domingo, 15 de junho de 2008

Antiamericanismo I

(A maior parte deste texto foi escrito há cerca de 3 semanas. Acrescentei-lhe algumas passagens na semana passada e hoje limitei-me a dar-lhe os toques finais.)

Antes de dar início à publicação de algumas intervenções sobre o anti-americanismo primário que grassa entre as gentes da Europa, muito especialmente entre os “bem pensantes” esquerdistas, esses senhores que sempre se consideraram donos da verdade e do direito único à produção de sentido, gostaria de clarificar alguns aspectos.
Quero frisar, antes de mais nada, a minha grande costela europeísta. Começo por aqui para que os primários dos antiamericanos que me vão ler não pensem que estes textos têm o objectivo de entoar laudatórios aos EUA e de diminuir a Europa. Nada disso. Sou Europeu com todo o orgulho e tenho o mais elevado apreço pela herança cultural e civilizacional da Velha Europa. Sou um cidadão europeu com orgulho, não tanto pelo que isso significa, em termos políticos, face à actual União Europeia, mas sim pelo seu significado Histórico, Político, Cultural e Civilizacional.
A minha Europa é um território vastíssimo, feito de largos e deslumbrantes horizontes, cujas fronteiras felizmente desconheço, onde a Filosofia, a Ciência, o Direito, os Valores, os Princípios, a Erudição, a Cultura e o Saber foram e são esplendorosos edifícios, plenos de beleza, de fulgor, de solidez e de vitalidade, que ofereceram, ao Mundo, oportunidades únicas e, provavelmente irrepetíveis, para, enquanto espécie, nos libertarmos da nossa condição de bestas e nos afirmarmos como seres dotados de inteligência. Mas, essa herança, não nos deve impedir de olhar com igualdade de critérios e com um mínimo de objectividade para a realidade Histórica da Europa e dos EUA. Haverá muito a criticar nos EUA, mas também há muito a criticar na Europa. E, muitas vezes, os europeus criticam os EUA quando não têm nenhuma autoridade moral para o fazer.
Estes textos não têm o objectivo de diminuir a Europa e de enaltecer os EUA. Antes pelo contrário! Pretendo, isso sim, demonstrar que a Europa se engrandeceu também com o engrandecimento dos EUA. Que a Europa foi mais longe, prolongou-se e projectou-se, de forma viva, radiante e esplendorosa, através dos EUA, herdeiros fantásticos da cultura e da civilização europeias. Que a Europa, não enquanto território ou espaço medido em hectares, mas sim enquanto significado e símbolo medidos em valores e princípios, se projectou no Mundo através dos seus colonizadores e emigrantes e que, olhando para os resultados dessa projecção, apenas na América do Norte podemos encontrar razões para ficar satisfeitos com os resultados alcançados. Para além do território europeu, apenas a América do Norte apresenta uma clara sobreposição cultural e civilizacional com aquilo que sabemos ser a cultura e a civilização europeias.
Assim como não estou aqui para degradar a Europa, tão pouco estou aqui para enaltecer os EUA. Estou, isso sim, interessado na desmontagem das falácias dos anti-americanos primários, que produzem todo o tipo de asserções, desconsiderações, acusações e imputações aos EUA, transformando-os, aos olhos de uma opinião pública, tantas vezes distraída, acrítica e ignorante, no pior dos países, na mais detestável das sociedades e no mais monstruoso dos Estados do Mundo. Essas acusações todos nós as conhecemos de cor e salteado. Muitas vezes limitamo-nos a ouvi-las sem nos apercebermos que as aceitamos acriticamente, sem raciocinar ou sem questionar a validade dessas críticas. Assim, para o antiamericano primário é certo e sabido que os EUA são o maior mal da História contemporânea, que são um Estado militarista, imperialista, capitalista dependente, fascista e anti-democrático. Todos nós sabemos que os seus dirigentes são incultos, fascistas, vendidos ao grande capital e não passam de uns idiotas profundos. E sabemos tão bem como o cidadão norte-americano médio é um ignorante e um inculto, só pensa no dinheiro e está-se a borrifar para a cultura e o saber. Para o antiamericano primário, toda a sociedade dos EUA é um exemplo vivo de racismo e de violação dos direitos humanos. Os EUA são a causa dos problemas do mundo, mais precisamente do terrorismo islâmico, como dizia ali em baixo o nosso colega Kaos. E, para o visitante Falcão, basta citar Wilde para ficarmos a saber que os EUA passaram directamente da barbárie à decadência, sem nunca terem alcançado o patamar da civilização. E aposto que você já ouviu, muitas vezes, a afirmação de que o americano médio é estúpido como uma porta e está longe de possuir o requinte, a sofisticação e a elevação do je ne sais quoi do verniz cultural europeu. É, não é? Às tantas, você até está mesmo convencido que é assim. Enfim, não tem muitas provas, mas certamente que a coisa não está errada, pois há muitos europeus civilizados a repetir estas asneiras. E, se os europeus civilizados o dizem, certamente só pode ser verdade. Mas, realizar um escrutínio minimamente objectivo sobre as acusações que o antiamericanismo primário dirige aos EUA, é coisa que nunca lhe passou pela cabeça, não é? Confrontar as acusações com os factos e comparar as teses à luz da verdade Histórica, é coisa que não preocupa os antiamericanos. É muito fácil generalizar! Aliás, qualquer imbecil é capaz de generalizar. Não custa nada! É assim que se produzem, se reproduzem e se amplificam os preconceitos, os estereótipos e as verdades feitas que nada têm a ver com a realidade.
Enfim, já ouvimos os ECOS repetidos dos discursos antiamericanos primários e, muitas vezes, por mero conforto, não questionamos a veracidade desses discursos. As imagens são construídas, instalam-se, reproduzem-se e acabam por ocupar o seu território. E não há factos, nem verdades que sejam capazes de desfazer os discursos dos antiamericanos primários. Repetem à saciedade as suas acusações na esperança de que todos os ouvintes sejam idiotas e sejam incapazes de avaliar criticamente a realidade.
Bem, há certamente, muitas acusações a fazer aos EUA. Esse país está longe da perfeição ou de não merecer críticas. Mas, também há que dizê-lo, muitas das críticas que são dirigidas aos EUA, aos seus dirigentes, às suas elites sociais, económicas, políticas e culturais, aos seus cidadãos ou à sua cultura, estão longe de poderem ser consideradas minimamente sérias, verdadeiras ou propositadas. A maior parte dessas acusações baseiam-se no despeito, na ignorância, na má-fé, na reprodução de estereótipos e de preconceitos, quando não, muitas das vezes, na deturpação ideológica promovida pelos deserdados da Esquerda Europeia.
Este primeiro texto, dedicado a introduzir a questão do antiamericanismo primário, não se ocupa, por enquanto, da desmontagem da falsidade das acusações que são dirigidas aos EUA. Neste momento, estou apenas interessado em deixar esclarecidos alguns pontos. Já expliquei que não se trata de louvar os EUA e diminuir a Europa. Já expliquei que se trata de desmontar o discurso antiamericano. Já expliquei que me sinto totalmente europeu e que tenho todo o orgulho na herança cultural da Europa. Falta explicar a tese final deste texto introdutório: a de que a crítica exagerada aos EUA é despropositada porque, em última instância, esse país e essa sociedade, são herdeiros da cultura e da civilização europeias e não são muito distintos do que nós, europeus, somos. Olhando para o Mundo, podemos constatar que os EUA são uma das regiões do Mundo onde todo o sistema de referências culturais (Idioma, Religião, Sistema de Crenças, Costumes e Tradições, Filosofia, Ciência, Cultura Erudita, Sistema Político e Axiológico, etc.) é essencialmente oriundo da matriz cultural europeia. Se, para além da Europa, há algum outro lugar no Planeta onde se veneram e onde se reverenciam os mesmos cientistas, escritores, pintores, músicos, políticos, arquitectos, filósofos, pensadores e intelectuais, esse lugar é a América do Norte. Se, para além da Europa, há um lugar onde se venera a Ciência e a Cultura de matriz europeia, esse lugar é a América do Norte. Se, para além da Europa, há um lugar onde se respeitam e se veneram os valores da Modernidade e os princípios da Legalidade e do Estado de Direito, esse lugar é a América do Norte.
Torna-se profundamente ridícula a afirmação de que a cultura dos EUA é radicalmente distinta das culturas europeias. Tem, obviamente, as suas diferenças e as suas nuances. Mas, que eu saiba, as diferenças entre as culturas bávara, siciliana, escocesa, sueca ou basca, apesar de tão profundas, não as impedem de ser, todas elas, matricialmente europeias. Aliás, nenhuma delas, apesar de todas as suas diferenças, deixa de se sentir herdeira da Velha Europa.
Restringir a cultura europeia ao território europeu é apenas sinal de uma profunda debilidade mental. Um europeu não deixa de pensar, sentir e agir como um europeu por emigrar para um qualquer canto do planeta. Assim como os emigrantes portugueses não perderam a sua identidade nacional, também os europeus, que colonizaram e emigraram para a América, não começaram a sentir, a pensar e a agir como não-europeus de um dia para o outro. Os EUA foram feitos (essencialmente) por europeus e foram os europeus que marcaram, de forma indelével, a formação da cultura Norte-Americana. Criticar os EUA como se fossem a mais horrível das sociedades, apontar o dedo aos estado-unidenses como se fossem os seres mais aberrantes do planeta e considerar esse país como se fosse o mais execrável do Mundo, é “esquecer” que, à escala global, essa é a sociedade mais próxima da cultura e da civilização europeias, que é a mais parecida com as sociedades da Europa e que é a mais intrinsecamente europeia, no que diz respeito à matriz cultural que a caracteriza.
Nos próximos textos, que ainda não estão escritos e não sei quando o farei, ocupar-me-ei da desmontagem das viscosas e gordurentas falácias dos antiamericanos primários, recorrendo a essa coisa tão incómoda que se chamam factos históricos.

2 comentários:

e-ko disse...

falácias e mais falácias!!!!!!!

Paulo Pedroso disse...

Sim, as suas!

Sabe onde as pode meter?

PS: leia sempre com atenção, não vão as falácias ser de outra pessoa qualquer e depois ter de fazer as figuras tristes que tem feito.