segunda-feira, 30 de junho de 2008

O país que perdeu em tudo

Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
Imagem do KAOS
(NOTA: ESTE TEXTO FOI-ME DITADO A MIM, LOLA CHUPA, PELO ARREBENTA, EXILADO EM CAPRI, ATRAVÉS DE UMA MESA DE PÉ-DE-GALO, IMITAÇÃO ESTILO "QUEEN ANNE")
Para eu vir aqui falar de Futebol, imaginem em que estado de degradação a Coisa já não está... Pois está, e ainda bem que a España ganhou hoje. Não tenho nada de Iberista, sou Europeu, Ocidental, adulto e Zulu, e, por isso mesmo estou felicíssimo com que o País-que-pensa-com-os-pés tenha apanhado um valente pontapé indirecto. O Futebol, coisa que execro, ao mesmo nível dos Gatos Fedorentos, dos carros de alta cilindrada -- e tenho vários que me levam onde eu quiser, é só pedir -- e das produções do Nicolau Breyner, por muito que se queira, ou não queira, é uma das manifestações da cultura popular contemporânea. Acontece que não vai lá com causas naturais nem milagres da fé: vai com trabalho, com uma envolvente que não seja permanentemente nociva e ácida, e não é fruto de um deserto, é o estructo de toda uma maré civilizacional. Não é às finais de Futebol que a España chega, não, a España chega às finais de Ténis, de Dança Artística e de imensas outras modalidades que agora me escapam, e só lá chegou porque levou um valentíssimo virote, desde que o Generalíssimo Franco bateu a bota, pensando que deixava o futuro nas mãos de mais um inapto Bourbon, e para azar dele, o Bourbon não era inapto, e até se chamava Juan Carlos.
No mesmo tempo de integração europeia, a España deu dos mais fantásticos saltos que qualquer novo membro poderia dar: fez o luto com a Direita Extrema, arrumou os crucifixos no seu sítio próprio, as paredes das Igrejas, disse aos Ministros Opus Dei de Franco que tinha cartilhas mais interessantes para se reger, autonomizou-se, tornou cada uma das suas Regiões orgulhosa consigo mesma; montou uma rede de Alta Velocidade, fez as Revoluções Sexuais, pôs no Governo mulheres com ar avançadíssimo e europeu, teve González, que, desculpem-ma lá, mas vai sair, adorava, como eu, bonsais, acatou Aznar, e pô-lo fora, através de um memorável movimento cívico, casou um Príncipe com uma dactilógrafa anoréctica, e aceitou tudo com um sorriso simples, bate-nos nos salários, nos preços, na Cultura, na Pintura (meu deus, o que España já deu à Pintura!...), na Música, na Literatura, no Turismo, em todos os indicadores de qualidade de vida.
O que aconteceu hoje foi a mais vigorosa lição de patriotismo com que poderíamos apanhar nos cornos: finalmente, disseram-nos, preto no branco, que tínhamos falhado em tudo, sobretudo na nossa (deles) última esperança, a Merda do Futebol. Adorei ver as expressões de desilusão pela rua, porque o macho lusitano, mais a sua legítima de bigode, tinham sido atingidos com uma patada subliminar no seu brio. Afinal não bastava deitar os búzios, comprar gel, pagar orgias a putas inglesas, para se esconder a impotência, manter o segredo, os oráculos dos "balneários", os "misteres", os milhões do branqueamento, a fuga ao fisco, os apitos de todas as cores, a arrogância de uma escumalha que não sabe alinhavar a ponta de um discurso, e que, saída da barraca, tem uma tripla acção nociva, e continuada, sobre a nossa sociedade cataléptica: 1) espalhar a ideia de que a barraca pode produzir ouro; 2) que todos nós -- e este "todos" é uma mera generalização literária -- estando, na barraca, muito quietinhos -- poderemos ter, um dia, por obra e graça, direito a uma meia qualquer meia horinha wahroliana de glória; 3) que a barraca tem, afinal, uma função histórica e social, algures entre os Planos da Zona Ribeirinha e os Planos de António Vieira, António Quadros e Fernando Pessoa para a génese do Quinto Império.
A grande mensagem do Futebol, em Portugal, foi que a persistência da Barraca poderia conduzir ao advento do Quinto Império, igual à Jerusalém Celeste, idêntica em comprimento, altura e largura.
Quando vejo passar os "Meninos de Ouro" penso sempre: será que estes meninos de ouro, nos intervalos do seu ócio de meio neurónio e do seu narcisismo, fortemente alimentado por uma sociedade potencialmente homossexual, que não percebe que está a efectuar cópulas mediadas, e mediáticas, com estereótipos de homens com que nunca assumiriam poder sentir desejo, e que leva "as gajas" atrás, para fingir que está tudo bem, será que estes meninos de ouro não poderiam ter feito um pequeno esforço para apagar a Barraca de onde (quase) todos vieram, e erradicar a Barraca do nosso imaginário e penitência históricos?...
Não podem.
Para isso era necessário que soubessem o que era uma Barraca, e isso vai muito além do que poderiam sonhar, e radicaria nos Estóicos, e nas turbulências por eles provocadas em todo o Pensamento Físico e Metafísico futuros. O Atomismo da Barraca. A Barraca é sair dela, como diria Álvaro de Campos, e passar direitinho para um buraco, entre a cona e a baliza, e um par de mamas, de alta cilindrada, cuspindo para o chão, e cuspindo para trás e para o lado, para cima de todos nós, que pagamos este folclore caríssimo, que mais não é do que uma metáfora do desastre presente.
Hoje, dei comigo a olhar para o Velhote, o Aragonês, e a sentir uma enorme simpatia por ele. Parecia, ao nível do pé, Lao-Tsé, e isso é complicado, sobretudo quando pomos a comparação naquela coisa dúbia, pegajosa e venal, que agora foi trabalhar para a Máfia Russa do Chelsea. Máfias, Russas, dinheiros sujos e alternidades, nisso, sim, somos exímios.
Gostei de ver o Rey, e sentir que era uma PRESENÇA, ao contrário do Aníbal, que sempre que aparece, imediatamente traz às memórias da mente e do coração um corropio de anedotas rascas, piores do que a qualidade dos tecidos que a Maria veste. Gostava de saber se Zapatero, ou Asznar, andaram na "Independente", e se se teriam mantido no posto, se tivesse havido um escândalo de diplomas, como houve por cá. O Duque de Féria foi à vida, com o escândalo da Casa Pia de lá, e era Grande de España. Baltazar Garzón foi a Santiago buscar, pelas orelhas, o criminoso Pinochet. A España abriu precedentes de condenação internacional, para criminosos sem fronteiras, e não os coloca na OCDE, ou lhes arranja exílios dourados onde calha.
Portugal é a sombra que se desenha no chão, sempre que a luz da Europa incide, em cheio, no perfil da centrífuga España.
Hoje, num extremo ao outro do quadrado cispirenaico, com todas as suas nacionalidades e tradições, sentiu-se um momento de unidade, e nós apanhámos com as sobras psicanalíticas em cima, e vamos ficar meses a fazer a (in)digestão.
Eu sei que isto já chegava para o texto de hoje, mas quero ainda partir um pouco mais: a China, parca de recursos, e carente de energia, lançou mão a tudo o que pode em Angola, e apoia descaradamente aquele cangalho insolente do Zimbabué, porque só tem a visibilidade que lhe dão. Os últimos a apertarem-lhe a mão foram os dois escroques que a nós, Europeus civilizados, apertam o pescoço: Sócrates e o "Cherne". Disseram-lhe que estava tudo bem, e ele podia continuar, e ele, preto, velho, badalhoco, racista, homófobo, assassino, misógino e todas as outras qualidades que um ser humano pode reunir, acreditou, e passou a sofrer da Síndroma de Saddam: "eles" nunca se atreverão a fazer-me mal... Engano. Aparentemente a Condolezza, outra das nódoas da nossa Contemporaneidade, já lhe tirou o tapete e revelou o verdadeiro jogo: as Potências preparam-se para redesenhar o Mapa-Cor-de-Rosa, de Angola à contra-costa: primeiro, um artolas cantador, que disse que Luanda era governada por criminosos -- espantosa novidade... -- e, agora, ao lado, temos o novo alvo, e só Mozambique está salvaguardada, porque os "Boers", cabelo cenoura e olho azul, foram para lá reconstruir a perdida África do Sul. A China é discreta, mas, ao atacar-se o Mugabe, o tiro é para atingir Pequim, como se no Mundo não houvesse outras prioridades ao nível do Zimbábue.
Infelizmente, neste "Príncipe" alargado, o Príncipe da Baixaria, a lei continua a ser a do toma-lá-dá-cá: levais a Coreia do Norte, que não vale um caracol, e deixou de ser O MAL (!), em troca, nós avançamos pelos recursos africanos. Olha, querida, por que não fazes antes um ensaio geral de indignação na Birmânia, em Darfur nos desgraçados todos de cujas terras já nem me lembro, mas não têm recursos debaixo dos pés?... Esse é o próximo filme, no dia em que, psicanaliticamente, apanhámos um valente pontapé nos colhões. É certo que ficámos sem nada... perdão, errei, ainda temos Fátima, a Mariza, e 93,7% de sucesso nas Provas de Aferição de Matemática, e podemos dedicar-nos a fugir da bomba sem pagar, ao "carjacking" e a inaugurar os fogos-postos nas florestas, que a época oficial abre amanhã. Civilização, suponho eu.

3 comentários:

quink644 disse...

Excelente cum laude !!!

Anónimo disse...

Evidentemente - o que é demais é moléstia.

Jaime Dinis disse...

Caro Arrebenta,
Apreciei bastante a tua perspectiva do actual estado social (atenção à relatividade do tempo) e do natural e previsível grito de “Merda! Já Chega!”
Sou amigo do quink644 há algumas décadas e, em troca de palavras, o mesmo recomendou-me vivamente que lesse este teu Post.
Por ser verdadeiro e pertinente o seu conteúdo, tem sido motivo para n conversas de café entre amigos, de serões, de escritos, etc. E não é de agora. Tenho 42 anos e a realidade que focas vigora, só para simplificar temporalmente, pelo menos desde a revolução dos cravos.
Tem-se agravado de dia para dia, é certo, mas na sua essência a causa é a mesma: O primado da economia, ou melhor, do Euro e do Dólar, em relação a tudo que o que é ciência, causas sociais, bem-estar dos cidadãos, valores, justiça, etc., etc.
Havia (há?) um cartaz que alguns médicos idiotas ostentavam nos seus consultórios e no qual figurava a seguinte afirmação: “Enquanto a vida humana for o primeiro dos bens, a medicina será sempre a primeira das ciências”.
Por cá, não querendo plagiar tão ilustre figurativo, podemos afirmar que “Enquanto o Dólar e o Euro forem o primeiro dos bens, esqueçam sempre tudo o resto…”
Solução?
Revolução legitima.
Não existe democracia (Coitado do Churchill. Se ele soubesse o quanto imperfeita esta mais se tornou…), não existe qualidade de vida, mandam os mafiosos, desonestos e corruptos, angariam-se votos à conta de ferros de engomar e micro-ondas…
Para mim, chega de pertinentes reproduções sistemáticas da realidade e avançar, como sempre se fez historicamente, para uma nova ordem social. Estou-me, de todo, nas tintas, para as consequências ou limitações que se deparem. Triunfem de vez as ideias!
Cada vez mais, acredito que devemos trabalhar na única alternativa que vislumbro. Sem cravos, de preferência.

Cumprimentos,
Jaime Dinis