A Taberna dos "Desperados"

Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas

Imagem do KAOS

Há um quadro do Degas, com uma gaja cheia de absinto, tipo, tipo, tipo... bom... sei lá... tipo a Vice-Reitora da Lusófona ou a Ana Gomes, e acho que o KAOS estava inspiradíssimo, neste misto de sardinhada reles, mafia barata, camisa descascada e o ar badalhoco da turista de Vilar de Maçada. A Roleta das "Desperadas".

Hoje, por acaso, esteve muito calor. Há um livro célebre, das inscrições das paredes de Pompeia, muito parecido com o que hoje se escreve nas Antologias Palatrinas nacionais, e há uma frase que se vem multiplicando, e que começa invariavelmente por "O Sócras isto...", "O Sócras aquilo...", "O Sócras é... etc", enfim, nem vale a pena reproduzir o teor integral, o que me incomoda é a recorrência, e suponho que o Sr. Primeiro Ministro de Portugal se deveria sentir muito mais severamente incomodado com o que diariamente aparece grafado nos sanitários dos seus Estados, do que com um sobressalto irlandês, já que se percebeu que a Máquina do Vale-Tudo vai ser posta em marcha, para que a "Ordem", como o Saloio de Boliqueime disse, volte às largas Avenidas da Europa.

Acontece que a Europa está coxa, e o risco de explosão social desenfreada é real, e não tem nada a ver com Maios de 68, ou Maios de 69: o que pode suceder é uma explosão, sem ideólogos, nem epicentros, a rebentar em mancha de óleo, e com rastilhos imprevisíveis, uma espécie de Revolução Plana e Suicida, a culminar numa coisa tão lúgubre, como a Comuna de Paris, ou a Revolta dos Zelotas, em Tessalonica (1342-49), tão estranha que nem conseguiu nunca ser documentada,

mas suponho que esteja tudo bem, Sarkozy, o primeiro Grande Escroque de Bilderberg a ocupar o Trono Europeu, já em Julho, se não me engano, vai usar a velha táctica do "Major" e distribuir micro-ondas pelos saloios irlandeses, para que eles alterem uns votos, ou, então, faz como o Bush fez contra o Al Gore, deixar caducar o prazo de contagem de uns cartões perfurados obsoletos, que eram enfiados em caixas de sapatos usadas, e pôr o assunto imediatamente em tribunal. O Supremo Tribunal Americano, se bem estão lembrados, numa gloriosa demonstração da Separação de Poderes, que colocou os States na mesma prateleira do Zimbabué, emitiu uma sentença, que declarava vencedor (!) G (W.)C. Bush, com todas as consequências que isso teve para a nossa contemporaneidade.

Enfim,

notícias realmente interessantes hoje, enquanto os Ideólogos da Manobra andam a tentar ver que volta dar à Democracia, quando a Democracia não se acorda com os seus desígnios autocráticos, foi a da existência de uma rede de assaltos dirigida por um paraplégico, que merece destaque no "Expresso", coisa importante, portanto; um nascitúro que foi raptado não sei de onde para ter, em seguida, uma aparição em Felgueiras -- mais um milagre de Fátima -- e pouco mais.

Já se percebeu que a nova táctica dos Órgãos de Intoxição Social inflectiu num novo rumo, que descodifico já aqui: há os fenómenos que estão previstos e os que não estão previstos.

Os que estão previstos rapidamente são integrados na "Normalidade" pelos comentadores de serviço, os habituais, a Marcela quer Morcela, o Búfalo da Coca, a Pacheca, aquela coisa horrorosa da Quadratura das Bestas, ou num nível ainda mais rasteiro, e reles, "O Eixo do Mal" e os "Gatos Fedorentos", todos bem uns para os outros.

Se a coisa for imprevisível, tipo Referendos, 90 000, 100 000 ou 200 000, na rua, imediatamente se desencadeiam as estratégias de emergência, e os "abafadores", para desactivar os "fenómenos".

Ah, sim, existe também uma Terceira Via, que é a de fabricar agora... contestações. Parece que a última invenção, pelo que me disseram, é uma coisa de Reboques. Ora, eu nem sabia que havia reboques, suponho que devido a dois níveis de incognoscibilidade, meus: primeiro, porque nunca fui carro, logo nunca fui rebocado (Modus Ponens, se não me engano, e até acho que me engano, mas não faz mal, para a narrativa).

Para ser tão brilhante, deve vir da "SIC-Monhé".

Eu ensino como se faz: começa-se, pela Edição da Manhã, com uns rumores de acontecimento; à hora do almoço, já espalhou pelas televisões do lado e já lhe acrescentaram uns pontos (é a hora da estagiária-enviada-especial, que comenta exaltadamente umas imagens ambíguas); a meio da tarde já se comenta, não a notícia, mas as interpretações das notícias, pelo vizinho do lado. O fenómeno, geralmente, prolonga-se por dois dias e meio, três, às vezes, até um pouquinho do quarto. É então que, salvificamente, intervém o deus "ex-machina", geralmente uma daquelas paneleiras, como diz um amigo meu, "que já só se conseguem encontrar neste Governo" (olhem a Aflautada Melosa da Agricultura, por exemplo, que escorre néctar pelas pontas daquele bigodinho pegajoso de feromonas, e que mandou os Agricultores produzirem mais, e cobrarem mais caro (!) -- uma senhora, uma Maria Antonieta do Grelo e da Fava Anã, só comparável com a buçuda da Saúde: não há quem ofereça uma "gillette" para aquela mulher rapar o lábio superior?...), ou o próprio Senhor Sócrates, para sanar a crise, e demonstrar que ela não passava de uns afrontamentos locais da população.

A nova estratégia da Propaganda, meus amigos, é semear estes pequenos bulbões de pus, para que o Governo intervenha, com a sua maravilhosa lanceta, e finja a sua eficácia e magnanimidade apaziguadora. Não sei quem inventou a receita, mas acabou de ser desmontada aqui. É barata, eficaz e impede revoluções, enquanto a mansa legislatura desliza pelo calendário.

Não queria deixar de terminar, com mais uma pequena citação histórica, já que o Saber não ocupa lugar, como bem o provou o encerramento compulsivo da "Universidade Independente": Calígula levou o seu cavalo favorito, Incitatus, para que o Senado fizesse dele Cônsul (!). Não andava, Calígula, longe dos esteios da Contemporaneidade: há povos que até souberam pôr na Presidência da Comissão Europeia os seus próprios Incitatus. Ninguém reparou. Suponho que isso até seja típico dos povos, que no séc. XXI, estão reduzidos -- e até gostam -- de pensar tão-só com os pés...