segunda-feira, 7 de julho de 2008

Ti nó ni


Cá está uma notícia anual.
Começou a época dos incêndios.
Há dez, há vinte, há trinta,há cem anos, seja qual for o governo e sejam quais forem os milhões espatifados nunca falha esta estreia sempre esperada.
É um clássico.
Os senhores reporteres vestidos no Coronel Tapioca entrevistam os senhores bombeiros vestidos de protecção civil.
O que ambos querem debitar é numeros.

-Temos aqui setenta e duas viaturas, treze corporações, dois meios pesados (Alfa 14 e Beta 36) e sete meios ligeiros, duas motos, trezentos e noventa e dois homens está tudo no terreno.
-E quando espera ter a situação controlada?
-Quando arder tudo.
-Obrigado senhor comandante, e prontos Zé é tudo aqui do Monte do Entulho.

Ora aqui convêm recordar algumas pequenas verdades.
A esmagadora maioria dos fogos é combatida por voluntários (ainda que alguns sejam pagos pelo voluntariado) que durante dez meses ao ano, o maior fogo que viram foi do fósforo que lhes acendeu o cigarro.

Começa a saison e lá vão eles para o matagal todos garbosos e cheios de sirenes e adrenalina.
Depois é o que se vê.
Convêm recordar que salvo erro ou omissão só há bombeiros profissionais em três ou quatro cidades portuguesas.
É o mesmo que pedir ao roupeiro da selecção para substituir o Ronaldo.
E daí…

Nota: Ontem ardeu mais um bocadinho da baixa. Conforme ouvimos os senhores populares dizer, era de esperar e resta esperar que volte a acontecer.

Foi aberto um rigoroso inquérito

5 comentários:

Textusa disse...

Caro Fado,

Esqueceu-se de abordar algo que me fascinaria caso vivessemos num país em que a lógica tivesse as mínimas hipóteses de sobrevivência: a incapacidade das nossas atentas e competentes autoridades de trazer à justiça os mandantes dos incendiários.

Como deve ter reparado, todas a épocas incendiárias, apanham-se uns pobres coitados, normalmente anormais, que alegam actuarem a soldo de outrém... e aqui a acusação misteriosamente se desvanece qual civilidade em alma lusa.

Outra coisa fascinante, é ninguém se ter dado ao trabalho de se deslocar umas meras centenas de quilómetros, e ir a Espanha, apenas para ver que tipo de vegetação por lá prospera. É que, sem qualquer margem para dúvidas, é bem menos propensa a incendiar-se...

fado alexandrino. disse...

Obrigado.
O negócio do fogo, é fogo!

quink644 disse...

Tenho que concordar com o Fado Alexandrino... normalmente, costuma-se dizer que depois da tempestade vem a bonança... não julguem que os importunei por algo que todos já sabiam e parece uma conclusão da SEDES... eu costumo dizer é que por trás de um fogo, vem um empreendimento... e com isto me calo, não vá algum juiz me fechar o blogue... lembro-me de há uns anos, creio que o Sócrtes era ministro do ambiente quando ocorreu aquele grande fogo em Cascais, que foi da Malveira à praia do Abano... Nesse mesmo dia, creio que foi um sábado, afogueado, o homem dizia: não se preocupem que segunda-feira começarão ostrabalhos de reflorestação. Não foi na segunda-feira, nas também não se voltou a falar que essa reflorestação se fez com... cimento... É só irem ao local e confirmarem. Letreiros não faltam.

quink644 disse...

Chamo, no entanto, à atenção que este fenómeno não é tão antigo quanto pensa e tem à volta de trinta anos, antes os fogos eram muito mais raros e esporádicos...

e-ko disse...

deve acontecer, ao longo destes últimos 30 anos, com a progressão do aquecimento global... aqueles décimos de aumento de temperaturas que embrasam o seco pinho!

eu não tenho dúvidas absolutamente nenhumas quanto à origem criminosa dos fogos que antecede certos empreendimentos...