O meu nome verdadeiro é Paulo mas, como bom homossexual que sou e homossexual bom que sou, tenho dois telemóveis. Um para a vida real e outro, enfim, para a minha vida de puta. Como nunca se sabe quem nos sai na rifa, tenho o hábito de me apresentar como se Ricardo fosse a minha graça. Tudo graças a Ricardo Reis!
Eu explico! Dentro do verdadeiro Paulo Pedroso, habitam muitas coisas distintas. Não é por acaso que Fernando Pessoa é, para mim, o maior dos poetas lusitanos. Tanto do que ele escreveu é tão naturalmente aquilo que sou, que chego a pensar estar possuído pelo EXTRA BIB SIZE XXL desse grande poeta. Dos seus três heterónimos, só o Ricardo Reis não me consegue possuir (é por isso que, na minha vida de puta, me chamo Ricardo). Adoro o heterónimo size L que dá pelo nome de Bernardo Soares. Tenho enfiado dentro de mim, o grande BIG SIZE XXL do Álvaro de Campos, que ainda por cima era bicha (e engenheira, como a outra de São Bento). E, por paradoxal que possa parecer, venero o grande BIG SIZE XXL Alberto Caeiro. Dentro de mim, vibram esses dois sublimes opostos, do mais simples, puro, ingénuo, bucólico, contemplativo, conservador, ateu, animista, ascético e passivo de Caeiro, ao mais progressista, modernista, activo, independente, estridente, futurista e hodierno de Campos.
Só o Ricardo Reis não consegue tocar-me minimamente. É assim uma espécie de vibrador ecofónico size casapiano. É por isso que, na minha vida de puta, me apresento como Ricardo... só até perceber se a outra é de confiança. Nunca se sabe!
Bem, deixo-vos agora na companhia de mais uma "derradeira esperança": a de que as saloias percebam que o verdadeiro cosmopolitismo, ao contrário dos vibradores, nunca se mediu aos palmos.
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
(Alberto Caeiro - Guardador de Rebanhos - VII)
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