Na noite de estreia de "A Sagração da Primavera", uma dondoca francesa, velha como o peso dos séculos, não pôde deixar de exclamar: "Nunca, em toda a minha vida, fui tão insultada". Certamente, para a velha senhora, a fealdade da obra de Stravinsky, jamais poderia beneficiar do direito à divulgação. Hoje, como então, temos de aturar quem acha que a fealdade deve usufruir apenas de um único direito: ficar fechada num armário. A exposição da fealdade é algo que horroriza os espíritos simples, habituados que estão a consumir apenas arte bela que seja palatável, tragável, digerível e expulsável.
Para estes espíritos simples, a publicação de uma foto, de um qualquer ser humano, é legítima, desde que ela seja palatável aos seus sensíveis olhos. Nessas circunstâncias, pode a imagem estar completamente descontextualizada, que jamais estaremos perante um abuso!!!
Se for feio, horrível, desarmonioso, "desfigurado, mesquinho, débil, vil, banal, casual, arbitrário, grosseiro, repugnante, desajeitado, horrendo, sensaborão, nauseabundo, criminoso, espectral, bruxo, satânico, repelente, desagradável, grotesco, abominável, odioso, indecente, imundo, porco, obsceno, pavoroso, abjecto, monstruoso, horripilante, medonho, terrível, terrificante, tremendo, repulsivo, nojento, nauseabundo, fétido, ignóbil, desgraçado, sem graça nenhuma nem decência", já não pode ser divulgado. É o Direito em todo o seu esplendor. Em nome da saúde dos nossos sensíveis olhos, podemos ver um milhão de fotos descontextualizadas que jamais nos incomodamos... desde que elas sejam apetecíveis... e, melhor ainda, que os seus donos tenham sardas XXL. Mas, pelo contrário, a publicação de uma foto de uma cara disforme é, obviamente, um abuso. Só pode! Não há outras alternativas, intenções ou objectivos.
O feio faz parte do nosso Mundo. Sempre fará! A maior de todas as discriminações é aquela que resulta dos que querem esconder o feio, como se ele não tivesse direito à luz do dia, como se ele não merecesse estar ao lado do belo... Como se o feio não pudesse ocupar o seu lugar, ao lado do belo e proclamar, alto e bom som o seu direito à existência. Até porque, desde quando temos nós patrões para o bom gosto e polícias para a estética? Quem disse à E-ko que eu, ou outra pessoa qualquer, não encontra maior beleza numa daquelas fotos, do que nas fotos de Tom Cruise que andam por aí aos milhões? Quem são os verdadeiros discriminadores, senão aqueles que querem esconder a fealdade?
Aposto que, se fosse possível interrogar o cadáver da velha senhora francesa, ainda hoje ela diria que "A Sagração da Primavera" jamais deveria ser executada. Eu limito-me a ter pena de quem, não conseguindo entender as minhas óbvias intenções, se tenha agarrado a parvoíces sobre o direito à imagem. Até parece que o pobre Huang não sabe que a sua imagem corre Mundo. Até parece que a sua imagem foi publicada aqui pela primeira vez. Até parece que a velha senhora francesa reincarnou numa hipócrita que acha que só há direito à imagem quando se é feio ou doente.
2 comentários:
não misture alhos com bugalhos, para justificar o injustificável...
cure-se da sua histeria... para não dizer outra coisa! já que nem foi capaz de entender o humor da imagem da capa do livro da Tachen!
Querida, não sem nem alhos, nem bugalhos... são car..... Daqueles que você gosta.
E não se faça agora de virgem, querendo fazer passar por humor aquilo que teve todas as intenções menos essa.
Quanto à histeria, querida, já sabíamos que a menina não tem nenhum problema em ensinar Sociologia a Sociólogos e Economia a Economistas. Só nos faltava conhecer essa sua última especialidade: a Psiquiatria.
Estou curioso quanto ao dia em que a menina nos vai esclarecer sobre Direito, Física Nuclear, Química Orgânica, Óptica, Filosofia, Engenharia do Papel, Engenharia Aeronáutica, Zoologia, Genética...
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