segunda-feira, 16 de junho de 2008

Joseph Stiglitz, prémio Nobel de economia: «o modo de vida americano é insustentável»

"O prémio Nobel de economia, com o custo da guerra no Iraque, explica como este conflito fez explodir o modelo de crescimento económico americano, levando às crises planetárias que conhecemos." Excertos duma entrevista para ver aqui.

“Em primeiro lugar, a guerra contribuiu para o aumento dos preços do petróleo. Os preços subiram bem para além dos 100 dólares por barril e os especialistas mais prudentes estimam que 5 a 10 dólares desse aumento a ele se devem. Em 2002, os mercados energéticos tinham analisado a evolução do preço do petróleo para os dez anos que se seguiam. Segundo eles, a produção seguiria o crescimento da procura e que o preço do barril permaneceria relativamente estável. O Iraque veio alterar totalmente a equação, principalmente devido à instabilidade provocada no Próximo-Oriente. E um dos efeitos perversos foi o dos produtores de petróleo, que obtiveram ganhos mais importantes, e alguns decidiram não aumentar a sua produção. Depois, há a considerar os fracos retornos do investimento desta guerra. O dinheiro gasto no Iraque, quando pagamos uma empresa de construção nepalesa por exemplo, não beneficia do mesmo modo a economia americana que se construísse uma escola ou um parque de jogos. "

"A intervenção no Iraque terá influenciado a crise das subprimes… oh que sim. O Presidente Bush declarou que a guerra não tinha nada a ver com os problemas económicos, que os americanos só tinham construído e comprado casas demais. Mas é necessário tentar perceber. Porque a economia americana se encontrava fragilizada, a FED (Reserva Federal) quis criar mais liquidez, ela decidiu então deixar as taxas de empréstimo muito baixas permitindo que se desenvolvessem inúmeros produtos de crédito, sem qualquer controle. O que permitiu manter a actividade a um certo nível durante um certo tempo, o que preservou também a bolha imobiliária. A economia americana já tinha problemas e a guerra no Iraque agravou-os. Os economistas acreditaram que tínhamos entrado numa nova era. A subida do preço do petróleo parecia não afectar tanto a economia, não tanto como como aconteceu nos anos 70. Mas afinal, foi por se ter suportado fortemente esta mesma economia que o efeito era atenuado. Num ano, em 2006, mais de 900 milhões de dólares foram destinados ao reembolso do empréstimo. É enorme numa economia que pesa 13 triliões de dólares. O problema é que nessa altura se está já à beira da recessão e que a margem de manobra se reduz consideravelmente. O défice americano será mais do que provavelmente de 500 milhares de dólares: não há mais meios para estimular a economia.”

"Muitos bancos europeus compraram produtos derivados das subprimes e estão a ressentir-se. Para além de que, com o abrandamento da economia americana. Uma das raras forças é a exportação, pelo enfraquecimento do dólar em relação ao dólar. Tudo isto não é bom para a Europa."

"A crise do petróleo está ligada à situação da guerra no Iraque. A das subprimes, uma consequência da guerra e da subida do preço do petróleo. A crise alimentar, através dos bio carburantes, resulta da crise petrolífera. A Índia teve razão de se mostrar irritada quando George Bush apontou o dedo às economias emergentes como responsáveis da crise alimentar mundial. Ora em matéria de agricultura, não há nenhuma surpresa: os chineses não tomaram a decisão de comer mais cereais e carne de porco dum dia para o outro. A verdadeira surpresa, o acontecimento totalmente inesperado foi a guerra no Iraque. E como o preço do petróleo aumentou de forma rápida e violenta, os USA aumentaram as subvenções à produção de etanol, provocando aumentos nos cereais… "

"A ONU desenvolveu um indicador do desenvolvimento humano, que integra o que é gasto em matéria de educação ou saúde… E bem à luz desta estatística, os Estados Unidos passam a ser a décima economia mundial. O que se passa nos US é contrário ao que ensina a teoria económica elementar. Segundo ela, quando uma economia se torna mais produtiva, é possível dispor-se de mais tempo livre. Ora os US evoluem no sentido contrário. Qualquer coisa não está a funcionar. Por outro lado, o modo de consumo e de produção americano, não é sustentável em matéria de preservação do planeta. Com o modelo americano, o mundo não é viável. Em menos de cem anos a China vai ter a capacidade de consumir o que consome os US. Se assim for, será uma catástrofe para o planeta. E como é impossível dizer aos países em vias de desenvolvimento, «vocês vão ter de vos restringir para que possamos continuar a consumir o fazemos hoje», não haverá outra alternativa à mudança do modelo de crescimento económico.”

1 comentário:

Paulo Pedroso disse...

Vamos lá escalpelizar este texto.

"Em primeiro lugar, a guerra contribuiu para o aumento dos preços do petróleo."
Grande novidade!!!
E eu que pensava que, segundo as suas esclarecidas teorias, a coisa funcionava ao contrário: os preços estavam a aumentar para financiar a Guerra! LOL

Se a menina conseguir explicar, à luz deste texto, a afirmação de que o aumento do preço do petróleo serviu para financiar a Guerra do Iraque, dou-lhe 20 valores. Sucede que isso é, simplesmente impossível de demonstrar, como já deve ter percebido. Só é pena não ter percebido que andou anos a acreditar piamente que o preço do petróleo estava a aumentar para pagar essa guerra, não é? Teorias Ekonómicas!

"A verdadeira surpresa, o acontecimento totalmente inesperado foi a guerra no Iraque."
A propósito da crise alimentar: Curioso, e eu a pensar que essa guerra já existe há anos, mas o aumento dos preços de bens alimentares só começou a dar-se quando países como a China, a Índia e o Brasil (economias emergentes) começaram a restringir o comércio internacional (exportações) dos cereais que produziam. Coincidências, certamente!

Curiosidade ENORME, do tamanho dos BIG SIZES que tanto aprecia, é o minúsculo valor que a guerra provocou na cotação do petróleo: de 5 a 10 dólares...

" E bem à luz desta estatística, os Estados Unidos passam a ser a décima economia mundial."
Em compensação, à luz dessa mesma estatística, os países que a sua respeitada amiga saloia Odete Santos tanto adora, estão, huum, deixe ver bem... no fim da escala? Pois, precisamente lá mais para o fim é onde andam os regimes que nunca alguém jamais viu a E-Ko abrir a boca para tecer uma criticazinha que fosse. Certamente, é só uma pequena coincidência.

"o modo de consumo e de produção americano, não é sustentável em matéria de preservação do planeta. Com o modelo americano, o mundo não é viável."
Também não precisávamos desta grande novidade. Já sabíamos isso há muito tempo.
Resta apenas deixar-lhe uma pequeníssima grande pergunta: E, por acaso, com o modelo europeu, o mundo é viável? Por acaso, o modo de consumo e de produção europeu , é sustentável em matéria de preservação do planeta?
Pois é, sua espertalhona! É este tipo de antiamericanismo que Revel escalpeliza e muito bem. Europeus armados em espertos a criticar nos EUA aquilo que também fazem.

Aliás, para que é a E-Ko andou a organizar greves à GALP. Porque queria o produto mais barato, não é? E o que é que acontece quando o produto está mais barato? Não sabe? Já sabemos que não percebe nada da Lei da Oferta e da Procura. Eu explico, querida! Quando o combustível esstá mais barato, consome-se muito mais. Por isso, para que é que barafusta para ter combustível mais barato? Para que se possa gastar mais à fartazana. E depois, ainda aparecem estes europeus a apontar o dedo aos Norte-Americanos, dizendo que consomem muito.

Costuma-se dizer que se não fosse ridículo seria risível. Vocês, antiamericanos primários, conseguem o pleno. Apontam o dedinho aos EUA, e dizem que o modelo de vida deles não é compatível com a sustentabilidade do planeta, como se o modelo de vida que vocês tanto desejam não seja o mesmo.

Só para terminar: "Em menos de cem anos a China vai ter a capacidade de consumir o que consome os US. Se assim for, será uma catástrofe para o planeta. E como é impossível dizer aos países em vias de desenvolvimento, «vocês vão ter de vos restringir para que possamos continuar a consumir o fazemos hoje», não haverá outra alternativa à mudança do modelo de crescimento económico.”
Que é que eu tenho dito e redito aqui no Braganza Mothers, a não ser precisamente isto, que levou a menina a criticar-me constantemente?

Uma vez mais, mais valia estar quietinha.