segunda-feira, 28 de abril de 2008

AVELINO FERRREIRA TORRES ─ QUISTOS ISOLADOS NO LISO TECIDO CUTÂNEO DO CARACTER NACIONAL

AVELINO FERRREIRA TORRES ─ QUISTOS ISOLADOS NO LISO TECIDO CUTÂNEO DO CARACTER NACIONAL

A entrevista de Avelino Ferreira Torres à SIC foi constrangedora. Não sei se me parecia uma rábula para humor negro, uma peça de revista de má qualidade, uma manifestação banal do mal…

O homem mente com todos os dentes que tem na bocarra. É o que me parece quando assisto às aparições desta sinistra figura. Indivíduos desta natureza têm normalmente um ego do tamanho do mundo. Autores como Arno Gruen ou Scott Peck, entre outros, denunciam a presença do mal através do extremo narcisismo. Deve ser mais um caso. O problema é que estes sujeitos se imiscuem no tecido social sempre no papel de “salvadores” representantes dos valores da piedade e afins ─ como ele próprio diz, no remate da entrevista branqueadora, trata-se de uma pessoa “humilde” (!) e que “gosta de ajudar os pobres” (!). O que choca é a manifestação verbal explícita pelo próprio e a sensação de posse relativa aos sentimentos dos outros. Os outros aqui são os apoiantes explícitos do figurão. E os apoiantes são, como não podia deixar de ser, do povo ─ humilde, os pobres ─ para fechar o círculo da mente de Avelino e entrarmos novamente pelo portão que circunscreve os domínios que a sua mente previamente mapeou. Avelino torna-se então o possuidor dos pobres que o apoiam, facto que em termos psicológicos tem uma importância quase sobrenatural para as personagens de natureza ditatorial. Possuem-nos, realmente, vampirizam-nos, para usar um termo de Pérel Wilgowicz. Não por acaso a noção de se estar possuído tem um peso notável nas representações das relações humanas através da bruxaria na sociedade portuguesa. Acontece que o vampiro sugador do “sangue” energético trata os outros como partes de um corpo total que lhe pertence. Quando as partes não funcionam para os objectivos traçados pelo imperativo da sobrevivência deste corpo, são amputadas. E os grandes “amigos” transformam-se em inimigos mortais a abater. E boa parte do povo, sobretudo em tempos de medo do desemprego e precariedade económica e social, fará tudo para defender os respectivos caciques. Aqui voltamos às teses do Sr. Reich para quem o povo deseja o fascismo pelo facto do medo de assumir autonomamente as responsabilidades da liberdade, questão fulcral em democracia.

Avelino é apenas e tão só um sintoma de um vasto complexo vampiresco que domina a sociedade portuguesa composta por medrosos e lambedores de botas ─ 48 anos de salazarismo, essa “doença que pôs de rastos o povo português”, nas palavras do J. Gil ─ por um lado, e representantes salvadores nas suas variadas manifestações e intensidades, por outro. O patético da entrevista de Avelino não vai ser reproduzido, de certeza, por um Daniel Sanches sobre os negócios que fez em proveito da sociedade lusa de negócios através do Estado que representou da forma mais porca. Aposto. No entanto, são dois fenómenos da mesmíssima natureza, apenas com variações de intensidade na hierarquia social.

Dito isto convém perguntar agora porque razão fenómenos desta natureza continuam a acontecer no Portugal dito democrático? A razão fundamental consiste no facto de eles constituírem o outro lado de nós próprios. Cada espaço vazio deixado em aberto na cidadania pela nossa cobardia é imediatamente ocupado pelo vampirismo deste tipo de personalidades. Só assim se compreende a satisfação interior que se sente quando Avelino Ferreira Torres grita alto e bom som à porta do tribunal onde vai ser julgado que se ele tem que estar a horas para a audiência não admite que os juízes não estejam! Eles devem dar o exemplo. Extraordinário porque esta é a verdade que muitos sentem mas nunca seriam capazes de dizer e assumir. O vampiro di-lo e assume-o ancorado no nosso medo. Das tripas faz coração e enfrenta o poder instituído na classe dos juízes (onde, pelo que ouvi dizer, ainda não chegou o 25 de Abril). Aqueles que normalmente decidem perversamente a favor dos poderosos. É no entanto um preço alto a pagar porque o que parecem ser duas forças em conflito são afinal filhas do mesmo complexo, faces da mesma moeda. Vampiros que no meio psicossocial emulam a “lei” dos tubarões, trágica e de origem karmica, que assola a espécie humana ─ para manter um grande corpo no oceano da vida é preciso comer os mais pequenos em qualquer escala da existência. Entretanto os pequenos assistem à espera do próximo que caia na boca do gigante…

2 comentários:

Paulo Pedroso disse...

Lamentavelmente, assim é. Estamos rodeados de Avelinos Ferreiras Torres, Fátimas Felgueiras, Narcisos Mirandas, Pintos da Costa, Valentins Loureiros e até Paulos Pedrosos por todo o lado.

:-))

Anónimo disse...

Parabens pelo Post,...concordo inteiramente !!