peritos nos dizem que já só nos resta petróleo para mais umas 3 ou 4 décadas, se os consumos se mantiverem mais ou menos estáveis, já viu o que sucederia às reservas de petróleo, se tivéssemos de produzir 5.5 vezes mais?
Esgotava-se o petróleo em menos de uma década. E isto, sem considerar os problemas técnicos e logísticos para extrair petróleo a um ritmo e em quantidades 5.5 vezes superior ao actual. Objectivo, aliás, perfeitamente absurdo já que nos encontramos perto dos limites de produção. Mas, se igualássemos o consumo à escala mundial, pelos padrões de vida dos EUA, o petróleo esgotar-se-ia num abrir e fechar de olhos. E depois? O que importa é a igualdade, não é? Afinal de contas, você é como o filho universitário do Paulo Teixeira Pinto: igualdade sim, mas não à custa da satisfação dos seus níveis de vida, por isso, toca a aumentar os níveis de rendimento de toda a gente, o que quer dizer aumentar os níveis de consumo de matérias-primas (com os recursos energéticos à cabeça) e o planeta que aguente. Mas você não se interroga sobre as consequências de semelhante elevação dos padrões de consumo, pois não? O que importa é a Igualdade. Mas, quando se esgotar o petróleo, você julga que o seu nível de vida será garantido por que recursos energéticos? Pelo gás natural (cujas reservas têm uma longevidade de algumas décadas para além da depleção do petróleo)? Pelo carvão, esse grande poluente (cujas reservas têm uma longevidade de algumas décadas para além da depleção do gás natural)? Não me diga que está a contar com as energias alternativas, os biocombustíveis, a energia eólica, a energia geotérmica, a energia nuclear, a energia solar, o hidrogénio, os betumes e o petróleo pesado, a biomassa, a energia das marés, a tão desejada (e como eu a desejo!) fusão nuclear? Tudo indica que a Fusão Nuclear só poderá atingir a fronteira da viabilidade económica lá para o fim do século XXI. E os especialistas não garantem, sequer, alcançá-la. Pode muito bem ser tecnologicamente impossível ao Homem alcançar esse desiderato. E, se assim for, dificilmente o conjunto das restantes fontes energéticas poderá garantir os elevados padrões de consumo para um volume demográfico que terá ultrapassado os 9 mil milhões de habitantes.
Recordo-me muito bem, aqui há uns anos atrás, quando andava pelos fóruns do Expresso Online, coloquei este dilema sobre a igualdade a um comentador comunista. E também recordo como ele emudeceu e não deu resposta à questão colocada. Enquanto a conversa se move em torno dos direitos e dos valores, aparecem a gritar todos os slogans, a repetir todas as cassetes, a proclamar todas as ideologias. Quando confrontados com exemplos que fazem pensar, que nos colocam perante dilemas de difícil resolução, metem o rabinho entre as pernas e desaparecem. E não julguem que eu estou a culpar a Esquerda. Acho que já deixei bem claro que há responsabilidades a distribuir à Direita e à Esquerda. Uns porque acham que é possível usurpar os recursos do planeta como se estes fossem inesgotáveis e outros porque continuam a exigir e a prometer tudo a todos. Para uns é indiferente que recursos energéticos fósseis sejam finitos e altamente poluentes e para outros é indiferente que o planeta seja habitado por 100 milhões ou por 100 mil milhões. Tanto faz! O que importa é gerar riqueza e consumir riqueza. As consequências que fiquem para as gerações futuras. E podem crer que as gerações futuras irão olhar para nós com muito mais ódio, desprezo e horror do que o olhar que nós temos de muitas épocas do passado. E razões não lhes irão faltar!
Você pode responder-me dizendo que os padrões de consumo dos EUA não são exemplo para ninguém, que há por lá muito desperdício, muito esbanjamento, baixos níveis de eficiência energética, e que é perfeitamente possível manter níveis elevados de vida, sem desperdiçar como fazem os EUA. Tem toda a razão! Assim, podemos recolocar o problema tendo como exemplo a Europa e não os EUA. A Europa (não confundir com a União Europeia) tem cerca de 730 milhões de habitantes, isto é cerca de 11.2% da população mundial, e consome cerca de 20% da produção petrolífera mundial. Podemos achar que os referenciais médios de qualidade de vida da Europa são bastante aceitáveis e, como tal, podemos, novamente através de um golpe de varinha mágica, pôr todos os habitantes do planeta a consumir petróleo pelo mesmo padrão dos europeus. Mesmo assim, quase que teríamos de duplicar a produção petrolífera anual e, entretanto, as reservas passariam a ter um horizonte de vida de apenas 20 anos.
Mas, muito para além das consequências decorrentes deste tipo de passes de mágica, devemos ter em conta que, quando consumimos petróleo, estamos a emitir para a atmosfera milhões e milhões de toneladas de Dióxido de Carbono (CO2). Ora, o problema de milhares de milhões de pessoas acederem a níveis de qualidade de vida que lhes garantam estes consumos, passa também pelas consequências ambientais. Os efeitos do Aquecimento Global são cada vez mais evidentes e isto tendo em conta que foram os países industrializados os principais responsáveis pelas emissões de CO2 (já para não falar nos restantes gases de efeito de estufa) durante este último século. Por isso, se não quer ser irresponsável, pense nas consequências para a saúde do planeta quando 4 ou 5 mil milhões de pessoas puderem passear de carro de um lado para o outro.
O grande problema relacionado com o esgotamento do petróleo convencional diz respeito ao facto de toda a nossa economia, toda a nossa produção, todos os bens e serviços a que acedemos, se basear na existência dessa fonte energética. O petróleo é uma fonte energética muito barata, mesmo muito barata. Não foi por acaso que as Economias e as tecnologias se viraram massivamente para essa fonte energética, esquecendo ou relegando o carvão para segundas opções. O carvão, para além de não ser tão eficiente, tão rentável e tão barato, é altamente poluidor, quando comparado com o petróleo. Repare bem que você, hoje em dia, reclama por causa do preço do petróleo, mas tenha em conta que esse preço incorpora, para além de todos os (imensos) custos de prospecção, todos os (imensos) custos de extracção (campos e plataformas petrolíferas, oleodutos, recursos humanos, petroleiros, etc.), todos os (imensos) custos de refinação, transporte e comercialização, os elevados impostos e taxas que o Estado Português ainda cobra. Já reparou como o petróleo é, de facto, um produto altamente barato? Foi o baixo custo de produção que, ao longo do século XX, permitiu que ele alimentasse e garantisse crescimentos económicos e o aumento dos níveis de vida a centenas de milhões de seres humanos, principalmente no mundo industrializado.
Sabe que a produção de petróleo convencional tem um elevado índice de rentabilidade? Por cada unidade de energia imputada ao processo de produção de petróleo convencional, são obtidas 30 unidades de energia. Fantástico, não é? Por isso é que ele foi tão barato ao longo do século XX e propiciou os níveis de desenvolvimento que propiciou. E sabe qual é a rentabilidade dos petróleos pesados? Por cada unidade de energia imputada ao processo de produção de petróleo não convencional, obtém-se o EXTRAORDINÁRIO retorno de 1.5 unidades de energia. Fantástico, não é? Já começou a perceber a alhada em que nos encontramos metidos? Continua a acreditar que vamos ter pão, leite e mel para todos, quer sejamos mil milhões, quer sejamos 10 mil milhões? O petróleo pesado é muito, mas mesmo muito menos rentável do que o petróleo convencional. A sua produção exige investimentos monstruosos, cujas margens de retorno vão estar sempre no fio da navalha. Um deslize, um pequeno acidente, um Inverno mais rigoroso no local de extracção (uma parte muito significativa dos petróleos pesados encontra-se no Canadá), e todo o investimento pode vir por água abaixo. Além de que o próprio processo de produção vai ser um voraz consumidor de energia. Até pode suceder que, com algum azar, que não é de todo improvável, que andemos a produzir petróleo, imputando ao processo de produção, uma quantidade de energia superior àquela que obtemos no fim.
Veja se percebe de uma vez: nada do que você tem à mão pode existir sem incorporação de doses significativas de energia. Energia para extrair as matérias-primas, para as transportar, para as processar e transformar em mercadorias, para as voltar a transportar e transformar em produtos finais, e novamente para as voltar a transportar e comercializar. Até quando você se dirige ao local de compra, despende energia para a adquirir. E já reparou na quantidade impressionante de coisas que você consome, dos alimentos ao vestuário, dos combustíveis ao mobiliário, dos livros aos electrodomésticos ou dos meios de transporte (pessoais ou colectivos) aos computadores, que viajaram milhares de quilómetros para chegar até si? Quando se esgotarem recursos energéticos importantíssimos, como o petróleo convencional, acha que a sua economia local vai conseguir responder a todas as suas necessidades? Muito especialmente se você viver numa grande metrópole?
Tenha em conta o seguinte: mesmo que a Economia Global consiga encontrar alternativas, não será nada fácil, nem tranquila, a transição de uma Economia baseada no petróleo para uma Economia baseada, por exemplo, no hidrogénio. Já pensou em todos os milhões de pessoas que trabalham na prospecção, produção e comercialização do petróleo e dos produtos petrolíferos? Já pensou nos milhões de veículos automóveis que poderão tornar-se obsoletos ou, na melhor das hipóteses, a carecer de reconversões tecnológicas significativas? Já imaginou a quantidade de lixo, resíduos e poluição decorrente do fim da Economia do Petróleo?
Uma vez mais, pense nos problemas à escala global e, se possível, abandone os paradigmas ideológicos que o impedem de ver a realidade. Tire de cima de si aqueles óculos que fazem com que tudo à sua volta seja azul, verde ou vermelho. Veja se percebe que temos cometido erros crassos, excessos imperdoáveis e que podemos estar à beira do precipício. Já faltou mais para o abismo. Por isso, para a próxima vez que ouvir um político de Direita exigir mais crescimento económico ou um político de Esquerda exigir maior distribuição da riqueza, pense seriamente nas consequências.
Imaginemos que o Paulo Teixeira Pinto tem uma família numerosa, daquelas cuja apologia o Opus Dei tanto faz. Bem, o Paulo Teixeira Pinto tem 10 filhos, mas eles encontram-se em diferentes estádios de Desenvolvimento Humano: o filho mais velho é aluno universitário; depois seguem-se 2 filhos a estudar no 3º Ciclo do Ensino Básico; finalmente, os restantes 7 filhos, estudam no 1º Ciclo do Ensino Básico.
Ora, o Paulo Teixeira Pinto, como "bom" patriarca que é, decidiu pagar aos seus filhos uma mesada correspondente ao nível de Desenvolvimento Humano em que cada um se encontra, tendo em conta as necessidades e as exigências sociais, económicas e culturais que cada patamar exige. Assim, o estudante universitário, que já possui um elevado grau de autonomia na gestão do seu tempo e das suas actividades, além de ter elevados padrões de necessidades a satisfazer (livros e material académico, transportes, alimentação, vestuário, concertos, teatro, cinema, discos, encontro sociais, etc.), recebe uma mesada de 500 €. Os 2 filhos que estudam no 3º CEB, possuem uma autonomia reduzida quanto à gestão do seu tempo e das suas actividades e têm padrões de consumo significativamente menos exigentes (podem ir ao cinema uma vez por semana, podem comprar alguns livros, discos, jogos para o computador, mas não muito mais que isto), pelo que a sua mesada é de 100 €. Finalmente, os 7 filhos que estudam no 1º CEB, recebem uma mesada de 10 €, para umas pastilhas elásticas ou para uns cromos. O patriarca Paulo Teixeira Pinto tem, portanto, um orçamento para mesadas no valor de 770 € (1 X 500 € + 2 X 100 € + 7 X 10 €).
Ora, sucede que os filhos mais novos, começaram a frequentar a catequese e ouviram falar que um tipo chamado Jesus Cristo pregou qualquer coisa parecida com igualdade e fraternidade. Vai daí, decidem convocar uma assembleia geral para exigir igualdade quanto ao valor das mesadas, que isto de uns a ter muito e outros a ter quase nada é uma vergonha. E o patriarca, compreendendo que o valor da igualdade é um valor supremo, virou-se para a assembleia de filhotes e disse: “Ok! Eu vou promover a igualdade. A partir de agora, cada um de vocês passa a receber 77€.”
Mal tinha proferido estas palavras, os gritos de júbilo dos 7 infantes depressa se fizeram ouvir. Mas logo de seguida foram abafados pelo clamor indignado dos 3 mais velhos, em especial do filho em avançado estado de Desenvolvimento Humano. Diziam eles: “Não senhor! Mas que história é esta? Não estamos contra o princípio da igualdade, mas não podemos permitir que toquem nos nossos direitos dessa forma. É uma injustiça!”.
E o patriarca, cheio de bondade, fez novamente as contas, e, em nome da igualdade, passou a dar a cada um dos seus filhos, uma mesada de 500 €, passando, assim, a ter um orçamento mensal de 5 mil Euros!
Bem, é óbvio que o exemplo é um tanto ou quanto absurdo mas serve para ilustrar o problema da igualdade. Quando dizemos que queremos um mundo mais igualitário, queremos estabelecer a igualdade em que patamar? Pode parecer que a questão não faz sentido, mas pode ter a certeza que faz muito sentido quando estamos a falar de milhares de milhões de seres humanos. E não se esqueça de um pequeno pormenor: neste exemplo, é você quem veste a pele do filho universitário.
Para melhor ilustrar o problema, vamos tomar como referência o nível médio de vida (rendimentos e níveis de consumo) de duas regiões do planeta (EUA e Europa). Os EUA têm, como todos sabemos, um dos níveis mais elevados de rendimento e de qualidade de vida. Em termos médios, podemos considerar que os patamares existenciais usufruídos pelos Estado-Unidenses são bastante bons. Aposto, aliás, que você não se importava nada de aceder aos níveis de rendimento médio dos EUA, assim como aos níveis médios de vida (consumo) aí existentes. De certeza que você deseja ter níveis de rendimento mais elevados e de certeza que não é para enfiar notas de 500 € debaixo do colchão. Os EUA têm aproximadamente 300 milhões de habitantes, o que corresponde a cerca de 4.6% da população mundial. No entanto, a população dos EUA é responsável pelo consumo de 25% do petróleo produzido anualmente em todo o planeta. Ora bem, se você acha mesmo que o princípio da igualdade deve ser implementado, custe o que custar, vamos fazer de conta que, com uma varinha mágica, conseguimos pôr os restantes 6.2 mil milhões de alminhas do planeta a viver exactamente com o nível médio de rendimento dos EUA, e, já que os rendimentos existem para garantir patamares de qualidade de vida, que toda essa gente passa a consumir recursos exactamente como faz hoje o norte-americano médio.
Ou seja, faça as contas, se 4.6% da população mundial consomem presentemente 25% da produção petrolífera (e eu nem sequer estou a falar da produção de electricidade, de gás natural, de carvão, de aço, de alimentos, de vestuário, etc.), teríamos, em nome da Santa Igualdade, de multiplicar por 5.5 a actual produção de petróleo, de forma a garantir a todos os habitantes do planeta os mesmos patamares de consumo dos norte-americanos. Ora, tendo em conta que os peritos nos dizem que já só nos resta petróleo para mais umas 3 ou 4 décadas, se os consumos se mantiverem mais ou menos estáveis, já viu o que sucederia às reservas de petróleo, se tivéssemos de produzir 5.5 vezes mais?
Esgotava-se o petróleo em menos de uma década. E isto, sem considerar os problemas técnicos e logísticos para extrair petróleo a um ritmo e em quantidades 5.5 vezes superior ao actual. Objectivo, aliás, perfeitamente absurdo já que nos encontramos perto dos limites de produção. Mas, se igualássemos o consumo à escala mundial, pelos padrões de vida dos EUA, o petróleo esgotar-se-ia num abrir e fechar de olhos. E depois? O que importa é a igualdade, não é? Afinal de contas, você é como o filho universitário do Paulo Teixeira Pinto: igualdade sim, mas não à custa da satisfação dos seus níveis de vida, por isso, toca a aumentar os níveis de rendimento de toda a gente, o que quer dizer aumentar os níveis de consumo de matérias-primas (com os recursos energéticos à cabeça) e o planeta que aguente. Mas você não se interroga sobre as consequências de semelhante elevação dos padrões de consumo, pois não? O que importa é a Igualdade. Mas, quando se esgotar o petróleo, você julga que o seu nível de vida será garantido por que recursos energéticos? Pelo gás natural (cujas reservas têm uma longevidade de algumas décadas para além da depleção do petróleo)? Pelo carvão, esse grande poluente (cujas reservas têm uma longevidade de algumas décadas para além da depleção do gás natural)? Não me diga que está a contar com as energias alternativas, os biocombustíveis, a energia eólica, a energia geotérmica, a energia nuclear, a energia solar, o hidrogénio, os betumes e o petróleo pesado, a biomassa, a energia das marés, a tão desejada (e como eu a desejo!) fusão nuclear? Tudo indica que a Fusão Nuclear só poderá atingir a fronteira da viabilidade económica lá para o fim do século XXI. E os especialistas não garantem, sequer, alcançá-la. Pode muito bem ser tecnologicamente impossível ao Homem alcançar esse desiderato. E, se assim for, dificilmente o conjunto das restantes fontes energéticas poderá garantir os elevados padrões de consumo para um volume demográfico que terá ultrapassado os 9 mil milhões de habitantes.
Recordo-me muito bem, aqui há uns anos atrás, quando andava pelos fóruns do Expresso Online, coloquei este dilema sobre a igualdade a um comentador comunista. E também recordo como ele emudeceu e não deu resposta à questão colocada. Enquanto a conversa se move em torno dos direitos e dos valores, aparecem a gritar todos os slogans, a repetir todas as cassetes, a proclamar todas as ideologias. Quando confrontados com exemplos que fazem pensar, que nos colocam perante dilemas de difícil resolução, metem o rabinho entre as pernas e desaparecem. E não julguem que eu estou a culpar a Esquerda. Acho que já deixei bem claro que há responsabilidades a distribuir à Direita e à Esquerda. Uns porque acham que é possível usurpar os recursos do planeta como se estes fossem inesgotáveis e outros porque continuam a exigir e a prometer tudo a todos. Para uns é indiferente que recursos energéticos fósseis sejam finitos e altamente poluentes e para outros é indiferente que o planeta seja habitado por 100 milhões ou por 100 mil milhões. Tanto faz! O que importa é gerar riqueza e consumir riqueza. As consequências que fiquem para as gerações futuras. E podem crer que as gerações futuras irão olhar para nós com muito mais ódio, desprezo e horror do que o olhar que nós temos de muitas épocas do passado. E razões não lhes irão faltar!
Você pode responder-me dizendo que os padrões de consumo dos EUA não são exemplo para ninguém, que há por lá muito desperdício, muito esbanjamento, baixos níveis de eficiência energética, e que é perfeitamente possível manter níveis elevados de vida, sem desperdiçar como fazem os EUA. Tem toda a razão! Assim, podemos recolocar o problema tendo como exemplo a Europa e não os EUA. A Europa (não confundir com a União Europeia) tem cerca de 730 milhões de habitantes, isto é cerca de 11.2% da população mundial, e consome cerca de 20% da produção petrolífera mundial. Podemos achar que os referenciais médios de qualidade de vida da Europa são bastante aceitáveis e, como tal, podemos, novamente através de um golpe de varinha mágica, pôr todos os habitantes do planeta a consumir petróleo pelo mesmo padrão dos europeus. Mesmo assim, quase que teríamos de duplicar a produção petrolífera anual e, entretanto, as reservas passariam a ter um horizonte de vida de apenas 20 anos.
Mas, muito para além das consequências decorrentes deste tipo de passes de mágica, devemos ter em conta que, quando consumimos petróleo, estamos a emitir para a atmosfera milhões e milhões de toneladas de Dióxido de Carbono (CO2). Ora, o problema de milhares de milhões de pessoas acederem a níveis de qualidade de vida que lhes garantam estes consumos, passa também pelas consequências ambientais. Os efeitos do Aquecimento Global são cada vez mais evidentes e isto tendo em conta que foram os países industrializados os principais responsáveis pelas emissões de CO2 (já para não falar nos restantes gases de efeito de estufa) durante este último século. Por isso, se não quer ser irresponsável, pense nas consequências para a saúde do planeta quando 4 ou 5 mil milhões de pessoas puderem passear de carro de um lado para o outro.
O grande problema relacionado com o esgotamento do petróleo convencional diz respeito ao facto de toda a nossa economia, toda a nossa produção, todos os bens e serviços a que acedemos, se basear na existência dessa fonte energética. O petróleo é uma fonte energética muito barata, mesmo muito barata. Não foi por acaso que as Economias e as tecnologias se viraram massivamente para essa fonte energética, esquecendo ou relegando o carvão para segundas opções. O carvão, para além de não ser tão eficiente, tão rentável e tão barato, é altamente poluidor, quando comparado com o petróleo. Repare bem que você, hoje em dia, reclama por causa do preço do petróleo, mas tenha em conta que esse preço incorpora, para além de todos os (imensos) custos de prospecção, todos os (imensos) custos de extracção (campos e plataformas petrolíferas, oleodutos, recursos humanos, petroleiros, etc.), todos os (imensos) custos de refinação, transporte e comercialização, os elevados impostos e taxas que o Estado Português ainda cobra. Já reparou como o petróleo é, de facto, um produto altamente barato? Foi o baixo custo de produção que, ao longo do século XX, permitiu que ele alimentasse e garantisse crescimentos económicos e o aumento dos níveis de vida a centenas de milhões de seres humanos, principalmente no mundo industrializado.
Sabe que a produção de petróleo convencional tem um elevado índice de rentabilidade? Por cada unidade de energia imputada ao processo de produção de petróleo convencional, são obtidas 30 unidades de energia. Fantástico, não é? Por isso é que ele foi tão barato ao longo do século XX e propiciou os níveis de desenvolvimento que propiciou. E sabe qual é a rentabilidade dos petróleos pesados? Por cada unidade de energia imputada ao processo de produção de petróleo não convencional, obtém-se o EXTRAORDINÁRIO retorno de 1.5 unidades de energia. Fantástico, não é? Já começou a perceber a alhada em que nos encontramos metidos? Continua a acreditar que vamos ter pão, leite e mel para todos, quer sejamos mil milhões, quer sejamos 10 mil milhões? O petróleo pesado é muito, mas mesmo muito menos rentável do que o petróleo convencional. A sua produção exige investimentos monstruosos, cujas margens de retorno vão estar sempre no fio da navalha. Um deslize, um pequeno acidente, um Inverno mais rigoroso no local de extracção (uma parte muito significativa dos petróleos pesados encontra-se no Canadá), e todo o investimento pode vir por água abaixo. Além de que o próprio processo de produção vai ser um voraz consumidor de energia. Até pode suceder que, com algum azar, que não é de todo improvável, que andemos a produzir petróleo, imputando ao processo de produção, uma quantidade de energia superior àquela que obtemos no fim.
Veja se percebe de uma vez: nada do que você tem à mão pode existir sem incorporação de doses significativas de energia. Energia para extrair as matérias-primas, para as transportar, para as processar e transformar em mercadorias, para as voltar a transportar e transformar em produtos finais, e novamente para as voltar a transportar e comercializar. Até quando você se dirige ao local de compra, despende energia para a adquirir. E já reparou na quantidade impressionante de coisas que você consome, dos alimentos ao vestuário, dos combustíveis ao mobiliário, dos livros aos electrodomésticos ou dos meios de transporte (pessoais ou colectivos) aos computadores, que viajaram milhares de quilómetros para chegar até si? Quando se esgotarem recursos energéticos importantíssimos, como o petróleo convencional, acha que a sua economia local vai conseguir responder a todas as suas necessidades? Muito especialmente se você viver numa grande metrópole?
Tenha em conta o seguinte: mesmo que a Economia Global consiga encontrar alternativas, não será nada fácil, nem tranquila, a transição de uma Economia baseada no petróleo para uma Economia baseada, por exemplo, no hidrogénio. Já pensou em todos os milhões de pessoas que trabalham na prospecção, produção e comercialização do petróleo e dos produtos petrolíferos? Já pensou nos milhões de veículos automóveis que poderão tornar-se obsoletos ou, na melhor das hipóteses, a carecer de reconversões tecnológicas significativas? Já imaginou a quantidade de lixo, resíduos e poluição decorrente do fim da Economia do Petróleo?
Uma vez mais, pense nos problemas à escala global e, se possível, abandone os paradigmas ideológicos que o impedem de ver a realidade. Tire de cima de si aqueles óculos que fazem com que tudo à sua volta seja azul, verde ou vermelho. Veja se percebe que temos cometido erros crassos, excessos imperdoáveis e que podemos estar à beira do precipício. Já faltou mais para o abismo. Por isso, para a próxima vez que ouvir um político de Direita exigir mais crescimento económico ou um político de Esquerda exigir maior distribuição da riqueza, pense seriamente nas consequências.
8 comentários:
O exemplo das mesadas ilustra o problema da igualdade económica mas fá-lo de forma errone na óptica da justiça como equidade. Desde logo o filho mais velho, que se presume maior de idade, não se compreende que, com as qualificações que já possui, ainda continue na completa dependência do pai. Na óptica da justiça como equidade fazia pois todo o sentido que a pirâmide se invertesse: o filho mais velho receberia de mesada 10€ e o mais novo 500€, sendo estes administrados pelo pai (isso de dar 10 euros a uma criança de tenra idade pode torná-la viciosa). O projecto de igualdade proposto parte pois de uma base injusta. Por todos a receber 77 euros agrava o risco de vício dos mais novos, embora estimule mais o adulto a produzir. O problema das sociedades desenvolvidas é precisamente o de já não produzirem nada. Os 500 euros injustos do filho mais velho sustentam o seu ócio, enquanto subcontrata as tarefas de produção aos filhos menores. Elevar as mesadas de todos para 500 euros desincentiva os mais novos a produzirem, o que obriga o filho mais velho a ter de trabalhar. Como este tem mais qualificações é natural que se desenvolva mais e melhor do que os outros que se corromperão pelo vício. Agora põe-se a seguinte questão: e se o pai for à falência? No cenário 1 de igualdade só 1 filho tem potencial para se salvar (o que se vê forçado a ter de produzir); no cenário 2 de igualdade o resultado é exactamente o mesmo! A conclusão entáo só pode ser uma: o pai deve acabar com as mesadas aos filhos e pô-los desde cedinho a trabalhar!
Magnifico... põe crianças em idade escolar a trabalhar e assim salva a lógica económica num exemplo que apenas teve efeitos de facilitação da exposição a levar a cabo. Entretanto, pelas conclusões do anónimo acima indicado, regressamamos à idade média e os direitos das crianças foram tratados como os dos adultos, tal como acontecia no Antigo Regime. Às vezes o treino do bom senso pode evitar muitos disparates.
Caro anónimo (2 Maio 2:30),
O problema era, como presumo tenha percebeido, meramente ilustrativo. Era uma espécie de metáfora. Os problemas que coloca são, por isso, irrelevantes.
O filho que estuda no ensino superior é como a maior parte dos estudantes universitários: vive dependente dos pais. Ainda para mais, num exemplo destes, em que o papá é um milionário como o Paulo Teixeira Pinto.
O problema, meu caro, não é o exemplo fantasioso sobre a família alargada de Paulo Teixeira Pinto.
É que, apesar do exemplo ser um rascunho muito mal engendrado, ele ilustra o problema à escala mundial, onde existem poucos que têm muito (que são os habitantes dos países desenvolvidos) e muitos que têm pouco (que são os habitantes dos países em vias de desenvolvimento).
Ora, presumo que tenha percebido a alegoria: quando falamos de igualdade, à escala mundial, queremos distribuir a riqueza actualmente existente de forma equitativa, diminuindo significativamente os rendimentos aos habitantes dos países desenvolvidos, ou queremos colocar toda a gente em patamares existenciais equivalentes aos do mundo desenvolvido.
É claro que todos querem esta segunda opção. Uns, porque querem ganhar mais e outros porque não querem perder nada.
Parece é que ninguém pensa nas consequências. E é por isso que todos continuam a aplaudir os políticos que tudo prometem.
Pedroso,..políticamente você é uma nódoa,...ou então sabe demais e quer manipular...!
O problema continua a ser a luta de classes cada vez mais actual por via do avanço desenfreado do neo-liberalismo selvagem.
Obrigado, Mugabe!
Já lhe disse que qualquer crítica, vinda de si, é um enorme elogio.
Continua com problemas sérios em lidar com factos, não é?
Sabe, as suas palavras não servem absolutamente de nada, se não for capaz de apresentar (e não tem sido!) factos, números objectivos ou argumentos que contrariem a minha exposição.
No fundo, você limita-se a meter mais uma cassete no leitor e a carregar na tecla "Play"!
O anónimo número um acertou em cheio. Aliás, uma das pechas do actual regime, foi ter embarcado à pressa na CEE, assinando de cruz os Constat d'eccord (ou como dizia M. Soares Constá dácór) que liquidaram a indústria que herdámos dos planos de fomento. pior ainda, as fábricas que aqui se instalaram depois do 25-A, fecharam, mesmo recebendo antes incentivos por parte da União. ada se produz e não é devido à mão de obra. senão, vejamos: qual é o salário médio dos operários espanhóis, italianos, franceses ou alemães (entre outros). Qual o tipo de política de incentivo fiscal para quem queira investir seriamente em Portugal? Ou será que o aparelho do Estado é afinal, um buraco negro que tudo devora?
Quanto ao diagnóstico feito pelo Paulo, assino por baixo. Há 30 anos ouvi o Ribeiro Telles dizer tudo isto milhares de vezes. Na sede do PPM.
O Paulo Pedroso é ventríloquo! LOL
Vê-se logo que os anónimos são ele a arranjar pseudo polémicas.
Ao menos disfarça o estilo de escrita, ó parolo!
Que patético!
Ok, confesso, é verdade, o haiduc tem toda a razão, eu sofro de um grave complexo heteronímico e dá-me para estas coisas de escrever como anónimo. São problemas afectivos, sabem? A vida é muito dura e eu ando muito carente de atenção.
Perdoa-me, haiduc, eu sei que tu és um gajo porreiro, apesar de seres um tanto ou quanto vesgo.
E se te fosses tratar, tu mais as tuas ridículas paranóias?
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