Imagem do KAOS
Dedicado à E-Ko, à Kaotica, à Dalila, à Stamina, à brit com, às restantes mulheres deste blogue, mesmo à sombra que por aqui pairou, em tempos de maior lustro e paz, Sofia Bochmann, que esta semana apagou um texto magnífico, justamente quando eu o ia louvar...
Este seria um texto político, se não fosse um texto para um tempo de luto. As tardes são eufóricas, a grande festa -- desconheço o calendário -- no Santuário Hindú do Lumiar, uma longuíssima conversa no Hospital da Força Aérea sobre o Final dos Tempos, o horror da mestiçagem lusitana, num arraial de... não me apetece dizer onde, e a lua, em minguante, e a tremenda suspeita de que a próxima lua cheia trará transtornos muito para além do que possamos imaginar.
A Europa está acéfala: treme, como estrebucham os guilhotinados, durante o Terror. Num disparate qualquer publicado no "Diário de Notícias", diz-se que Sarkozy herda uma crise gerada pela Irlanda. Só a própria inversão dos termos dá a dimensão do Dislate. A verdade é outra: a rasteira irlandesa foi uma nódoa imprevista na passadeira vermelha pela qual Sarkozy, uma figura indigna de Grandes Épocas e adequada a períodos de luz crepuscular, se preparava para caminhar. Sarkozy, com os seus permanentes tiques (coca?) parece um disléxico físico, e irá arrastar para a sua dislexia mais três meses de agonia da Europa, durante os quais teremos um colapso das Bolsas, um choque petrolífero, um crime, em Pequim, e diversas explosões sociais, em mancha de óleo.
As primeiras vocês já sabem o que são, a última reservo-me o direito de a explicar: num crescendo de gentes sem expectativas, num acrescer das massas sem nada a perder, findado o Futebol, blindada a Droga, pelo exaurir dos recursos, caída a trincheira em todos os álcoois, mesmo cortada a Net, por falta de pagamento, sem crédito nos telemóveis, separada a geração a quem tinham prometido o "Dolce Fare Niente" dos meios para o consumar, vai-se abrir uma guerra sem frentes de batalha específicas, acéfala de ideologias e objectivos, e marcada pelo nihilismo da destruição dos bens materiais.
O teu inimigo, Cidadão dos Próximos Meses, é aquele que (ainda) detém mais do que tu, e que tu executarás impiedosamente.
Não se iludam: não haverá defesas. Os bandos, em fúria, assanhados pela Lua e pelos calores do Estio, enlouquecidos pelos fumos dos incêndios que nenhuma viatura já conseguirá apagar, começarão a queimar tudo em seu redor, matarão o primeiro inimigo, e todos seremos inimigos uns dos outros, e vandalizarão, tão só porque sim, porque isso erguerá os níveis da adrenalina a todos os zénites, e o Mundo, que esta gente esgotou em comparações com estádios de futebol, será imerso em marés de "hooligans", sem jogos, mas necessidade de destruir. A Roma tardia sabe o que isso lhe custou, e Teodora reconstruiu Constantinopla depois da Revolta de Niké, uma porcaria equivalente a um jogo entre os suburbanos de um qualquer dos Clubes do Pé nacionais.
Não, nada disto é interessante: é uma sociedade que vai estagnar, parando, como na ficção científica, aos poucos. Deixaremos de comunicar por telemóveis, por sms e por Internet. A televisão será racionada, assim como os períodos de fornecimento de electricidade. Não por acaso, as noites de Lisboa são agora mais iluminadas pelas luzes azuis dos carros de Polícia do que pelos postes de iluminação.
A Medusa herdada desse homem miserável que está no Palácio de Belém, um dos momentos mais baixos da já pouco venerável República, é um país de más estradas, de estradas onde se pilhou quanto se pode, e se cometeu o erro, fatalíssimo, herdado daquela bruxa inglesa, uma sopeira -- lembro-me de a ver, numa velha foto, a preto e branco, numa "chaise- longue", exactamente na posição da "Olympia" de Manet, mas nada da pose e olhar seguro de Victorine Meurent, a modelo do artista, mas no único olhar que ela poderia deter, a de uma porteira inglesa, má nota -- e que iria acabar em Baronesa Tatcher, depois de lançar a Inglaterra nas trevas do Neo-Liberalismo. Essa mulher, uma espécie de Ferreira Leite do Obsceno, escaqueirou a rede ferroviária inglesa, poderosíssima, e herdada da Revolução Industrial, coisa que o Filho do Homem da Bomba, na sua infinita saloice, imediatamente importou para cá, -- releiam a célebre entrevista -- isolando o país, através de estradas, coisa que, se tivesse lido Clausewitz, foi um erro fatal: todos os estrategas da Guerra sabem, que, em caso de confronto, têm de estar salvaguardadas várias, ou, pelo menos, uma via de retiro, em caso de derrota. Como diz Diderot, "levará um século inteiro a reparar um só mal de uma década", mas espero que seja o Cavaco ainda em vida a pagar todo o mal que nos fez.
Um país, no qual subitamente se decidam bloquear as estradas, não tem possibilidade de recuo, aviões em terra, pela escassez e carestia dos combustíveis, e destroçado nos seus nós ferroviários. Como ciganos, recuaremos a um atroz medievalismo, de mulas atravessando riachos, e levando semanas a abastecer uma sociedade isolada, esfomeada e desestruturada.
Dois seres lastimáveis, um, mais do que o outro, porque suponho António Costa uma mente brilhante, brilhante ao ponto de Sócrates, um medíocre, oportunista e capaz de tudo, o ter empurrado para a prova de fogo da Câmara de uma cidade que vai explodir; o outro, Rui Rio, que tem tudo estampado na cara, regressaram, depois de terem ido, a Bilderberg.
Estas coisas, para Cassandra, não vêm por acaso.
No regresso, a alma menor, Rui Rio, descobriu, subitamente, a Regionalização, e como ela era benéfica para o País, mas só depois de ter ido receber ordens. Por toda a parte se ergueram vozes de júbilo, mas a realidade é pior. Esses cavalheiros, com o execrável Marcelo Rebelo de Sousa à cabeça -- o homem que exigiu o Referendo da Regionalização, lembram-se?... -- foram agora informados, pelos Senhores do Mundo, de que é muito perigoso ter um litoral de barracas, muito abaixo dos HLM de Paris, quando a COISA estoirar. Convém re-atirar a populaça, dos que nada têm, para o Interior.
Portugal tem sido o banco de ensaios de muita coisa, e todo o protagonismo, perdão, o pseudo-protagonismo dos últimos anos não foi ingénuo: este ex-país foi o cenário ideal para ver como se poderia gerir uma Europa futura, com baixos salários, baixíssimas qualificações, e altíssimos níveis de resignação e uma estrutura cultural baseada na inveja dos pequenos valores e no masoquismo do suportar das situações extremas, coroado por adrenalinas futebolísticas.
Há limiares abaixo, ou acima, como queiram, dos quais a coisa estoira, e uma enorme barreira de betão, à beira-mar plantada, cheia de "hooligans", sem emprego, sem casa, sem dinheiro para a gasolina dos "racings", com o sexo racionado, sem comida, com os últimos euros dissipados em garrafas de cerveja e vinho rasca, milhões, acotovelados em redor de ondas brandas, cheias de lixo de garrafas de plástico, de "cotonettes", de preservativos e "tampax", sem nada para onde se virarem, poderiam ser um perigosíssimo exemplo para uma explosão generalizada da Margem Oriental do Oceano do Ocidente...
Nada disso convém à Nova Ordem, e, embora eu suponha que tarde demais, foram chamados ao Santo dos Santos. Sei, mas eles não sabem, que o tempo já passou, e já não estão à altura da tarefa: a Coisa já ultrapassou os limites do dominável: é o limite da Catástrofe da Cúspide, de Thom, no seu patamar de derivação dz/dxdy=0, ou seja o Máximo Absoluto que antecede o imediato precipício.
Nem os cavalheiros António Costa, nem o medianíssimo Rui Rio alguma vez perceberão o que isso quer dizer, mas ISSO aí está, justamente no período em que Portugal precisaria de grandes políticos, à altura de um Desastre Incomensurável: esses políticos, de polichinelo, chamam-se Aníbal, Ferreira Leite, e o "Zé", da "Independente", pelo que a coisa vai sobrar, sem "air-bag", mesmo para nós. Um Governo de Idiotas, que mesmo à luz da segurança militar, se esqueceu daquilo que vem em todos os manuais de prevenção: nunca colocar um rio entre um Governo, que, em caso de crise, necessite de fugir do país, e um aeroporto. Era o argumento de ouro para a Ota, seus imbecis, e, felizmente, não se lembraram dele...
Dir-me-ão que, quando a coisa estoirar ainda a Portela estará aberta, sim, estará e haverá Tires, se houver combustível, mas a fuga seria ridícula. Somos pouco de matar, mas, quando matamos... matamos mesmo.
Irei gostar de estar cá, para ver essa Fuga de Varennes, desengonçada, como tudo o que saiu das almas medíocres que nos levaram ao fundo, uma enorme carruagem, detida por massas enfurecidas, com os rostos de Fim do Mundo, à janela: o do Aníbal, de Boliqueime, o da Maria, e a Câncio, no papel de Madame Elisabeth, le petit dauphin, quiçá Constâncio-filho, e Sócrates, como Maria Antonieta, com o seu Axel de Fersen disfarçado de cocheiro, nesta próxima hora de agonia.
O grave é que ela está para estoirar.
7 comentários:
«mesmo cortada a Net, por falta de pagamento»
Podem crer. No dia em que me cortarem a internet (e o acesso a este blog) não tenho mais nada para fazer senão fazer correr sangue. :>
Não acredito. Conheço demasiado bem este país, infelizmente. Só imitando lá de fora. Isso talvez.
país medíocre... políticos medíocres... políticas medíocres. e, com todas as críticas que possa fazer à UE, até acho que sem ela isto ainda estaria muito pior.
os políticos desta terra só veem os seus próprios interesses e é preciso os estudos e controles externos e divulgados para verem certos problemas e ainda é preciso que lhes digam o que devem fazer... sim, porque o deixa andar e a demagogia é só o que sabem!
o programa da festa é preparar um festival digital de música para a mesma data no ano que vem... alinhas? uma coisa de arromba ou de arrebenta! já que a mediocridade ambiente não leva a nada, que se façam festas de música e de arte... para ao menos não estarmos à espera das políticas de cultura medíocres à imagem dos políticos que temos que refugiam as suas pobres opções com a desculpa da falta de verbas.
A expressão "ano que vem" não consta do meu vocabulário...
Arrebenta, o que gosto em ti é essa capacidade de colocar em palavras aquilo que eu vejo na bola de cristal dos meus pesadelos que infelizmente não têm nem som nem imagem que me permitam mostrá-los.
Kaos, justamente o que eu não gosto em ti é essa sintonia.
Já te deu para as lotarias brancas, ou só para as negras?... :-\
Esqueceste-te do Almeida Santos, o único visionário a dizer que o aeroporto colocado na outra margem era perigoso em caso de um ataque terrorista se efectivar na ponte. No outro dia ouvi uma entrevista com ele no rádio e o homem está possesso, perfeitamente convencido que vai ser comandado por um supra governo (Bilderberg?) e mostrando-se calmo e tranquilo com a ideia ("take it easy baby que há milhões de gajos inteligentes a pensar em tudo enquanto tu adormeces sem pensar em nada")
Pois eu cada vez vejo as pessoas mais afundadas em trabalho, trabalhinho, porreirinho da silva, alheadas, conformadas e formatadas. O Carvalho da Silva sobe ao púlpito, diz que o restolho está seco e que bastará chegar-lhe um fósforo para o incendiar. Depois convoca outra vez os trabalhadores e diz-lhes que fomos enganados. Tudo verdadinha, quem poderá duvidar? Fomos enganados por ele e pelas estruturas sindicais!
Acabada a manif, tirada a pressão à panela, manda-nos a todos apanhar as camionetas de regresso e lá recomeça a negociação do nosso engano, nas nossas costas.
Sim, tudo é possível. Mas não vai ser por aqui que se vai atear a grande fogueira. Somos demasiado abovinados para nos revoltarmos e muitos de nós até acham graça aos palhaços que se colocam a jeito para os lugares do poder. Até porque não têm poder nenhum, são os borra-botas de Bilderberg. São carneiros dóceis a mando dos lobos
Obrigada pela dedicatória!
Se o país não rebentar pela verdade do texto, rebentará pela forma do texto!
Não quero acreditar na presciência aqui anunciada mas que ela tem pernas para andar, lá isso tem!
Parabéns! Esta noite mesmo, vou começar a dar pontapés nos contentores de lixo! E viva a anarquia!
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