terça-feira, 17 de junho de 2008

Carceragem

[conto]

Meu nome é João.

Tenho 53 anos.

Nasci na Bela Vista, em São Paulo.

Estudei até a sétima série, quando fui morar nas ruas, fugindo da violência alcoólatra de meu pai.

Aos 29, peguei 86 anos de prisão, mas devo sair aos 59, daqui seis anos.

Eu morava no Carandiru.

Aos 48, ganhei uma cela só para mim, no Pavilhão 5.

Quando cheguei lá, me disseram que o morador antigo havia sido assassinado na Rua 10, por um antigo desafeto que havia sido transferido para o Carandiru.

No primeiro domingo, segui meu ritual de permanecer na cela escondido das visitas.

Desde que minha mulher havia me abandonado, quando fui preso, após tudo o que fiz por ela, decidi nunca mais me relacionar com mulher nenhuma.

Nunca recebi nenhuma visita de nenhum outro parente.

Ver os presos recebendo suas visitas, íntimas ou não, me deprimia.

Mas naquele primeiro domingo na nova cela, uma mulher bateu na porta.

Usava saia. Achei que era como as outras mulheres que visitavam seus companheiros, para facilitar a intimidade.

Mas logo percebi que tinha aspecto de evangélica.

Cabelos grandes e mal-cuidados, maquiagem nenhuma.

- Boa tarde. Onde está o Raimundo? – ela perguntou.

- O Raimundo que morava aqui antes?

- Morava por quê? Ele foi transferido?

- A senhora é o que dele?

- Amiga.

- Devo lhe dizer que o Raimundo, pelo que me disseram, morreu.

Colocou as mãos no rosto, dizendo ai Jesus. E começou a chorar.

- Por que não se informa melhor? – sugeri a ela.

Ela foi perguntar a um carcereiro e achei que iria me deixar em paz. Mas ela voltou e pediu para conversar comigo.

- Deseja algo?

- Conversar. Posso?

Já ia dizer que não, mas ela entrou e se sentou na minha cama.

Encostei impulsivamente a porta de ferro da cela e me sentei numa cadeira a sua frente.

- Qual é o seu nome? – perguntou.

- João.

- Bonito nome. Meu apóstolo favorito.

Comecei a comer aquela crente, todo domingo. Meus amigos me cumprimentaram, disseram que eu me sentia mais feliz e tudo. Ninguém, respeitosamente , comentou o fato de que era a “viúva” do Raimundo que havia sido morto.

A tal crente, cujo nome era Terezinha, era casada e tinha três filhos. 45 anos. Mas vagabunda que só ela. Me chupava, bebia porra, dava o cu gritando de gozo, me mandava chupar sua boceta prendendo minha cabeça com as mãos e coxas e antes de ir embora, ainda me cavalgava. Eu gozava 4, 5 vezes. Ela, 40, 50 vezes.

Mas o Carandiru foi desativado e fui enviado ao Centro de Reabilitação Penitenciária de Taubaté, um dos presídios mais casca-grossas de São Paulo. Mas ela me garantiu que iria continuar me visitando.

Cheguei numa terça-feira. Fui colocado numa cela com outro preso, chamado Raimundo.

Ele havia morado no Carandiru e transferido para o CRP através do trabalho de seus advogados. Era um traficante poderoso. E lá no Carandiru, ainda havia conseguido subornar os funcionários para que contassem aos outros presos que ele havia sido assassinado na Rua 10. Queria ficar longe de seu inimigo mortal, o Loiola.

De quebra, aproveitaria para se livrar de uma crente safada, a quem já estava querendo dar um pé, pois havia conseguido uma nova visita íntima.

- Mas você é um cara poderoso, por que se submetia àquela mulher? – perguntei.

- Ela era mais velha que eu e fazia cada coisa que mulher nenhuma no mundo seria capaz de fazer. Mas eu enjoei e ela veio com aquele papo de que estava apaixonada por mim e queria que eu virasse crente também. O pior é que eu não tinha coragem de mandá-la andar simplesmente. Agora ela pensa que eu morri.

Pois é, hoje é domingo e são 5h30m da manhã.

Não consigo dormir.

Logo, logo, Terezinha vai entrar por esta porta.

Com que cara eu vou ficar, meu Deus?

3 comentários:

e-ko disse...

gostei do seu conto.

abraço

Paulo Pedroso disse...

É melhor começar a rezar, né?

:-))

Arrebenta disse...

Tenho de juntar este blogue à nossa família, mas ainda não alterei as ligações :-)