segunda-feira, 12 de maio de 2008

agora a minha pegada


2 comentários:

Paulo Pedroso disse...

:-))

Para além da Terra eu ainda quero Marte e a cara E-Ko ainda quer a Lua.

E isto sem segundas leituras que muita gente que me tem lido deve andar a pensar que eu desejo que Marte, deus da guerra, venha aí em toda a sua força.

Além do mais, não é por nada, mas acho que a pegada ecológica de nós os dois deve ser das mais baixas do mundo desenvolvido.

Ainda há tanto para fazer!

:-))

Anónimo disse...

Uma metodologia para a avaliação da «sustentabilidade ambiental» consiste na avaliação da pegada ecológica, designação esta adoptada por Wackernagel e Rees (1996), os dois académicos canadianos da área do planeamento responsáveis pelo seu desenvolvimento. Estes autores propõem a determinação da pegada ecológica (Do termo original inglês ecological footprint) de uma população através do cálculo da área de solo e de água necessárias para, numa base contínua, produzir todos os bens consumidos e assimilar todos os resíduos gerados por essa mesma população (Wackernagel e Rees, 1996: 61). A unidade da pegada ecológica é pois uma unidade de área, por exemplo o hectare (ha).
Esta metodologia assenta na possibilidade teórica de atribuição de uma quantidade normalizada de superfície de solo ou de água à produção de um dado bem ou grupo de bens de consumo (ou serviços), e bem assim na possibilidade da fixação de um valor normalizado de área de solo ou de água para a assimilação de um dado tipo (ou conjunto de tipos) de resíduos produzidos pelas actividades humanas. Esta assunção não é obviamente realista uma vez que, na prática, a área necessária à produção de uma unidade de um dado bem, por exemplo de um bem alimentar, irá variar de região para região. Também em relação à assimilação de resíduos, existem diversos factores a considerar (e.g. características dos resíduos; locais de deposição) que nesta metodologia são ignorados ou simplificados de uma forma bastante evidente.
Os autores consideram por exemplo apenas as áreas de solo e de água produtivas, no sentido em que a sua exploração se verifica um nível inferior à capacidade de carga dos ecossistemas. Ou seja, assumem uma situação sustentabilidade na exploração dos recursos, o que, como sabemos, muitas vezes não acontece. No caso por exemplo dos oceanos contaminados por resíduos tóxicos orgânicos (e.g. DDT e PCBs) ou inorgânicos (metais pesados e substâncias radioactivas), os autores sugerem que a pegada neles "deixada" reduz a capacidade de carga local disponível para os seres humanos, pelo que terão de ser procuradas áreas produtivas alternativas ou, dito de outro modo, a pegada terá de se expandir para outros locais. Esta opção metodológica evidencia portanto o interesse, mais comparativo do que do ponto de vista dos valores absolutos obtidos, desta metodologia, uma vez que não é referida a área inutilizável de solo e de água existente no planeta (entre outras, por razões de contaminação com substâncias que se acumulam nos ecossistemas). Em qualquer dos restantes casos relativos às áreas de água (e.g. utilização dos recursos pesqueiros oceânicos e de águas doces; utilização do meio marinho para a descarga de efluentes), os autores admitem a dificuldade de cálculo e, em consequência, não apresentam quaisquer estimativas da pegada ecológica humana nos oceanos.
Um outro aspecto tem a ver com o problema da dupla contagem. Este problema ocorre sempre que uma dada área de solo ou de água fornece dois ou mais serviços simultaneamente, o que frequentemente sucede. Quando por exemplo uma dada área de solo é utilizada para a satisfação de mais do que uma necessidade (bem ou serviço), por exemplo para produção de madeira e de água para irrigação, os autores consideram apenas a maior destas áreas na sua estimativa da pegada ecológica.
Do ponto de vista teórico esta metodologia apresenta pois algumas fragilidades devido à grande simplificação de processos que, na sua essência, são de extrema complexidade. O mais importante que dela releva é sem dúvida o seu interesse para fins de análise comparativa. Ou seja, dizer-se em absoluto que a pegada ecológica de uma cidade é de 2 hectares por habitante poderá não fazer qualquer sentido, mas poderá ser interessante comparar este valor com o de outra cidade. O exemplo da temperatura corporal humana apresentado pelos autores não é feliz neste aspecto como justificativo deste tipo de abordagens. Referem os autores que:
“Por exemplo, a temperatura corporal humana é um bom indicador da saúde humana. Sem dúvida que é uma simplificação muito grande defender que uma temperatura corporal humana acima dos 37 Celsius é má, mas trata-se de facto de uma teoria bastante operacional, ou seja, na maior parte dos casos suficientemente boa para indicar um estado de doença.” (Wackernagel e Rees, 1996: 63).
Ou seja, este exemplo transposto para a teoria da pegada ecológica, sugere a possibilidade de determinação de valores em absoluto. Nós sabemos que a temperatura corporal humana da generalidade dos seres humanos ronda os 37  Celsius, daí que faça sentido inferir de que algo poderá estar mal com um ser humano em particular que apresente uma temperatura que se afaste significativamente desse valor. Mas o mesmo não sucede com a pegada ecológica, pelo menos no seu estado actual de desenvolvimento: em parte alguma do seu texto os autores referem qual a pegada ecológica que consideram normal. Ou, por outras palavras, qual a área de solo e de água necessária a cada ser humano, tomado individualmente, para que possa satisfazer as suas necessidades. Este valor surge porém implícito através de um artificialismo ao qual a generalidade das pessoas são sensíveis: as fronteiras administrativas (de uma cidade, de uma região ou de um país). Assim, se a pegada ecológica por exemplo de um país for superior à sua área administrativa, presume-se que esse país estará portanto, em absoluto, numa situação que se afasta da sustentabilidade. Porém este critério não parece aceitável à luz dos objectivos dos autores, e bem assim em face dos princípios da sustentabilidade (designadamente o princípio da cooperação).

Fonte: Valdemar Rodrigues, Sustentabilidade, Localidade e Democracia. Tese de doutoramento, Universidade Nova de Lisboa 2003.