quarta-feira, 9 de julho de 2008

Escutas: Via email (gratias, Moriae)

"Um minuto é o tempo necessário para introduzir num telemóvel um programa de software espião. Com ele, e de uma maneira invisível para a vítima, passa a ser possível a retransmissão para uma terceira pessoa do conjunto de dados tanto sobre as chamadas feitas como das recebidas ( números de telefone, duração das comunicações, etc…), assim como do conteúdo dos SMS trocados com o telemóvel visado.

Mas não só. Os chamados «smartphones» são vendidos com GPS integrado e acesso à Internet, pelo que se torna fácil por intermédio do Google Maps seguir os trajectos geográficos dos indivíduos cujos telemóveis se encontram sob vigilância.

Mas isto ainda não é tudo. É que uma opção integrada nesse programa de software permite chamar silenciosamente o telemóvel visado e ligá-lo fazendo com que o ambiente sonoro da pessoa vigiada seja audível para os intrusos.

Só falta mesmo dizer que um programa de software desse género não está só ao dispor de uma agência de informações, pública ou privada; ele encontra-se ao alcance de todos os interessados, bastando uma simples pesquisa no Google para sermos remetidos a diferentes empresas que comercializam tais produtos cujo preço varia entre os 100 até mais de 1.000 dólares.

O programa de software de espionagem dos telemóveis mais conhecido tem o nome de Flexipsy que funciona como um vírus à imagem do cavalo de Tróia.

Vervata é a empresa tailandesa que produz e comercializa o Flexipsy. A mesma empresa faz saber que não é da sua responsabilidade o uso indevido do seu produto, embora sempre vá exemplificando com casos concretos para que ele serve e para que situações concretas ele poderá ser útil.

Note-se, porém, que se a aquisição deste material é simples e não tem entraves legais, já o seu uso pode ser criminalizado uma vez que vigiar e ler mensagens electrónicas ou SMS, fazer escutas telefónicas, ler correspondência sem autorização do destinatário constitui um atentado à vida privada do indivíduo, e susceptível por conseguinte de configurar a prática de um crime.

Claro está que tais dispositivos não servem apenas para vigiar o marido adúltero, nem ainda para a complexa espionagem industrial. Com efeito, estas tecnologias constituem não só um altíssimo risco para a privacidade e a liberdade dos indivíduos como também são meios privilegiados à disposição das agências de informação vocacionadas para a vigilância e o controle social dos activistas sociais e políticos, críticos e contestatários de quem normalmente se senta na cadeira dos vários poderes.

Adaptação livre de um texto publicado no Le Monde de 1 de Julho sob o título «Le télephone portable, nouveau mouchard anti-adúltere»

Consultar:
www.flexispy.com "


Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas

1 comentário:

Textusa disse...

A informação é um recurso deveras interessante. Ao invés de outros, existe em quantidades ilimitadas. Mas, tal como os diamantes que são apenas pedras, o segredo reside na sua triagem.

A quantificação e qualificação deste precioso néctar é sempre feita de forma subjectiva de acordo com os interesses que, em determinado local e espaço temporal, interessam. A informação apenas tem valor quando contextualizada. Se aparecer solta, desgarrada, é inútil. Vide a violência informativa que tem subjugado a humanidade, pelo menos a dita civilizada (um conceito, como entre tantos, completamente subjectivo), nos últimos 100 anos: a consciência social. Quem não pensa nos mais desfavorecidos (subjectivo), nas minorias (subjectivo) ou noutros rotulados de algo que ora não me ocorre, será de imediato rotulado de algo que não só me ocorre como não o desejo pronunciar por uma questão por pudor.

Mas, mesmo a informação, contextualizada, tem no mercado de valores incorpóreos um valor limitado. A exclusividade da sua posse, aliada aos estragos que poderão advir da sua publicação é que determinam o seu real valor. Mais do que aquilo que sabem a meu respeito, vale muito mais aquilo que eu penso que sabem. Ou imagino que sabem. Ou, como na maioria dos casos, o que fantasio que sabem.

O segredo da informação é o segredo. E se o segredo nada for, o segredo é conseguir manter em segredo esse facto. Este tipo de post apenas vem reforçar a ideia de que quem nos vigia de tudo é capaz e que a nossa vida está completamente devassada.

Não representando eu uma ameaça nem ao estado nem aos meus concidadãos, quem eventualmente me vigia e me escuta passa a saber que eu gosto de sexo com animais e de escatologia. Eu não sei se eles sabem. Eu sei que eles poderão vir a saber, mas nada, nem ninguém, até hoje, me deu a entender que mais alguém, além de mim próprio, saiba isso sobre mim. No dia em que souber, saberei, em compensação, algo bem mais nojento a respeito de quem sabe essas coisas sobre mim: que vivem no mundo mesquinho de andarem a espiar vidas alheias, qual velhote babado nas dunas da Fonte da Telha, com um par de binóculos a esgalhar um pedaço de carne que há muito deixou de responder a estímulos saudáveis.