sexta-feira, 16 de maio de 2008

Flagrantes da vida Brical


Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas



Recordo-me bem daquela noite de finais dos anos setenta. Às sextas-feiras, a porta do Bric atravancava-se de gente desejosa de entrar. Era o tempo em que às dez, já estava a casa cheia, para a verdadeira noite começar após o fecho da discoteca, por volta das 2.30H da manhã. Não havia pastilhas, não havia carros privados para os rapazes, não havia muito dinheiro nem se chulava a família. Os rapazes contentavam-se com pouco, mas o sexo, esse, não faltava e após o "Cheira bem cheira a Lisboa" da Amália (sinal de encerramento da pista), começava a festa para os felizes que tinham arranjado companhia. A dona Emília lá ia fazendo a selecção à entrada e com olhar entre o severo e o protector, exigia a uns o pagamento dos cem escudos de ingresso e a outros mais novos, o simples comprovativo da idade. Não brincava em serviço! Estava à porta do Bric desde a sua abertura em 64 ou 65, nos tempos em que Salazar ainda era chefe do governo. Por lá passaram curiosos da PIDE, patrulhas do COPCON, jeeps atascados de tropas que fardados entravam para uma cerveja. Tudo na maior! Se excluirmos uma meia dúzia de bichettes de antologia, aquilo era um ambiente de e para homens, nada de comparável às licradinhas trumpettes e chiadenses de hoje. O Disco Sound era ensurdecedor e as habilidades dançantes de alguns davam ainda mais colorido ao ambiente. Sentia-se um ar de certa decadência com bom gosto viscontiniano. Paredes forradas de tecido cor de vinho, espectaculares espelhos de talha dourada, gravuras e mobiliário em madeira. Um clube quase inglês para português ver.
Numa daquelas noites de fim de semana, estava com um grupo à porta, esperando a vez para entrar. No momento em que a Dª Emília assentiu com o costumeiro sinal afirmativo com a cabeça, o Maneka deu o primeiro passo, chocando com um senhor calvo que também queria iniciar em beleza o fim de semana. No entra-não entra, o Maneka olhou o rival com deferência e fazendo uma vénia disse:
-"Primeiro o clero, depois a nobreza"...
e depois, com um depreciativo abanar da mão, em direcção à longa fila na rua:
..."e infelizmente, depois, o povo...Pfffffff"...

O senhor em questão, era um conhecido membro da diocese lisboeta. Outros tempos, outras gentes.

3 comentários:

Paulo Pedroso disse...

A Revolução, quando (se) veio, também (se) veio para o Clero!

:-))

Graças a Deus que sou ateu e nunca tive nenhuma vocação dessas porque "Deus sabe" que eu não ia aguentar tanta "fome".

Anónimo disse...

É com indignação que vejo aqui uma referência ao Cónego Melo. Basta clicar com o botão direito do rato e a verdade toda aparece

Anónimo disse...

Sidosas de todos os mundos, entrai no meu templo!

Aqui:

vicentinasdebraganza.blogspot.com

A verdade a que temos direito.