quarta-feira, 25 de junho de 2008

Correio da Lola - Novo Código do Trabalho

Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas

Querida Lola:
Estou lavada em lágrimas. Trabalho no Vale do Ave, isto é um deserto, só patrões pedófilos, e carros topo de gama. Quando chega a noite, a única luz que se vê por estas bandas é o meu posto de trabalho. Sou uma escrava, com 400 € po mês, e quando chego a casa ainda tenho de apanhar do meu marido, ser vítima de "bullying" do meu filho hiperdotado, e ter tempo para satisfazer oralmente o meu amante, que mora aqui mesmo ao lado. Com o Novo Código do Trabalho, de 65 horas, não sei se vou conseguir fazer isso tudo. Que acha que faça: que fuja para España?...
(Catarada Eufêmea, Vale do Ave)
Querida Catarada:
Não tenho nada contra o Novo Código do Trabalho, é uma coisa moderníssima, que tanto podia ser aqui, como no Zimbabwé, em Cuba, em Bombaim ou no Shechuan... Querida, 65 horas... sei lá, no meu ramo é coisa que nem me pesa muito. Já andam esses sindicalistas a lanzoar, a lanzoar, que vão acabar as horas extraordinárias, por amor de deus, todas as minhas horas começaram por ser extraordinárias, só o com o tempo é que as fui tratando como banais, mas imagine como é que eu podia explicar a uma mãe séria, de família, raça em extinção, o que faço durante a noite, vãos de escada, faça chuva, faça vento, às vezes com os joelhos em cima de cacos de garrafas de cerveja, porque o árbitro quer que seja mesmo ali, na sombra do vidrão, as costas todas arranhadas pelas cascas das árvores, às vezes com os saltos todos atascados em lama, quando saltamos a vedação dos quintais das velhas dos gatos, para eu ser comida no meio das hortaliças... querida, se eu tivesse sido ouvida como parceira social, nas negociações do Novo Código do Trabalho, não era a CAP e a CGTP que tinham abandonado a mesa, eram todos eles a fugir, num salve-se quem puder, benzó-deus, há vidas que realmente... Quanto a ir para España, é uma opção de fundo: as suas colegas, mal fecham as fábricas, acabam todas na berma da estrada, à espera de Espanhóis que gostam de porcarias que as mulheres não fazem em casa; se for para España, acaba numa casa de alterna, ao pé das outras, a satisfazer Portugueses, a quem as mulheres de bigode não lhes dão as porcarias de que eles tanto precisam. É tudo uma questão de saber com que língua quer que fale a sua boca da servidão. Linguística pura, querida, e nada de trabalhar...

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