sexta-feira, 6 de junho de 2008

Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas

No Relatório sobre a Situação Social na União Europeia em 2007, (...) Portugal aparece como o Estado-membro com maiores disparidades na distribuição dos rendimentos, ultrapassando mesmo o Estados Unidos (um país tradicionalmente muito desiquilibrado socialmente) nos índices de desigualdade. O relatório mostra que, em todos os Estados-membros da União Europeia, os rendimentos se repartem mais uniformemente do que nos EUA. Apenas com uma única excepção: a de Portugal.

Este facto económico, social e (não o esqueçamos!) sobretudo político ajuda a explicar o clima de depressão e pessimismo social que se vive (...) fazendo correr rios de tinta de indagações, que vão da psicanálise mítica à interpretação histórica, da análise social à avaliação económica. Agora, podemos certamente conhecer melhor a causa deste mal-estar social que tudo corrói e compromete: os portugueses estão insatisfeitos porque são pobres e não têm o suficiente para viver. Mas estão sobretudo deprimidos porque, além de pobres, se sentem vítimas de injustiça social e de um fatalismo que os persegue, assistindo diariamente ao espectáculo indigno da desigualdade injusta, da arrogância social e do exibicionismo indecoroso daqueles que, na maior parte dos casos, acumulam riqueza usando métodos opacos, quando não ilegítimos. As escandalosas remunerações dos gestores; (...) a resignação perante a miséria dos mais velhos, condenados a "vegetar", como se de uma "coisa normal e natural" se tratasse; o silêncio perante situações desesperadas geradas pelo desemprego de indivíduos sozinhos e de famílias inteiras; a descrença da juventude, que não tem saídas profissionais, e que levou alguém a dizer recentemente que já não estamos perante uma "geração rasca", mas sim perante "uma geração à rasca"; a insegurança crescente no emprego e na reforma, provocando medo, subserviência e passividade; o aumento de terríveis nós de fragilidade numa sociedade já de si tão vulnerável; a dissolução de vínculos sociais tradicionais e o enfraquecimento da coesão social, gerando um clima de egoísmo, irresponsabilidade e de "salve-se quem puder" - eis uma lista de alguns graves males sociais que nos afectam e deprimem, gerando indiferença e apatia, e revelando a fragilidade crescente da nossa classe média.

Em vez de responder a todos os problemas com um discurso de um novo-riquismo tecnocrata e economicista, que lhe dá a ingénua e provinciana sensação de que são "modernos", os nossos políticos deviam enfrentar sem rodeios nem álibis os índices reiterados e inadmissíveis das nossas desigualdades, denunciados neste Relatório Europeu sobre a Situação Social, e compreender que os portugueses têm todas as razões para estarem pessimistas. É que só há uma coisa pior do que a pobreza. É a pobreza injusta, que ameaça o sentimento de dignidade pessoas e destrói o sentido de comunidade. Sem esse sentimentos e esse sentido, não há esperança, nem mobilização, nem futuro.

Focus

Subscrevo.

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