domingo, 11 de maio de 2008

Apontar o dedo aos outros para mais facilmente esquecer os nossos próprios exageros

A população dos EUA, sensivelmente 300 milhões de habitantes, corresponde a cerca de 4.5% da população mundial, população essa que consome cerca de 20.9% do total de energia produzida no mundo.

MAS, e aqui está um GRANDE MAS, a população da União Europeia corresponde sensivelmente a 490 milhões de habitantes, isto é, cerca de 7.3% da população Mundial, população essa que consome cerca de 17.4% do total de energia produzida no mundo.

Eu sempre gostei de ver os europeus a apontar o dedo aos excessos norte-americanos. Sim, é certo que eles têm imensos excessos e desperdícios. Mas, que tal começarmos a olhar para o que temos dentro de casa? Até parece que nós, europeus, temos lições a dar ao mundo em matéria de responsabilidade consumista. Os excessos dos outros desculpam os nossos?

E, uma vez mais, quando passamos a vida a reclamar que queremos um pouco mais (da fatia de depredação voraz do Planeta Terra) que "moral" temos para acusar outros? Apontamos os excessos dos EUA mas a maior parte dos europeus está desejoso por alcançar o mesmo nível de vida dos norte-americanos (isto é, os mesmos patamares consumistas). Ou não é assim?

Todos queremos mais! Mas ninguém quer pensar nas consequências da vontade agregada de milhares de milhões de seres humanos. Os governantes que pensem nisso!

E lá temos nós que aguentar as habituais moralidades de cátedra em relação ao que os EUA consomem e ao que desperdiçam. Que deitam muita comida fora e que 5% do que gastam em cosméticos e perfumaria eliminava a fome do mundo. E a comida que os cidadãos da União Europeia deitam fora? E os cosméticos e os perfumes que os europeus consomem não serviam também para eliminar a fome do mundo? E quem é que está para deixar de comprar o seu habitual creme para as mãos, para a cara, para os olhos, para as rugas e sei lá eu para onde mais?

Até parece que você nunca foi comer à zona de restauração de um centro comercial!!! Nunca reparou na quantidade enorme de comida que as pessoas deixam nos pratos, sem a consumir, e que vai toda ela direitinha para o lixo? E, por acaso, na sua casa, nunca deitou fora um pacote de leite que azedou ou quilos de fruta que apodreceram porque ninguém os comeu a tempo?
Pois, lá está, todos queremos eliminar a fome no mundo… desde que isso não toque nos nossos sagrados privilégios e direitos. E, se estivéssemos onde estão os EUA, será que desejaríamos reduzir os nossos consumos? Bem, olhando à volta, só sei que ninguém deseja reduzir os seus níveis de rendimento (logo, de consumo) e, portanto… À minha volta só vejo pessoas a gritar por mais! Se já temos muito e queremos mais, porque é que todos os outros não quererão também mais? Vamos todos fazer isso mesmo e vamos continuar nesta grande farra. Afinal de contas, já aqui ao lado, temos uma série de Planetas desabitados, cheios de rios, lagos e oceanos a abarrotar de bacalhetes, com continentes ricos em matérias-primas, recursos energéticos, muita água, muita verdura e belas paisagens para todos fazermos turismo.
Uma vez mais, não é o que você faz que é realmente importante, mas sim o resultado agregado do que fazem milhões e milhões de pessoas. Lamentavelmente há muito desperdício nas sociedades avançadas, incluindo a nossa.

Até quando esta irresponsabilidade?

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