É sempre com algum asco que leio este tipo de notícia, chateiam-me profundamente. Se parece haver forma de cruzar dados de uma forma fácil entre o que se declara e o que se tem, então dever-se-ia fazê-lo, nem que se constituísse uma brigada de voluntários fiscais que ganhassem à percentagem… Eu era logo candidato… Adoraria começar pelos deputados e outros cargos engraçados deste país, mas é necessário não nos distrairmos. Como moro em Cascais, nem teria necessidade de me deslocar para o emprego, bastava ir à bomba de gasolina mais próxima e abordar quem estivesse a abastecer um carro superior a 10 000 contos, desculpem lá mas essa coisa dos euros nunca me caiu bem, e dizer-lhe: - Olá, pertenço ao GVFCP (Grupo de Voluntários Ficais Contra a Parasitagem) e queria falar consigo. Que bela máquina o senhor aí tem, vamos lá mostrar-me o que tem em seu nome e o que declara às finanças… Rapidamente se concluiria que o indivíduo ou roubava nas horas vagas ou fugia ao fisco, depois ia à Marina ver os barcos, onde quase nenhum custa menos de 5000 contos, e faria o mesmo, seguindo, para terminar o dia, para o registo predial falar com quem estivesse a registar um imóvel, por aqui há T1s em que 50 000 contos só se for para a entrada… E tinha o dia feito, eu e as finanças…
Porém, sejamos sérios… Não devíamos ficar por aqui, em muitos casos iríamos verificar que o barco de 9 metros, bem como o seu lugar na marina, pertenciam a uma empresa de construção civil… Era a vez de o senhor proprietário explicar para que servia a uma empresa desse tipo a embarcação… para levar ao trabalho os calceteiros marítimos? Ou para ir betonar as ondas ao largo de Cascais? Bom, claro que as explicações não serviam, não é? Depois íamos aos carrinhos… quantos estão em nome da empresa? 6? Mas a empresa nem tem tantos funcionários… e as casinhas, são para servir de armazém? Bom, mas se há o usufruto de tudo isso esse usufruto deve ser tributado como rendimento, não é? O senhor aufere além do ordenado mínimo o usufruto de coisas que são da empresa mas que quem as utiliza é V. Exª, Não é? Bom…então toca a pagar, aliás como tudo o resto que é debitado como custos na contabilidade e que não se consegue explicar, duas empregadas de limpeza a serem pagas por uma empresa que tem um escritório minúsculo? Não pode ser, atrapalham-se… Ajudam a sua mulher nas limpezas lá da casinha? Mas no contracto de trabalho diz que o local é ali e não acolá, logo meu amigo também não serve.
Que belo Portugal teríamos… ao fim de um ano dávamos mais lucro do que a Galp e a Brisa juntas, tornar-nos-íamos o país modelo da Europa e do Mundo. Porquê que isto não se faz? É simples, porque os que mandam é que seriam os lesados e esses têm sempre muito cuidado quando se trata de legislar algo que se possa virar contra eles. É este o problema nacional, não é mais nenhum: uns pagam o que têm e não têm, são sangrados até quase à morte e, os outros, riem de gozo porque têm esquemas para tudo e não pagam nada. Esta é a verdade toda a gente sabe, mas não tem acesso ao poder para inverter a situação, como dizia em “Governo exige mais dividendos às empresas públicas,”quem detivesse o poder e viesse com ideias destas ficaria logo sem ele…
Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
8 comentários:
a corja que nos governa vai comendo à conta de satisfazerem a sede de ganância dos investidores deste e de todos os países...
enquanto puderem migrar os seus investimentos para economias ou paraísos fiscais mais vantajosos, vamos suportando a chantagem!
há coisas que como cidadãos poderíamos fazer, sei que não é fácil, que tem ingredientes de utopia, mas realizáveis... e com pessoas de confiança! sem recuperações partidárias! mais tarde abordo a questão...
não tenho uma escrita fácil, mas uma grande agilidade no pensamento e algum pragmatismo... não se pode ficar eternamente só pela crítica!
Mas eu acabo de fazer uma série de sugestões muito claras e eficazes... Não te parece???
o que sugeres é o que um "Estado" decente devia fazer em vez de só espremer os já nada têm que se esprema... não é fácil governar bem, sobretudo quando o caos é a regra geral que muita gente aproveita para passar despercebido!... a sugestão que não fiz e diferente... e até mais difícil de pôr em prática!
uma coisa virada para um futuro e para uma consciência cidadã da economia... sei que pode ser tomada como ingenuidade, mas estou-me nas tintas!... não acredito em convicções, imóveis e inamovíveis como o são as políticas, que não nos permitem ultrapassar as pretensas clivagens ideológicas que não são mais do que a defesa de interesses instalados...
"O Homem só será feliz quando o último político for enforcado com as tripas do último advogado e os corpos atirados de um avião em cima do último capitalista."
Caro Quink,
O facilitismo tem a vantagem de ser um misto de cor-de-rosa e azul bébé.
A desvantagem é raramante ser pragmático, e, não raras vezes, as suas cores jamais sobreviverem aos glutões da realidade.
Os ricos, nos seus campos de golfe, barcos, mansões e carrões, são alvo fácil. Eles alimentam a nossa inveja colectiva. Raramente são atacados por razões válidas. Dou-lhe apenas um pequeno exemplo: os impostos que os justos pagam (os empregados por conta de outrém) é proveniente da respectiva entidade patronal (se não fosse, o empregado não seria pela "tal conta de outrém").
O problema dos impostos, é muito mais sério do lado da despesa do que do lado da receita. A percepção que todos temos, ricos e pobres, que os impostos são desbaratados em conluios e apadrinhamentos nojentos.
Confesse, caro Quink, que declara apenas o que é obrigado a fazer, e, como todos nós, tem um curso superior em benefícios fiscais. Você é, na sua cota parte, um fugitivo aos seus deveres cívicos, pelo menos em intenção, quanto qualquer ricaço que VExa considera nojento.
A injustiça dos impostos não se combate, combatendo os ricos. Combate-se estruturalmente. Eu, não roubo, não porque tema ser preso, mas porque acho que não deva.
Concordo consigo em algumas coisas, falham as outras… Em primeiro lugar, a riqueza que alimenta a nossa inveja colectiva é a mesma que deveria alimentar a nossa raiva colectiva. Não há muito tempo atrás os ricos não se atreviam a pavonear-se tão descaradamente como o fazem agora, havia muito mais pudor e ponderação, porque existiam na sociedade forças que poderiam virar contra eles. Certo? Depois, obviamente, em certas circunstâncias, sou obrigado a entrar nas jogadas, sob pena de por exemplo não me ter sido possível comprar as duas casas que comprei, pois não aceitavam vendê-las sem dinheiro por baixo da mesa… Possivelmente, se não entrasse nesses conluios viveria em casa alugada… Agora, quanto ao que eu pago nem o chego a ver, pelo que não é difícil de perceber que não fujo aos impostos e, se por vezes, recebo qualquer coisa por escrever isto ou aquilo, fazer isto ou aquilo, preencho uma figura fiscal muito interessante chamada acto único, em que declaro esses rendimentos, pago e faço pagar o IVA a quem me paga. Ok? Portanto, dentro do mínimo admissível, tenho legitimidade para falar, por exemplo, paguei e fiz pagar o IVA correspondente à parte sobre o qual incidia o valor a pagar à imobiliária que fez o negócio…
Agora, o que penso e me chateia mesmo muito é que se cada qual pagasse os impostos que lhe são devidos, este poderiam baixar significativamente e tornarem-se tolerantes e compreensíveis para todos. É isto que eu chamo à atenção e que não vejo, da minha parte, qualquer ingenuidade ou lirismo, se os serviços fiscais podem fazer cruzamentos de dados façam-nos… é tão claro como isso, se eu for apanhado a fugir a seja o que for será com prazer que irei pagar o que me é devido, isto se viver num país em que se generalizem este tipo de reformas e se pague, efectivamente, na proporção do que se recebe. Não por dever, mas por ser muitíssimo difícil fugir à máquina fiscal. (Aí a ingenuidade é sua)
Finalmente, quem gasta teria que explicar bem onde e como o gasta, sob pena de ser, verdadeiramente, responsabilizado e punido pelos seus actos.
Como vê, as minhas cores não são nem o rosinha, nem o azul bebé… são o preto e o branco.
Post scriptum: satisfaz-me a troca de ideias em vez da troca de palermices e tricas habitual…
Caro Quink,
Não o chamei de ingénuo, ou lírico. Apesar de considerar que está a ser. E, mesmo agora, se estiver atento, continuo a não lhe chamar tal coisa. Apenas a qualificá-lo de forma pura, e, como espero, você entende.
O seu raciocínio está correcto, tirando esse ligeiríssimo pormenor de afirmar que se todos pagássemos impostos, este baixariam. Isso é como acreditar, e eu até acredito que acredite, que o dinheiro que se gastará em submarinos, caso não so fosse, seria-o em escolas. só se fosse em Universidades Independentes, o que não deixaria de ser um estabelecimento escolar. E bem educativa, como comprova o sucesso de muitos dos seus alunos...
Realidade dixit o inverso. Seria simplesmente mal gasto. E será. caso não seja gasto em submarinos. Ou em cuecas luminosas para a Cicciolina (antes que se ponha para aí a discutir a utilidade dos submarinos, temática que não pretendo ora abordar).
Real politik é o que é. Não se inventou. Moldou-se, adaptou-se à realidade. Enfrentá-la, tm tanta utilidade em como enfrentar uma onda de peito aberto armado ao cagalhão. Só dá merda. Inteligência é canalizá-la, usá-la e abusá-la em nosso proveito. Ensina-o a teoria do judo. Que é um desporto violento. Amado até pelos objectores de consciência.
Sobre o debate de ideias, antes de o fazer, é preciso ser-se capaz de libertar de todo o manancial de informação que nos foi sendo depositado ao longo dos anos. E, caro amigo, sabendo ingénuo e lírico, imagino-o desde já a afirmar que é VExa completamente independente de tais depêndencias. Engana-se. A forma apaixonada como se refere a um outro grupo que não o seu (neste caso os ricos dito pavoneantes) demonstra o inverso.
Se me quiser qualificar, pode começar por cínico e arrogante.
Um abraço
Pelo contrário meu caro, não o quero qualificar de coisa alguma, apenas me afirmo como sou, preto e branco ou, se quiser, pão, pão queijo, queijo; continuo a pensar que devemos pagar muito menos de metade dos impostos que pagamos, mas todos os pagariam... e se alguém fosse apanhado a prevaricar, coisa que fatalmente aconteceria, já que o criminoso anda sempre um passo à frente da lei; (como vê não sou apaixonado nem idealista) pagaria exemplaarmente pelo acto cometido. É só. Seria o que eu propunha e aquilo que eu faria se mandasse e não me matassem antes...
Um abraço,
quink644
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