Esta vai assim, a correr e sem estilos literários, que atirar pérolas a porcos era coisa que já Lord Byron, com toda a sua aristocracia, dizia dos portugueses e de Sintra.
Várias acusações recorrentes ouvimos dos antiamericanos, em relação aos EUA, que, vindas da África, da Ásia ou da América do Sul, assumem uma dimensão zenitalmente ridícula mas que, tendo origem na velha Europa, não podem deixar de nos fazer sorrir. Essas acusações, repetidas à saciedade nos dircursos antiamericanos, são as seguintes:
- Anti-democráticos
- Totalitários
- Fascistas
- Imperialistas
- Belicistas... (entre muitos outros mimos)
Quantas vezes não ouviu já os civilizados europeus proferirem estas acusações? Seria de espantar que, sendo nós tão civilizados e conhecendo nós tão bem a nossa civilizada História, não sejamos capazes de sorrir de espanto perante tamanhas atoardas. No entanto, estas acusações escorrem da boca dos antiamericanos raivosos a todo o momento e parece que ninguém tem espírito crítico suficiente para livremente questionar estes discursos... Mas isso, como bem sabemos, é apenas um sinal de Avanço Social... Adiante!
Então, os EUA são anti-democráticos? Julgava eu que, desde a sua fundação, 1776, os EUA sempre tinham sido um país livre, democrático (dentro dos limites contextuais da época) e plural. Segundo os antiamericanos não é assim. Aliás, como bem recordamos, o "essencial" da visão europeia sobre os EUA resume-se à ideia de que eles passaram directamente da barbárie à decadência, sem nunca terem snifado civilizados pozinhos de rapé.
Eu gostaria de recordar, limitando-me APENAS ao que sucedeu no último século, que, enquanto os EUA sempre foram uma democracia (apesar das suas discriminações raciais... que, como sabemos, nunca existiram na Europa), a civilizada Europa, perdão, a civilizadissima Europa, andou entretida a coleccionar regimes totalitários, uns atrás dos outros, numa sequência de horrores altamente civilizados, a ver quem é mais civilizado, ora-agora-sou-eu-ora-agora-és-tu. Portanto, segundo os altamente esclarecidos e civilizados europeus, os incivilizados e os anti-democráticos da pior espécie são os habitantes dos EUA e, os Europeus, pois claro, são os verdadeiros aristocratas do refinamento, da cultura democrática, da liberdade.
Só é pena que, no último século (valerá a pena recuar mais?), a Europa tenha sido um exemplo de colecção de totalitarismos, qual deles os de pior espécie, alguns com décadas de existência e, curiosamente, como somos muito civilizados, até nos demos ao cuidado de viver diversificadamente esse civilizado totalitarismo: Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Grécia, Jugoslávia, Polónia, Checoslováquia, Hungria, RDA, Roménia, União Soviética, etc, foram exemplos vivos e flagrantes da altíssima civilização anti-totalitária europeia. E os EUA é que são anti-democráticos, certo? Só nos falta ouvir, aos antiamericanos, a afirmação de que a Europa de hoje é que é civilizada... Isto é, que é civilizada depois de ter abandonado esses totalitarismos. O que, quer dizer, no mínimo que, afinal de contas, os EUA têm mais "História" que a Europa. Mas, é claro, isso não dizem porque, como sabemos, já somos civilizados há muitos séculos e ninguém quer abdicar de séculos de civilização. Deve ter sido por isso mesmo que coleccionámos tantos regimes totalitários.
Então, os EUA são totalitários? Tendo em conta que esse país nunca sofreu um único golpe de Estado, nenhuma tentativa de assalto ao poder, nenhum golpe militar, é uma acusação deveras caricata, tendo em conta que ela é proferida por europeus... dos civilizados, certamente, isto é, daqueles que sabem distinguir as fantasias dos factos. Aliás, sobre totalitarismos, talvez fosse importante recordar aos mais distraídos, que as acusações primárias dirigidas aos EUA partem precisamente daqueles que sabemos terem discursos totalitários, à Direita ou à Esquerda. É curioso ver como os deserdados do Muro de Berlim e os Neo-Nazis partilham com tanto gosto os discursos antiamericanos. Talvez muitos não se recordem mas, no 11 de Setembro de 2001 e dias seguintes, ouviram-se festejos e abriram-se garrafas de champanhe na civilizada Europa e foram logo os civilizados sindicalistas e simpatizantes dos Partidos Comunistas Europeus, assim como os não menos civilizados apoiantes das Extremas-Direitas, a começar pelos refinados apoiantes de Jean-Marie Le Pen. Portanto, só pela composição altamente civilizada destas orquestras, devíamos concluir alguma coisa sobre a autenticidade dos discursos. Mas, enfim, até a distracção deve ser civilizada.
Já agora, talvez seja por demais (in)conveniente recordar que, na civilizadíssima França, ainda não há muitos anos, se viveu a vergonha de um candidato totalitário (Le Pen, nem mais) lutar pela presidência da república, tendo alcançado a segunda volta e ultrapassado a Esquerda democrática. E, se acrescentarmos aos votos de Le Pen, os votos obtidos pelos candidatos da Extrema-Esquerda, ficamos com uma excelente ideia sobre a magnífica concepção que impera, entre os civilizados europeus, sobre a Democracia e o Totalitarismo. Portanto, na velha França, uma percentagem elevadíssima dos democráticos votos dos civilizados cidadãos europeus são destinados a candidatos que defendem discursos totalitários (à Esquerda e à Direita) e, pasme-se, nem por isso perdem o seu verniz civilizacional e os EUA, esses sim, é que são totalitários.
Pois, então, os EUA são Fascistas! Como, nunca ouviu dizer? Não é esta uma frase absoluta? Um dogma? Pois, os EUA poderão ter muitos defeitos mas, certamente que este não têm... pelo menos se tivermos a hombridade de colocar na balança as capacidades fascistas já demonstradas pelos civilizados europeus. A não ser que, para tão civilizadas cabecinhas, os fascismos (e principalmente os seus excessos) sejam perdoáveis na Europa e sejam imperdoáveis nos EUA. O problema é que, com o mais rombo dos instrumentos de medição, é possível comparar o fascismo dos EUA com as experiências levadas a cabo pelos civilizados europeus e, fazendo batota, concluir que eles tenham sido ou sejam mais fascistas do que alguma vez nós fomos. Perdoamos, assim, a Hitler, a Mussolini, a Salazar e a Franco, todos os seus horrores, apenas para podermos execrar os EUA como o mais fascista de todos os regimes que a Terra já viu.
Continuando na senda do Totalitarismo, deve ser um pequeno pormenor, insignificante aos olhos dos antiamericanos, recordar esse estranho facto de terem sido os cultos, educados, refinados e civilizados europeus que inventaram as duas piores ideologias que já pisaram a face da Terra (Nazismo e Comunismo) e que foram precisamente europeus que, em nome dessas ideologias, num impressionante sinal da sua elevadíssima, portentosíssima, magnificente e esplendorosa civilização, conduziram a barbárie a níveis jamais vistos ou imaginados. Eu agradeço ao acaso, e os crentes devem agradecer aos céus, pelo facto da imaginação europeia ter alcançado patamares tão elevados de civilização. Portanto, os europeus inventam duas ideologias perfeitamente aberrantes e execráveis, elevam a barbárie a limites jamais presenciados, assassinando em massa dezenas de milhões de seres humanos e os EUA é que são bárbaros, decadentes e incivilizados?
Ah, sim, é claro que os EUA são belicistas e imperialistas. Mais uma frase que de certeza já ouviu e que deve soar nos seus neurónios como uma verdade insofismável, certo? Ora, como bem sabemos, os EUA já andaram metidos numa série de conflitos militares, os mais mediáticos dos quais no Vietname e agora no Iraque. Talvez fosse importante recordar que, conflitos como o do Vietname decorreram precisamente das impotências de algumas potências europeias e que, precisamente quando os EUA andavam aos tiros por aquelas regiões da Ásia, a civilizada França andava aos tiros na Argélia e outros países europeus andavam ou tinham andado recentemente aos tiros noutros lugares. E talvez seja de todo inconveniente recordar que a magnífica embrulhada existente, desde há décadas, no Médio Oriente, é, em grande medida, o resultado das grandes ocupações imperialistas das grandes e civilizadas potências europeias e ainda, que muitos conflitos hoje existentes no Médio Oriente, decorrem precisamente dos clamorosos e ignóbeis erros cometidos por franceses, ingleses, italianos e alemães, entre outros, desde o início do Século XX até ao final da II Guerra Mundial. Mas isso, obviamente, devem ser pequenos pormenores que não têm nada a ver com a civilizada Europa. Afinal de contas, a herança de Pilatos faz parte da nossa civilizada Cultura Europeia...
E, já que falamos de Guerra e os EUA são tão vivamente acusados de belicismo, talvez fosse conveniente recordar esse facto desprezível (em todos os sentidos) de termos sido nós, civilizados europeus a desencadear uma Primeira Guerra MUNDIAL. Tudo, obviamente, porque éramos e somos o supra-sumo da civilização. Aliás, ainda hoje temos uma série de povos que não param de realizar procissões a caminho da Europa, entoando hossanas, pelo facto de sermos tão civilizados. Eles só nos podem agradecer por sermos tão civilizados e termos desencadeado a Primeira Guerra Mundial. Esses povos ainda hoje nos agradecem entusiasticamente porque, como podem crer, eles têm imaginação suficiente para perceber o que teríamos feito se não fossemos tão civilizados. Eu confesso que partilho dessa satisfação por sermos tão civilizados. Caso contrário, nem quero imaginar!
Mas, continuando a falar de belicismos, não ficámos civilizacionalmente contentes. Por isso, como não nos bastava termos desencadeado uma Primeira Guerra MUNDIAL, achámos por bem que a civilização podia ser elevada a novos patamares. Foi o que fizemos: Arranjámos uma II Guerra MUNDIAL! Mas, não há problema! Nós, somos os civilizados. Os belicistas, como bem sabemos, são os EUA. Que, aliás, tiveram de se meter duas vezes nestas embrulhadas europeias, a segunda vez, por sinal, para evitar que a Europa Ocidental ficasse ainda mais totalitária do que já era anteriormente. Já para não falar da magnífica capacidade de decisão e de intervenção dos europeus, em relação aos recentes conflitos resultantes do desmembramento dos Balcãs, porque tiveram de ser os EUA a mexer-se para que se conseguisse um mínimo de estabilidade nessa região europeia.
Quanto à acusação de Imperialismo, sabemos que este é um dos mais famosos e queridos adjectivos proferidos pelos antiamericanos... Que, como bem sabemos, não são precisamente aqueles que, na Extrema-Direita ou na Extrema-Esquerda, mais saudades têm de outros Impérios. Talvez fosse importante, uma vez mais, recorrer a essa coisa tão incomodativa conhecida por factos históricos, e recordar que a maior parte dos impérios coloniais europeus foram desfeitos no Século XX, e não propriamente com a maior das benevolências por parte dos Europeus e não sem recorrer a essa coisa horrível chamada guerra, que parece ser apanágio apenas dos EUA. Além do mais, sobre matérias imperialistas, talvez fosse bom lembrar que os civilizados europeus mantiveram Impérios durante séculos (Portugal, Espanha, França, Itália, Bélgica, Holanda, Inglaterra, Alemanha, Rússia, etc.), onde não lhes faltaram oportunidades para promover a educação, o progresso e a civilização entre os povos das colónias mas, estranhamente, entretiveram-se a escravizar, dominar, abusar, guerrear, aniquilar, trucidar, etc. Tudo, uma vez mais, porque éramos os mais civilizados. Os povos do Mundo inteiro devem, de facto, erguer as mãos, agradecendo aos céus, a civilização europeia.
Já agora, sobre proibições, talvez fosse necessário recordar que a revolução de mentalidades, as liberdades civis, a revolução sexual, o feminismo, a luta pela igualdade de direitos, etc., ocorreu nos EUA nos anos 50 e 60 e só, depois, alcançou a civilizada Europa. Mas, para certas cabecinhas, o Maio de 1968 deve ter ocorrido cronologicamente uma década antes, para poderem fingir que as liberdades foram primeiro alcançadas na civilizada Europa e, só depois, chegaram aos decadentes EUA. E, por favor, não me venham com histórias sobre as lutas pelos direitos civis dos Negros nos EUA, nos anos 60, porque, que eu saiba, os civilizados europeus não aplaudiam casamentos entre pessoas de raças distintas. Aliás, lamentavelmente, em pleno Século XXI, na civilizada Europa, ouço civilizados europeus dizer que "o maior desgosto que a minha filha me poderia dar era casar-se com um preto" (ipsis verbis, ouvido pelo meu primário sistema auditivo, numa civilizada e muito bem frequentada cafetaria europeia).
PS: Tudo isto foi escrito agora, ao correr da pena e sem grande cuidados literários; Já tinha escrito muitas destas coisas mas, como já disse, perdi um ficheiro onde tinha horas de trabalho.
PPS: Seria importante que certas cabeças percebessem o óbvio: se os EUA têm muitos defeitos (e é claro que os têm), a civilizada Europa não fica atrás (e, em muitos aspectos, fica à frente a anos-luz); e se a Europa tem muitas qualidades (e é mais que óbvio que as tem), os EUA não ficam muito atrás (e, em muitos aspectos, conseguem estar bem à nossa frente). Se isto for muito difícil de entender, por favor, não deixe de considerar um aspecto crucial: eu sou orgulhosamente português, europeu e cosmopolita, logo, como tal, não posso ser inteiramente civilizado...